CAPÍTULO 9 - "O Javi já não pode ser teu namorado, mana!"

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(Ana)
- Claro que posso! Tu és meu amigo. Um dos meus sonhos é que tu e a minha irmã sejam namorados!
Eu não podia acreditar! O Simão não tinha dito aquilo. Não podia! O que fazia agora? Nem conseguia olhar o Javi. E ia corar em 3, 2... Ouvimos a porta a abrir e o Simão saltou do sofá:
- É a mana!
O Simão correu para a porta e eu aproveitei para dar uma palavra ao Javi:
- Desculpa. O Simão às vezes é um pouco...muito inconveniente.
- Não faz mal. É só uma criança. - desvalorizou com o seu sorriso viciante.
Felizmente, a Adriana entrou com o Simão ao colo e também com o Axel, cortando aquele ambiente pesado e estranho.
- Javi, por cá? - perguntou a minha irmã, lançando-me um olhar satisfeito.
- A mana e o meu amigo fizeram um dói-dói e, por isso, viemos para casa.
- O teu amigo? - perguntou a Di.
- Sim, não é fixe? Mas, ó mana, este não é aquele jogador do Benfica que o pai está sempre a dizer que está em todo o lado?
Rimo-nos da descrição do meu irmão.
- Sim. Simão este é o Axel. Axel este é o Simão, o meu irmão.
- Mana, eu sou teu irmão e o Axel é teu quê?
Soltei uma gargalhada bem audível.
- Vá, Adriana, explica lá...
- És mázinha...
- É de família!
- Simão, o Axel é... é...um amigo especial.
O Simão levou as mãos à boca.
- É teu namorado - disse, rindo-se - Que fixe!
- Estou a ganhar - brinquei.
- Mana - virou-se para mim - agora só faltas tu e o Javi!
- Empate! - rejubilou a Adriana.
- Vocês estão estranhas! - queixou-se o Simão, devido às nossas conversas "entrelinhas" para depois saltar rapidamente do colo da Adriana e correr até não sei onde, voltando num ápice - Axel - aquele miúdo, vergonha não tinha nenhuma! Conhecia o Axel há 30 segundos mas já o tratava como se o conhecesse há anos - podes fazer aquela coisa - olhou o Javi - oh não me lembro. Escreve o teu nome!
- Simão... - chamei-o à atenção.
- Se faz favor - corou um pouco.
- Autógrafo - disse o Javi.
- É isso! - estendeu a bola ao Axel, que largou um sorriso e fez a vontade ao Simão.
- Obrigado! - rejubilou, olhando a bola - Mas onde é que vocês aprenderam a escrever? Que letra feia!
Fomos incapazes de rir perante esta observação do meu irmão.
O meu telemóvel tocou e eu ainda me tentei esticar até à mesa de centro, mas o Javi antecipou-se.
- Obrigada.
Era a minha mãe. Pedi silêncio e atendi.
- Mãe?
- Olá, filha. Então está tudo bem?
- Sim, está tudo bem.
- Estás em casa da tua irmã?
- Sim. Resolvemos vir para aqui depois de estarmos no parque.
- Então, eu vou passar por aí para ir buscar o Simão.
- Agora?! - a minha voz não foi capaz de esconder o meu pânico.
- Sim. Porquê? Passa-se alguma coisa?
- Não, não. Só não estava à espera.
- Hum tudo bem. Em 5 minutos, estou aí. Até já.
Desliguei e lancei o alarme:
- A mãe vem para cá AGORA!
- Merde! - deixou a Adriana escapar - Pardon - pediu de imediato - Ok tens de ir embora - disse ao Axel.
- Já - completei.
- Afinal o que se passa? - perguntou o Axel.
- Resumindo: eu e a Di somos supostamente muito novas para namorar, principalmente com jogadores de futebol. Como é o vosso caso - esclareci de imediato. A frase anterior tinha dado a entender que eu também namorava com um jogador de futebol o que não era verdade pois... Continuando! - Jogadores de futebol, esses monstros que despedaçam corações e que todos os dias arranjam uma nova namorada. - ironizei, fazendo ver o ponto de vista dos meus pais.
- Então eu não gosto do Axel - disse o Simão - e o Javi já não pode ser teu namorado, mana!
- Simão! - repreendi-o.
Vi a minha irmã puxar o Axel até à entrada, onde se devem ter despedido. Ela voltou rapidamente, levando o Simão com ela, com a desculpa de que ele tinha de tomar banho, deixando-me assim a sós com o Javi. Pela primeira vez, estávamos sozinhos após aquele estranho momento de proximidade.
- Bem, é melhor eu ir embora antes que a tua mãe chegue - acabou o Javi por dizer.
- Pois. Desculpa esta confusão toda - pedi.
- Ana, tens de te mentalizar que nem tudo o que corre menos bem é culpa tua.
Larguei um sorriso tímido e ele passou-me a mão pela face, deixando-me nervosa. Trocamos um fugaz olhar, para ele depois se levantar, levando-me a fazer o mesmo.
- Cuidado com o pé - alertou-me.
- Depois dá-me novidades sobre a mão - pedi - E obrigada...por tudo.
- Obrigado eu.
Ele sorriu-me para depois dar-me um beijo na testa que me deixou a levitar. Vi-o sair e depois deixei-me cair sobre o sofá.
- Conta tudo! - gritou a minha irmã, entrando na sala.
- Que susto! Estás parva? Ias-me matando!
- Oh vá lá! Conta tudo.
- O Simão?
- Está a comer para variar. Agora desembucha.
- Resumindo: fui ao parque com o Simão, o Javi estava lá, cumprimentou-me, o Simão perguntou se namorávamos - ela riu-se - não teve piada, maninha. Mas continuando: o Rodrigo apareceu...
- Não posso...
- O Simão atirou-se a ele.
- Conta mais!
- O Rodrigo pediu para falar comigo. O Javi acabou por afastar-se com o Simão para dar-nos privacidade. Obviamente que o inevitável aconteceu: começámos a discutir, mas ele exaltou-se e tornou-se agressivo.
- Ele bateu-te?! - perguntou preocupada.
- Não. Agarrou-me o braço e o Javi viu e apareceu.
- Ai não pares!!!! Como acabou isso?
- O Rodrigo atirou-me para o chão, foi assim que consegui este lindo entorse - apontei para o meu pé - e o Javi...ele...deu-lhe um murro.
- Não... Ai ele está apanhadinho por ti.
- Ai Adriana! não digas asneiras. Não devíamos falar com o Simão?
- Pois. É melhor não ser eu.
- Claro... - isto era típico. Quando a Di achava que não conseguia, passava-me a batata quente. Irmãs mais velhas. Sempre a dar o exemplo... - Eu vou lá.
- É melhor ele vir cá - disse-me olhando o meu pé.
- Que seja!
Ela levantou-se e pouco tempo depois o Simão apareceu.
- Mana, a Di disse para eu vir aqui.
- Senta-te - bati com a mão no lugar ao pé de mim e o Simão fez o que lhe pedi - Simão, temos de falar sobre o Axel e sobre o Javi.
- Mana, eu sei que tu e a Di me escondem as coisas! Digam-me a verdade! - pediu.
Respirei fundo.
- Tudo bem. Mas tens de guardar segredo, senão está tudo estragado e muita gente vai ficar muito triste, ok?
- Sim - disse com um ar sério.
- A Di namora com o Axel.
- E ele vai tratar bem dela? - perguntou num tom carinhoso e protetor.
- Sim, mas tens de guardar segredo - disse-lhe.
- Porquê?
- Porque... Sabes às vezes temos de guardar alguns segredos.
- Ok eu guardo! - sorri-lhe - Mas e o Javi? Vocês também namoram? - perguntou em tom esperançoso.
- Não, Simão. E não podes dizer-lhe que o teu sonho é que namoremos - adverti-o.
- Porquê?
- Simão, porque não se escolhe o namorado. O amor acontece.
- Então pode acontecer entre vocês!
- Não é assim tão simples - tentei explicar.
- Oh... - disse desanimado.
- O Axel e a Di namoram e eu e o Javi somos amigos. Tens de guardar estes dois segredos, percebido?
- Ok mana - disse, dando-me um beijo na face.
Passamos os minutos a seguir a ver televisão. Depois a minha mãe apareceu e levou o Simão.

(Javi)
Conduzi até a casa com aquela tarde na mente. Não sei explicar o que senti quando vi o ex-namorado da Ana atirá-la para o chão. Senti o impulso de a proteger como se ela fosse a coisa mais importante da minha vida.
Cheguei a casa e por muito que o meu irmão me tentasse chatear, acabei por ignorá-lo e ir para o quarto. Como já era normal, pensei na María. Mas, pela primeira vez, a Ana ganhou mais espaço na minha mente que a María, o que me assustou.
Pousei a cabeça na almofada e deixei-me adormecer, assim já não pensava. Apenas sonhava.

***

Hoje acordei com a cabeça num turbilhão. Sonhei toda a noite. O meu quase beijo à Ana aparecia milhares de vezes na minha cabeça sem que o pudesse controlar. Se o Simão não tivesse aparecido, o que teríamos feito? Eu teria sido capaz de trair a María? Todos os meus pensamentos foram interrompidos pela nossa música. O meu telemóvel estava a tocar, estiquei o braço e apanhei-o da mesinha de cabeceira.
Era a Ana. O meu coração disparou. Primeiro, era a Ana que me estava a ligar, depois era estranho. Porque me ligaria? Normalmente falávamos por mensagens. Fiquei nervoso. Teria acontecido algo grave? Será que ela estava mal?

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