CAPÍTULO 12 - "Ela se tiver saudades vai ao CFC fazer-te uma visita"

6 0 0
                                    


(Javi)
Tinha levado a Ana ao CFC para ser observada. Felizmente, era apenas um entorse que com descanso acabaria por sarar. Já de saída, encontramos grande parte do plantel e ainda o Ruben que estava de visita e aproveitou para deixar a sua piadinha. Acabei por brincar com a situação, o que deixou a Ana envergonhada. Ofereci-me para a levar a casa e após alguma "discussão" lá a convenci.
Já no nosso destino, ela convidou-me a almoçar e aceitei. Sentámo-nos no sofá da sala e fomos conversando, com muito boa disposição à mistura.
Contudo, um dos seus caracóis atravessou a sua face e eu não resisti a levar a mão a ele, desviando. Não sei porquê mas naquele momento algo me prendeu a ela. Os olhos dela eram como um chamariz para mim. Por muito que tentasse, ignorá-los era-me impossível. A sua boca atraía a minha de uma maneira que eu não conseguia nem queria controlar. Levei a mão à sua face e percebi que tinha medo que ela recuasse e que, por isso, estava a querer prendê-la a mim. Tinha a mente vazia e sentia o meu coração estranhamente acelerado como que tivesse de apressar o momento antes que o mundo mo tirasse. Continuei a aproximar-me dela, enquanto a Ana se mantinha imóvel. Contudo não o interpretava como um sinal negativo, pois sentia-a nervosa, na expetativa, como se tivesse medo de me afugentar. Acabámos por fechar os olhos e conduzir-nos pelo calor um do outro, mas assim que os nossos lábios se tocaram, alguém entrou em casa.
- Ana, Adriana, están en casa? - ouvi uma voz feminina gritar desde o corredor.
A Ana afastou-se de mim num salto.
- É a minha mãe - sussurrou-me - Tens de te esconder já!
- Onde?
- Em qualquer sítio, Javi! - segredou aflita.
Eu levantei-me e segui para a cozinha, que tinha ligação ao corredor.

(Ana)
Era preciso ter azar! Tão perto e a minha mãe tinha de aparecer! Mandei o Javi esconder-se e fui receber a minha mãe ao corredor.
- Estou aqui, mãe - disse, chegando ao pé dela.
- Calma - pediu-me - Bastava dizer-me onde estavas. Pareces preocupada - isto de esconder coisas à minha mãe era uma missão quase impossível - Ana, há rapazes aqui dentro? - perguntou desconfiada e nada agradada com a ideia.
- Oh mãe! Até parece que não me conheces! Claro que não há rapazes aqui. Eu estava a ouvir música com os phones e já te ouvi tarde. Vim ter contigo porque pensei que já te estivesses a ir embora.
- Ah desculpa - a minha mãe acima de tudo reconhecia os seus erros.
- Não faz mal. Mas não vamos ficar no corredor, não é? Entra! Vamos para a sala. - tentei parecer descontraída e sem nada a esconder.
Sentámo-nos no sofá e ofereci algo à minha mãe:
- Queres tomar alguma coisa?
- Não, não me apetece nada.
- E porque vieste cá?
- Ui tanta vontade de ver a tua mãe!
- Não é isso - recusei - Mas não é usual visitares-nos. Costumámos ser nós a ir lá a casa.
- Menina, não te esqueças que estás em casa da tua irmã provisoriamente! Não te habitues! - aconselhou-me.
- Eu sei. Mas afinal passa-se alguma coisa? - quis saber.
- Tem a ver com a mudança de casa - olhei-a na expetativa - Não vamos ficar em Lisboa - a minha cara deve ter mostrado todo o pânico que me assolava - Calma, filha - pediu-me - Vamos apenas para um condomínio na margem sul.
- Um condomínio? - fiquei admirada com tal coisa.
- Sim. Digamos que o novo contrato do teu pai tem uma moradia de um condomínio de luxo como...aliciante.
- Condomínio de luxo? Mãe, vou ficar tão longe de tudo!
- Eu sei, filha. Mas tem calma.
- Começamos com as mudanças quando?
- Daqui a duas semanas já lá estaremos.
Aquela ideia não me agradava. Separar-me de tudo iria costumar-me muito.
- Eu vou-te buscar um copo de água - ofereceu-se, levantando-se para ir até à cozinha. Só depois me lembrei...
- O Javi... - sussurrei. Levantei-me num ápice e aí lembrei-me - Au! Porcaria de pé! - barafustei. Peguei nas muletas e fui o mais rápido possível para a cozinha. Surpreendentemente não havia rasto de Javi em lado nenhum.
- Precisas de alguma coisa, filha? - perguntou a minha mãe - Eu já lá ia.
- Vinha buscar...uma cola. Prefiro cola.
- Ok tudo be... - o telemóvel tocou e percebi pela conversa que ela teria de felizmente ir-se embora. Despedimo-nos e eu acompanhei-a à porta, observando atentamente todos os cantos por onde passávamos, procurando o Javi. Assim que a minha mãe saiu, procurei de imediato o Javi. Confesso que não sabia como seria reencontrá-lo depois daquele...incidente. Eu ia beijá-lo! Fui novamente à cozinha, voltei à sala, fui à casa de banho e nada! Continuei a procurá-lo e encontrei-o no meu quarto, sentado ao piano.
- Tocas piano? - perguntei-lhe, mesmo ainda antes de ele se aperceber da minha presença.
- Que susto - disse, levando a mão ao peito.
- Pelo menos não ficas agressivo quando te assustam - brinquei, o que originou risos entre nós - Desculpa, não queria assustar-te - disse, sentando-me ao pé dele.
- Não tem importância - disse-me com um daqueles sorrisos pelo qual eu daria a vida - A tua mãe?
- Já foi embora.
- Ah e ela não desconfiou de nada? - perguntou preocupado.
- Desconfiou ao princípio mas dei-lhe a volta.
Ele sorriu-me e seguiu-se um silêncio aterrador. Seguramente que aquele momento na sala tinha sido constrangedor e moralmente errado. Eu não o conhecia sequer há uma semana!
- E tu? Tocas piano? - perguntou-me, tentando quebrar aquele silêncio.
- Sim, toco. Toco desde os 5 anos - percebi a surpresa nos seus olhos - Os meus pais sempre foram muito preocupados com a nossa educação e por isso apoiaram-me quando quis começar a tocar.
- Só tocas piano?
- Não. Também toco viola e tive aulas de canto.
- Uau... Posso ouvir-te cantar?
- Não - corei - Estive pouco tempo no coro porque não conseguia lidar com todos os olhares. Eu era a solista principal. - contei-lhe, envergonhada - Desisti há 4 anos atrás. Era muita pressão.
- Então não vais cantar para mim? - perguntou desiludido.
- Nop...
- E tocar? - disse olhando o piano.
- Ok, posso tocar um pouco - ele abriu um grande sorriso que incitou um grande nervosismo em mim. Respirei fundo e pensei no que tocaria. Olhei o Javi e a "A Thousand Years" da Christina Perri, pareceu começar a tocar dentro de mim. Olhei o piano e comecei a tocar.

(Javi)
Fiquei impressionado quando a Ana me contou que já tocava desde os 5 anos, mas quando começou a tocar fiquei arrebatado. Ela era genial! Fiquei de tal forma boquiaberto, que quando ela me olhou acabou por corar.
- Tu és... - tentei dizer.
- Normal - completou erradamente.
- Normal? - perguntei indignado - Tu és fantástica! Tu...Uau, eu não tenho palavras.
- Ai Javi, vamos fazer o almoço antes que morra de vergonha! - pediu corada.
Ajudei-a a levantar-se e fomos para a cozinha. Enquanto ela se centrava no fogão, eu ia vasculhando a cozinha à procura do que me pedia. Demorámos mais do que o previsto, mas o almoço estava ótimo. Conversámos animadamente, deixando para trás o que se tinha passado na sala. Não podia perder uma pessoa espetacular como a Ana, uma amizade a tentar nascer por algo que eu não estava preparado para viver!
Acabamos por passar parte da tarde no sofá a conversar. Com a Ana parecia que os assuntos não acabavam. Era tão bom e fácil falar com ela. Perto das quatro da tarde, achei melhor ir-me embora.
- Bem, acho que vou indo. Importas-te que antes vá à casa de banho? - perguntei-lhe.
- Claro que não! É a segunda parte à direita.
- Gracias.

(Ana)
Enquanto o Javi foi à casa de banho, a Adriana chegou a casa.
- Cheguei! - disse, atirando-se para o sofá.
- Como correu o dia?
- Foi cansativo! Tive aulas de manhã, almocei com o Axel e agora estive no Colombo à procura de um presente de aniversário para o Simão.
- Eu esqueci-me! - alarmei-me - É já sexta!
- Boa e eu a pensar que tinhas arranjado alguma coisa!
- Ana, já vou - disse o Javi, entrando na sala.
- Javi, por aqui? - perguntou num tom insinuante.
- Olá - disse, aproximando-se da Di e dando-lhe dois beijos - Bem, adeus.
- Porque não ficas cá mais um pouco? - convidou a Di num tom provocatório.
- Tenho treino daqui a uma hora - justificou-se o Javi.
- Claro. Ela se tiver saudades vai ao CFC fazer-te uma visita - atirei, olhando a Di.
- Bem, adeus - despediu-se dando dois beijos à Di e outros dois a mim.
- Eu acompanho-te à porta - ofereci-me.
- Não é preciso. Descansa o pé - aconselhou-me. Deu-me um beijo na testa e saiu. Um beijo na testa!
- Uau...as coisas vão evoluídas... - picou-me a Ana.
- Ai Adriana não digas asneiras - pedi-lhe.
Continuamos naquela conversa sem rumo, mas acabamos por dispersar. Obviamente que não lhe contei do quase beijo, muito menos que já era a segunda vez que tal acontecia.
Jantámos e no fim ela ofereceu-se para arrumar a cozinha, visto a minha debilidade física. Aproveitei e fui deitar-me. Estava com as emoções ao rubro.

***
Acordei estranhamente bem-disposta.
Levantei-me, espreguicei-me e sorri para o espelho. Tratei de mim e vesti uma roupa fresca.
Fui até à cozinha, acompanhada das minhas "amigas", preparei o meu pequeno-almoço e como a Di apareceu, pedi-lhe que me ajudasse a levá-lo para a varanda. Tomámos o pequeno-almoço juntas olhando o rio. O dia estava lindo. A Di acabou por sair para a universidade, mas eu deixei-me ficar ali, observando a bela Lisboa. Cidade linda sem dúvida alguma. Estava já à varanda há algum tempo quando tocaram à campainha. Fui abrir e encontrei um estafeta. Assinei o que ele me pediu e ele entregou-me uma caixa, destinada a mim. A curiosidade foi tão grande que abri a caixa ali mesmo e quando a abri:
- Eu não acredito...

Give Me LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora