CAPÍTULO 5 - "Nunca pensaste em como te suicidarias? "

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(Ana)
Resolvi responder ao Javi, já que notava alguma ansiedade nele.
- Eu... - comecei por dizer para ser imediatamente interrompida.
- Ana! - ouvi o Pedro chamar-me para ser imediatamente a seguir arrebatada por ele - Consegui!
- Ai Pedro! Põe-me no chão! - ele fez de imediato o que pedi. Olhei para o Javi que estava surpreendido com tudo aquilo. Fiz o que achei mais sensato - Pedro, vai até lá fora apanhar ar, enquanto eu termino um assunto, pode ser?
- Pode. Graças a ti, consegui! - deu-me um beijo eufórico na cara e deixou-me a sós com o Javi.
- Desculpa...isto. O Pedro está...
- Apaixonado - completou-me - Não tem importância. Ele está apenas...radiante. Acontece a todos - Aquele homem era surreal, tão...compreensivo. Agora eu tinha a certeza da resposta que lhe daria.
- Quanto ao jantar - abri um sorriso tímido - eu aceito.
- Ainda bem. Então vamos? - perguntou entusiasmado.
- Acho que antes era bom mudarmos de roupa - ri-me.
- Sim, tens razão - soltou uma gargalhada - Queres que te leve a casa? - Quê?! Casa? Como? No carro dele? Sozinhos? Não!
- Não é...não é...preciso. O Pedro leva-me... - acho que gaguejei e bastante!
- Mas assim não vou saber a tua morada para te ir buscar... - ele parecia muito calmo e atento em ter a certeza que este jantar aconteceria.
- Encontramo-nos no restaurante.
- Se preferes assim, por mim, está tudo bem. Mas onde queres que nos encontremos? - Boa, nisto em não tinha pensado!
- Conheço um restaurante fantástico perto do Tejo, o Pé No Tejo.
- Também conheço. É muito bom, concordo. Então encontramo-nos lá daqui a... - olhou o relógio - uma hora. Está bom para ti?
- Sim, está. Então...até já!
Corri hotel fora antes de ele se conseguir aproximar e despedir-se com dois beijos. O Pedro esperava-me encostado à sua mota. Percebi que estava em êxtase. Aproximei-me e logo que me viu, correu a abraçar-me e a saltar comigo ao colo. Depois acabou por acalmar-se e contar-me o que se tinha passado. Confesso que estava um pouco distraída, pois o Javi saiu do hotel e abriu-me um grande sorriso, que não consegui deixar de retribuir. A partir daí, mesmo que ele já tivesse arrancado no seu carro, não consegui voltar a concentrar-me no que o Pedro me contava. Contudo, lá apanhei os traços essenciais da história: ele e a tal Marta estavam juntos e felizes. E se o Pedro estava feliz, eu também o estava. Ele acabou por deixar-me em casa, sem antes mandar uma ou duas bocas do género "a lagarta vai sair com o lampião" ou "se as 'lampionas' descobrem que é uma lagarta que está a fazer o Javizinho delirar". Nem lhe respondi, entrei em casa e...em má hora.
- Adrian... Ups!
A Adriana estava aos beijos com o Axel no sofá da sala. Tapei de imediato os olhos.
- Ana, isto era completamente inocente - disse-me de imediato a Adriana.
- Olá - disse-me o Axel.
- Pois...olá... Eu precisava da tua ajuda, Di, mas acho que me desenrasco sozinha. Não se incomodem.
- Não, eu ajudo-te.
- A sério, não é preciso.
Segui rapidamente para o quarto, mas logo que fechei a porta, ela tornou a abrir-se para ver a Adriana entrar.
- Deixaste o Axel envergonhado - disse-me.
- Vocês estavam a comer-se no sofá, Di - ela já sabia que, por vezes, eu era excessivamente específica.
- Que exagero! - contestou.
- Ele estava deitado por cima de ti em tronco nu! Exagero, Di?
- Sim, exagero. O Axel e eu estamos juntos e eu convidei-o para passar cá a tarde mas numa brincadeira estúpida acabei por molhar-lhe a t-shirt toda e ele teve de a tirar. E estávamos só a beijar-nos. Eu não me iria envolver com ele no nosso primeiro dia de namoro, Ana!
- Namoro?
- Yup - abriu um grande sorriso, enorme até - Quando ele ia a acabar com a namorada, ela acabou com ele, porque se estava a apaixonar por outro rapaz - abri a boca de espanto.
- God! Que história! E agora estão juntos?
- Sim, resolveu-se tudo!
- Ainda bem! Fico feliz por ti! - abracei-a.
- Mas tu precisavas da minha ajuda porquê?
- Vou jantar com o Javi.
- Ai não acredito. Isso é fantástico!
- Di, calma com o entusiasmo. - pedi-lhe.
- Vou-te escolher a roupa! - ofereceu-se, começando a vasculhar no meu armário - É este! - retirou um vestido branco em renda que eu achei demasiado...arrojado.
- Di, esse é um bocado...forte. Ele ainda pensa que me estou a fazer a ele!
- Ai deixa de ser parvinha! Este é perfeito! Veste-o!
Fiz o que ela pediu, enquanto ela procurava por sapatos, mala, acessórios, enfim! Ter uma irmã estilista era um desafio!
Enquanto ela continuava naquela "maratona de moda", fui até à casa de banho, onde me penteei e maquilhei. De volta ao quarto, a Di já tinha tudo escolhido e apenas faltavam 10 minutos para a hora combinada, o que significava que eu estava atrasada. Ainda tinha de caminhar até ao Pé no Tejo. Apressei-me a vestir o blazer e a calçar-me.
Nem questionei as escolhas da Di, nem valia a pena, nem eu tinha tempo para isso.
Despedi-me da Di com um beijo no rosto, antes de ela me dar um...conselho:
- Age normalmente. As pessoas normais cumprimentam-se com dois beijos, porque normalmente o seu coração não dispara.
Olhei-a e nem tive coragem de lhe responder.
Sai do quarto e à passagem pela sala, despedi-me do Axel, que já tinha arranjado algo para vestir.
As ruas estavam movimentadas, face à noite relativamente quente que se apresentava. Tentei apressar-me, mas estes saltos, apesar de bonitos, não eram propriamente indicados para esta tarefa. À hora combinada, ainda estava a uns bons 10 minutos do local. Comecei a acelerar o passo e rapidamente avistei o nosso ponto de encontro e quanto mais avançava mais perfeitamente vislumbrava o Javi. Cada vez mais próxima percebi que ele olhava impacientemente o relógio. Andava de um lado para o outro realmente ansioso. Quando me viu, abriu-me o seu melhor sorriso (isto se fosse possível eleger o melhor) e veio na minha direção.
- Olá! Ainda bem que vieste - disse-me enquanto ainda faltavam uns 3 metros para percorrer.
- Eu não falto aos meus compromissos - sorri-lhe, agora já junto dele.
Vi-o baixar-se para me saudar com dois beijos e percebi que tremia de alto a baixo. Recordei as palavras da minha irmã e não me afastei. Quando senti a face dele tocar na minha pensei que iria morrer. A minha respiração ficou tão ofegante que julguei precisar de uma garrafa de oxigénio. Contudo, se tivesse de escolher entre o oxigénio e aquele momento, escolhia sem dúvidas o segundo. Senti primeiro a pele (e a barba) dele na minha face direita, para depois se dirigir à minha face esquerda, sem antes os nossos olhos se cruzarem com uma energia inexplicável e dos nossos narizes quase se tocarem. Se o beijo na face direita tinha sido um beijo banal, um encostar de faces, o beijo na face esquerda foi um verdadeiro beijo, em que senti os lábios do Javi alcançar a minha pele. O meu coração descontrolou-se de tal forma que não duvidei que o Javi o estivesse a ouvir.
- Entramos? - perguntou-me, apontando para o restaurante.
- Claro - sorri-lhe e maldita a hora em que o fiz! O Javi retribuiu-me aquele sorriso e senti-me estremecer de tal forma, que até pensei que a catástrofe de 1755 estaria a repetir-se.
Entramos e percebi que não era a primeira vez que o Javi lá ia. Já o conheciam tal como ele conhecia os cantos à casa. O empregado conduziu-nos até a uma mesa ao pé de uma enorme janela, de onde podíamos abismar-nos com a beleza do Tejo ao anoitecer. Percebi que o Javi tinha reservado aquela mesa, pois eu nunca tinha conseguido aquele lugar. Estava a maravilhar-me com aquela paisagem e o Javi apercebeu-se disso.
- É magnífico - disse-me.
- Sem dúvida.
- Porque olhas fixamente para a ponte? - perguntou-me visivelmente curioso.
Olhei-o surpreendida. Como é que ele tinha percebido que eu olhava a ponte? Dava assim tanto nas vistas?
- Os teus olhos estavam a refletir a luz da ponte - explicou-me - Acredita que a ponte também fica linda refletida nos teus olhos - obviamente que corei. Quem não coraria?! - Desculpa. Não queria envergonhar-te. Mas certamente não é a primeira vez que te falam dos teus olhos - disse-me convicto.
- Ou é...
Ele olhou-me surpreendido.
- Estás a falar a sério? - perguntou-me.
- Sim, estou. Sabes, eu...não costumo sair com homens - expliquei-lhe - costumo sair com putos - vi que não percebia onde eu queria chegar - Os putos - continuei - veem a minha beleza no meu rabo, no meu peito, nas minhas ancas. Dão tanta importância aos meus olhos que nem se apercebem que eu sei bem para onde olham...
- Então, não devias sair com putos - disse-me - Arranjas melhor companhia, não?
- Talvez - admiti.
- Mas não me explicaste: porque olhas fixamente para a ponte? - tornou a perguntar.
- Nunca pensaste em como te suicidarias? - perguntei-lhe. Vi o choque e a surpresa estampados na sua cara e provavelmente, neste momento, achar-me-ia uma louca suicida.

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