Lutando

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Pov. Theo

Assim que desembarco, procuro o local mais próximo que eu possa me hospedar. Ou melhor, um local onde eu possa jogar as minhas bagagens e sair para procurar ela. Foram alguns minutos de carro de Los Angeles, até o pequeno subúrbio de Simi Valley, local onde a Shai nasceu e onde a sua mãe ainda mora. Simi Valley é um lugar tranquilo, as crianças brincam na rua e muitos nem se importam em trancar as portas. Aqui tudo é cercado pela natureza, provavelmente isso tenha despertado o espirito aventureiro de Shai.

Dirijo até a sua casa e não fico surpreso quando encontro a grande porta de madeira destrancada. Através das janelas de vidro, procuro a mulher que me deixou sozinho na Espanha, mas não encontro ninguém. Então resolvo cometer o crime de invadir a residência, entrar e esperar.

É incrível como tudo na casa grita o seu nome. O chão feito em madeira, as plantas dentro e fora do ambiente e as enormes janelas de vidro, que deixam o sol invadir todos os cômodos e revela todas as montanhas e vales que cercam a pequena cidade. Apesar grande, a casa carrega uma certa simplicidade. Eu não fiquei surpreso em não encontrar em nenhum lugar um objeto ou aparelho exageradamente tecnológico e caro.

Eu sei que ela está aqui, então espero. Em nenhum momento desde que soube que ela foi embora, eu pensei em algo. Não ensaiei o que pretendia falar ou imaginei a reação dela ao me ver, tudo foi instintivo, eu sabia que não poderia perdê-la e tudo que eu fiz até agora foi sob esse pensamento.

Escuto o som da porta se abrindo e engulo em seco.

- O que você quer?

Ela carrega um saco de compras e usa uma blusa de  moletom velho sob um pequeno short rasgado, e então eu percebo o quanto ela combina com esse lugar. Shai sempre revirou os olhos e fez pouco de quem passa horas em frente ao espelho se maquiando ou procurando o vestido mais caro, talvez por saber que até um moletom rasgado a deixa incrível.

E apesar de me encarar com raiva, não a raiva comum de quando nós discutíamos por bobagens, mas uma raiva diferente, unindo ressentimento, repulsa, desprezo, coisas que nunca tinha visto nela antes. Mesmo me olhando assim, eu ainda posso dizer que eu nunca fiquei tão feliz em vê-la.

Pov. Shai.

Senti um frio na barriga assim que encontrei ele parado no meio da minha sala, me encarando como se sentisse muito. Não era um frio na barriga bom, e sim uma sensação incômoda. Esse era o único lugar no qual ele não tinha entrado, o único lugar no qual eu não tinha nenhuma lembrança dele. Por isso vim pra cá, para o lugar onde eu cresci. Mas então ele aparece e traz consigo todas as sensações desagradáveis que eu tentei deixar em Madrid.

- Shai você entendeu... – interrompo-o e abro a porta.

- Por favor Theo, vai embora. As responsabilidades de um mês já acabaram e você não é mais obrigado a fingir.

Ele anda até a porta, mas ao invés de sair, ele a fecha.

- Eu não ligo se você me expulsar, me atirar esses jarros de plantas ou cobrir os ouvidos só para não me escutar, Shailene. Eu vim pra falar e é isso que eu vou fazer agora.

- Sempre tão arrogante! não importa o que você faça, sempre acha que tem o direito de ser ouvido e de ter todos os holofotes voltados pra você. Theo, eu não preciso mais escutar você, afinal foi por te escutar demais que eu vim embora.

Ele tenta se aproximar de mim e recua. Se eu não conhecesse o tamanho do seu ego, eu diria até que ele está envergonhado. Mas então a sua risada irônica aparece.

- Engraçado isso ter acontecido. É tão clichê! Acontece sempre. Você nunca viu essa história se repetindo? Alguém escutando metade de uma conversa e entendendo tudo errado? Shai eu menti... menti porque achava que era o melhor a se fazer.

Férias com o filósofoOnde histórias criam vida. Descubra agora