Mal-entendido

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Pov. Shai

Espero do lado de fora do quarto do Theo preocupada, já que ele sumiu durante o dia inteiro.

- Quem é? – a sua voz grave vem do outro lado.

- Hum... Shai – tento bisbilhotar ele pela abertura da fechadura da porta, e nesse mesmo instante ele abre, de modo que só o seu rosto fica para fora.

- Shai, eu estou com uma dor de barriga terrível. Você não vai querer ficar perto de mim desse jeito.

- Mas... – e ele fecha a porta na minha cara.

Eu não sou a pessoa mais perspicaz do mundo, mas eu tenho certeza que algo estranho está acontecendo, porque Theodore é tão sutil para disfarçar como uma sirene de ambulância. Algo me diz que não é nada bom.

Ultimamente ele anda agindo de fora muito estranha, me evitando ao máximo e passando tempo demais pelos cantos sussurrando no telefone. Já pensei em vários prováveis motivos que possam estar acontecendo com ele, e a conclusão mais óbvia é que assim como eu, ele também não suporta mais esse lugar, ou pior, talvez ele nem me suporte mais. Eu não o culpo por isso, já que nos últimos dias eu enlouqueci um pouco.

Um pouco.

Acordo com um barulho de passos vindo em minha direção e sei bem quem é, então não me dou ao trabalho de abrir os olhos e me deparar com esse novo Theo que eu não conheço. Esse Theo calado e indiferente.

Meu corpo se mexe um pouco involuntariamente quando ele sobe na cama e deita ao meu lado. Isso me faz lembrar do sonho pornográfico que eu tive com ele no começo das férias.

- Eu sei que você está acordada, Shai. Você não dorme na posição de um defunto, com as mãos entrelaçadas sobre a barriga – a risada dele me faz sorrir também, apesar de eu tentar segurar o máximo que posso.

Assim que constatou o que já sabia, ele se inclina para mais perto do meu rosto, seu hálito quente me deixa alerta disso. Carinhosamente ele espalha beijos por todo o meu rosto, primeiro dando atenção para as minhas bochechas e depois para a minha testa, queixo e pescoço, me provocando uma pequena risada de contentamento. Envolvo os meus braços ao seu redor e beijo demoradamente os seus lábios cheios e irresistíveis. O contraste da sua boca inconfundível com os meus lábios finos e delicados me dão a sensação de nunca estar provando o suficiente dele, de sempre haver mais a ser explorado. Beijar ele nunca era o bastante.

Suas mãos fazem um caminho lento pelos meus cabelos, enquanto me ajuda a completar essa tarefa deliciosa. Então abro os olhos e o observo atentamente.

Talvez eu tenha exagerado sobre tudo.

- Foram eles que me fizeram cair no chão, bem aos seus pés. – ele encara os meus olhos com tanta intensidade que é impossível desviar ou fingir indiferença - Se você soubesse o poder deles, esse mundo estaria completamente perdido.

Quando estou prestes a dizer algo gentil ou fazer algum comentário irônico sobre a sua provável falsa dor de barriga, o celular toca e ele sai cochichando para evitar que eu ouça algo.

Eu preciso saber o que está acontecendo.

Pov. Theo

Atendo o celular incomodado por ter sido interrompido justo agora, quando eu estava com ela.

- Olá Theo – A voz amigável de Lori, a mãe da Shai me desarma completamente. – Querido, eu liguei para avisar que tudo está caminhando perfeitamente. Todos confirmaram que irão comparecer à festa surpresa de Shai. – suspiro aliviado.

- Essa é uma ótima notícia! A Shai vai ficar muito feliz quando todos vocês estiverem aqui. Até porque ela não suporta mais olhar só para a minha cara o dia inteiro – a risada de Lori ao telefone é contagiante, já sei até de onde veio todo o senso de humor da Shai.

Férias com o filósofoOnde histórias criam vida. Descubra agora