Capítulo 10

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Beatriz

Já se passaram três semanas desde meu aniversário.
Mudou alguma coisa?
Não!
Nada.
Continua a mesma coisa, juro pra vocês.
Foram três semanas corridas, cansativas e totalmente diferente do meu habitual.
É projeto escolar aqui, trabalho de português ali, experiência de física acolá, e a merda do teste de química que matou todo e qualquer neurônio que faltava em mim.
Eu não tive tempo nem pra mim mesma. Mas agora, tenho uma semana sem aula, graças à Cristo! Uma paralisação nacional, não sei pra que, e quem paga são os alunos. Pelo menos, assim eu consigo relaxar meus músculos que estão doendo como se eu tivesse levado a pior surra da minha vida. Nada que uma semana de folga resolva.
Uma semana de descanso total.
- Beatriz! Os pratos são seus, venha lavar, e depois vá lavar os banheiros também. - Grita minha mãe.
Nem descansar em paz eu posso.
Matheus chegou, e começou a enxugar os pratos e Drica, que resolveu passar a tarde conosco, colocou tudo em seu devido lugar e nisso jogamos papo fora, falando sobre os assuntos da escola, dos professores loucos, de alguns alunos, entre outras coisas.
Nessas 3 semanas, eu e Drica fizemos amizade com a Paola.
Um amor de pessoa a vadia.
Engraçada, e tem o papo legal, não é cheia de fricote, e não dá vontade de dar um soco na cara dela, diferente de algumas outras garotas dessa escola.
E também escutamos a Janna chorar 50% do tempo e gritar que ela estava grávida de um cara que ela só viu uma vez na vida. Sim, ela está fodidamente fodida. Mas chorar infelizmente não resolve nada, e ela nem tem certeza se tá mesmo grávida, ela tem que agradecer por não ter pego nenhuma DST, isso sim.
O Pedro tá estranho comigo, ou eu tô estranha com ele, não sei, mas algo está muito estranho entre nós dois. Não estou afim dele, por enquanto, e ele não está afim de mim, que eu saiba, então, não entendo qual o problema. Talvez possa ser meu complexo imbecil de achar que todos estão estranhos comigo e me largando, ou talvez ele esteja realmente se afastando. Não sei o que pensar. Tentei perguntar pra Matheus, mas ele disse que o tratamento de Pedro para com ele estava tudo normal e que Pedro não comentou nada sobre mim, só coisas aleatórias do dia-a-dia. Poderia ir lá perguntar pra ele o que aconteceu, mas não agora, deixa eu ver se piora, se piorar eu falo com ele.
Entre Matheus e eu continua como sempre, e como sempre vai continuar, não transamos, só trocamos alguns beijinhos carinhosos de vez em quando.
Briguei com Drica umas trilhões de vezes, como sempre, e ela veio com um papo louco de que eu tô me afastando dela, juro que não sei de onde ela tira isso.
Briguei com minha mãe também. Ela é uma mulher que fica parada no tempo e ainda pensa que eu tenho 10 anos, incrível que pra outras coisas ela não pensa isso. Tivemos uma discussão, com gritos e tudo mais, sobre eu sair sem avisar, sendo que eu fui na casa da Janna, que no caso, é uma quadra depois da minha, e eu ainda voltei no horário certo. Mas pra ela aquilo era o fim do mundo. Não resolvemos nada, fiquei de castigo por uma semana, e sem direito a reclamações. Foi uma semana normal, minha mãe sempre esquece que me colocou de castigo de qualquer jeito.
E isso foi as minhas três últimas semanas. Apesar do cansaço imenso que foi ela, teve como suportar sem chorar nem um dia sequer, nem tive tempo pra isso!
Eu estou confusa, em relação a tudo. Meus dias então sendo puxados, e dias assim me deixam muito pensativa, apesar de não ter tempo nem pra pensar. É estranho tudo isso.
Mas vamos esquecer dos problemas e focar no agora, no eu estou viva e é isso que importa!

Drica começou a falar sobre o namoro dela com o Léo, disse que está pensando seriamente em dar um fim ao relacionamento. O problema é, ela já disse isso trezentas vezes, mas nunca dá um fim, a vontade é de ir lá e eu mesma terminar esse namoro, haja paciência pra esses dois.
- É sério Bia, eu tô com ódio dele, a gente tá brigando tanto esses dias, eu nem sei o porque direito.
- Vei, se separa dele, ficar aí se remoendo não vai adiantar nada - Matheus falou, pela primeira vez desde que começamos o assunto.
- Tá vendo mulher, eu não sou a única que acha isso! Quanto mais rápido você se separar, melhor vai ser.
- Mas eu não sei como fazer iss... - Ela parou no meio da frase olhando pro celular - Só é falar no diabo que ele aparece... O que é Leonardo? - Ela diz atendendo e saindo da cozinha com a cara fechada.
- Você sabe que eles não vão se separar né?! - Matheus diz se apoiando na mesa desenhando o triceps maravilhoso que ele tem.
- Tô ligada disso! Eu tento fazer ela entender que não dá mais certo, mas eles não se desgrudam...
- Entre tapas e beijos, é ódio, é desejo, é sonho, é ternura - minha queridissima mãe, começa a cantar assim que põe os pés na cozinha - Deixa lá, Bia, eles se resolvem! E sua vida amorosa, como anda?
- A mesma merda de sempre!
- Merda? Tem certeza que tá merda?
- Tenho!
- Tá merda porque não tem ninguém, ou porque você quer?
- Os dois, eu acho!
- Mentira! - Matheus fala - Tem muito marmanjo te querendo, você que não quer ninguém.
- Ué, esses marmanjos, - imito sua voz - não são do meu interesse. Nenhum deles me chama atenção!
- Você tem certeza disso? - Ele me olha de um jeito estranho e me pergunto se ele está pensando em Pedro, porque Pedro com certeza não é um candidato, pelo menos ao meu ver, não daria certo!
- Certeza eu não tenho de nada, mas acho que sim. - Digo o encarando e ele desvia o olhar e faz uma cara estranha que eu não consigo decifrar o que é.
- Ah vocês, jovens! Tão complicados. - Minha mãe diz saindo da cozinha e jogando as mãos no ar como se estivesse cansada do assunto.
Vejo Drica, do lado de fora, pela janela da cozinha. Ela está andando de um lado pro outro segurando o telefone na orelha, ela revira os olhos umas 10 vezes em menos de um minuto e afasta o celular da orelha batendo o pé no chão, com uma cara de puro estresse. Percebo que ela começa a se afastar e imagino que ela provavelmente vai pra casa. Sinto duas mãos na minha cintura e é óbvio que eram as mãos do Matheus!
- Esquece ela por um minuto - ele sopra no meu ouvido, e meu lado esquerdo do corpo se arrepia perceptivelmente.
- Ela é minha melhor amiga, não tem como eu ficar bem sabendo que ela não está bem.
- Ela vai se resolver, tenho certeza disso. - Viro o corpo pra poder olhar em seus olhos, mas tomo um pequeno susto, não sabia que ele estava tão próximo. - Conheci uma menina, super legal. Gostaria que você conhecesse ela. - Um bolo se formou na minha garganta. Uma menina?
- Tá namorando? - Digo franzindo a testa.
- É óbvio que não! Ela é só uma amiga mesmo. Mas acho que vocês se dariam muito bem.
- Ué?! Só por isso você quer que eu conheça ela? - Ele desce os olhos pros meus lábios por um milésimo de segundo, e esse pequenino milésimo já fez meu desejo de beijá-lo aparecer descaradamente.
- É, acho que sim. - Ele responde meio aéreo. - Será que sua mãe tá em casa?! - Sussurra ele.
- Acho que tá! - ele se aproxima e me dá um selinho gostoso e puxa minha cintura com propriedade e com carinho ao mesmo tempo.
- Bia! - minha mãe grita me deixando alerta, e sem querer acabo empurrando Matheus meio exageradamente.
- Hum.... Quê??? Tô aqui! - Respondo meio nervosa. Que ridícula você!
- Vem cá no meu quarto, preciso de ajuda! - Reviro os olhos, e escuto a risadinha do idiota ao meu lado.
E lá vamos nós!
Essa vida de escrava não é fácil...

***

Pela décima vez no dia, eu estava deitada no sofá, fazendo merda nenhuma, como sempre! Foi o dia mais tedioso da semana, e eu não tinha como resolver meu tédio, porque a preguiça fez amizade com meus membros e eles estão aqui confraternizando sem a minha autorização!
Só escuto o que minha mãe fala e respondo "uhumm". Eu não faço a mínima idéia do que ela está falando.
Escuto a campainha tocar e como um passe de mágica vejo 2 meninas gordas sentadas no meu sofá. Drica e Yasmin. Elas me olham com aquela cara de reprovação, eu sei que estou acabada, mas não precisa me olhar assim, tá?!
Elas me puxam e me levam pro quarto e começam a conversar sobre Léo ter feito alguma coisa romântica e que Drica acha que dessa vez vai dar certo. Duvido muito! Mas prefiro ficar calada e colocar minha cara de "te entendo, continue". Yasmin falou que o lance dela, com a tal pessoa misteriosa, deu errado. Não disse quem era a pessoa e também não falou porque deu errado.
- E você Bia? Não tem nada pra contar? - Yasmin pergunta me cutucando.
- Eu não! Acho que não!
- Certeza? Não aconteceu nada entre você e Pedro esses dias?
- Pior que não. A gente mal se viu, e quando nos vimos não rolou nada. Nem uma conversa normal aconteceu.
- Ué?! - Drica franziu o nariz - E esse fim de semana, porque não vai na casa dele? Ou porque não conversam por mensagem? Celular serve pra isso!
- Eu não vou na casa dele, e quem tem que mandar mensagem é ele, não eu, vou dar uma de orgulhosa mesmo!
- Você disse que era só amizade, mas não é o que está parecendo!
- Eu sei disso, mas ele como meu amigo deveria mostrar que nada mudou.
- E você também, linda! Você tem que ir lá e mostrar que continua a mesma Bia de sempre.
- Não é tão fácil assim. Eu tenho medo dele ser frio comigo ou qualquer coisa do tipo, tá ligada? Bate uma insegurança... bem bosta!
- Mas tente! - Falou Yasmin pegando meu celular que estava na ponta da cama e me entregando - Fale com ele, seja a Beatriz sem vergonha que eu conheço. Se ele mudar, problema dele, você tem que continuar a mesma. Pra depois no futuro, ele não vir dizer que vocês se afastaram porque você não tentou.
- Porque Yasmin filosófa tanto? - Drica diz e eu começo a rir.
- Porque eu quero, queridan! - Nós três rimos juntas e eu deixo o celular de lado. Depois eu converso com ele.

...

Sabe quando você não faz a menor ideia do que tá acontecendo dentro de você mesma? Tipo, meus sentimentos, estão completamente bagunçados, sei lá, não sei explicar. Minha cabeça tá mais bagunçada que qualquer outra coisa.
Acho que vou ligar pro Pedro, mesmo já estando super tarde, sei que ele vai acordar pra poder me ouvir, mesmo estando super estranho comigo, vou aproveitar pra fazer umas perguntinhas que estão encucadas na minha cabeça. Ligo e no segundo toque, ele atende.

- Bia?  Tá tudo bem?
- Oi, Peu! Tá sim, quer dizer, mais ou menos. Não sei explicar e você como tá?
- , tá bem. Mas porque tá me ligando a essa hora?
- Precisava conversar, e só pensei em você pra conversar.
- Ah tá! Tudo bem então, o que quer conversar?
- Sei lá, qualquer coisa, fala algo que eu ainda não sei.
- Eu adoro ouvir sua voz?!
- Quê? Disso eu já a sabia, mas porque tá falando isso agora?  - ele ri.
- Porque eu nunca mais falei com você, e escutar ela agora me acalmou.
- Ai, que lindo! Beautiful! Mas você estava irritado porque?
- Nada demais, problemas em casa, brigas do dia a dia.
- Tá bom então... Bem, eu te liguei mesmo, pra saber porque você tá todo bizarro comigo. Eu te fiz alguma coisa?
- Não, não, tô normal contigo.
- Não tá não, você sabe que não.
- Tá, não tô tão normal, mas não é nada demais, só tava, sei lá, não sei o que tinha na cabeça, desculpa, não é culpa sua.
- Não aceitei essa desculpa esfarrapada, mas vou deixar passar, dessa vez porque tô começando a ficar com sono. E já que resolvi o que queria, vou dormir, boa noite seu lindo.
- Boa noite Bia, durma bem e sonhe comigo.
- Vou sonhar com um atleta másculo, você eu já vejo pessoalmente, pra quê sonhar!? Tchau menino, até amanhã.
- Até!

Agora que tá tudo, meio que, resolvido, vou tentar dormir, certeza que amanhã vai ser um dia cheio!

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⏰ Última atualização: Dec 20, 2016 ⏰

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