Aqueles Seus Olhos Azuis
Capítulo VI - John: ser Dave Strider
John nunca fora um garoto muito complicado de se enganar. Mas, honestamente, aquela tentativa de Dave fora ridícula.
Enquanto caminhava sem pressa até em casa, as mãos nos bolsos do hoodie azul-celeste, seu favorito, ele repassava mentalmente os acontecimentos do dia. Quer dizer, quando Dave, seu melhor amigo no mundo, o convidara para tomar um sorvete, ele não esperava nada demais. Normalmente, os dois simplesmente se sentavam, pediam um shake, conversavam sobre filmes e video-games e davam risada de alguma coisa que acontecera recentemente em suas vidas. Às vezes era o pai de John que achara que fazer um bolo de pizza fora uma ideia genial, às vezes era o irmão de Dave que chutara seu traseiro no telhado do apartamento...de novo.
Mas dessa vez, não. Dessa vez, o garoto das sardas que John sempre achara tão cutucáveis trazia uma novidade ainda maior, e não era uma história engraçada ou alguma reclamação sobre Bro. Era uma novidade de cabelos pretos repicados, um rosto lindo e óculos vermelhos.
Desde a primeira vez que o amigo mencionara Terezi, John já suspeitava que ele tinha uma queda na garota. Karkat até surtara sobre isso uma vez, marcando um encontro com os dois rapazes para colocá-los contra a parede, ordenando que parassem de dar em cima de Terezi e Vriska. A primeira porque era sua namorada – ou ele acreditava que era -, a segunda, porque era problema. Bem, nenhum dos dois havia obedecido, para serem honestos consigo mesmos...Dave continuara falando com Terezi, e John chegara ao ponto de namorar Vriska. Ela, de fato, acabara sendo um problema, o usando e jogando fora que nem pinça de sobrancelha, mas ele ainda não decidira se deveria ou não ser grato a Karkat, o garoto dos olhos cinzentos e tempestuosos, por avisá-lo sobre ela.
Mas bem, mesmo com todos os flertes de brincadeira e toda a ironia na voz de Dave ao dizer para Karkat que Terezi era "apenas mais uma linda garota que cai nos encantos do Papai Strider, não podemos culpá-la", John nunca pensara nos dois realmente namorando. Ou ficando, como eles haviam explicado naquela tarde.
Ele mirou os olhos azuis para o céu e constatou, pela claridade, que seus óculos de grau estavam sujos. Suspirou e tirou-os, limpando na barra do casaco enquanto franzia a testa. Ficara óbvio para ele, que, no final, tudo fora uma grande pegadinha, mas...
John se sentira mal. Por breves segundos, ao saber (acreditar) que os dois amigos estavam juntos, ele se sentira mal. E se sentia mal por se sentir mal. Raios, o que havia com ele?! Estava mais estranho que Dave!
Quer dizer, seu melhor amigo andava muito estranho. Há quase um mês que ele vinha tratando-o diferente, ele percebera, mas não dissera nada. Dave parecia menos feliz ao vê-lo, arrumando desculpas para não conversarem, como se o evitasse...como se não gostasse mais dele. Ao perceber aquilo, numa manhã na janela, John havia sentido uma vontade esquisitíssima de chorar. Na hora, acreditou que era a ameaça iminente de perder o melhor amigo que o assustava, e isso fazia sentido, uma vez que ele não era do tipo que saía elegendo melhores amigos por aí, como certas pessoas de touca azul. Bem, de todo jeito, ele acabou engolindo o choro e seguindo a vida. Ignorando aquele sentimento ruim no peito cada vez que Dave declinava um convite seu para ir andar de skate ou acompanhar as meninas nas compras...e bem, isso até aquela tarde.
Quando Dave e Terezi haviam dado a "grande notícia" e fingido ser o casal perfeito, John se sentira mal de novo. Seu peito voltava a sentir aquela dor horrível, como se alguém apertasse seu coração nas mãos, e mil agulhas furavam seu estômago ao mesmo tempo. O medo de perder Dave para sempre voltara com força total, como um tsunami, e ele sentiu uma necessidade enorme de se levantar, chutar uma cega no meio da cara e sair correndo.
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Aqueles Seus Olhos Azuis (JohnDave)
FanfictionDave tinha uma queda - não, um penhasco - por olhos azuis. E não podia ser coincidência que seu melhor amigo possuía as orbes do tom exato que ele gostava; tão claras como o céu, e ainda assim, tão profundas quanto o oceano, e que podiam te engoli...