Aqueles Seus Olhos Azuis
Capítulo IX - Maquiagem é coisa de maricas
Na frente do espelho do banheiro, Dave passou o pente pela franja para ajeitá-la pela milésima vez. Puta merda, ele estava arrumando-se há pelo menos duas horas e nada! Continuava com o mesmo bedhair, péssimo, por sinal, e seu cabelo nunca fora tão rebelde quanto estava hoje.
A tragédia começara oito da manhã, quando o loiro acordou. Logo depois de lavar e secar o rosto, ele se encarou no espelho, e quase gritou ao ver o vulcão dolorido de pus que decidira nascer no meio de sua testa, como um chifre de rinoceronte. E, somado a seu cabelo, que não contava com nem um mísero fio no lugar, ele se sentia um verdadeiro animal selvagem. Sério, por que tinha que parecer um homem das cavernas no dia de seu encontro com John?! Parecia que era alguma rasteira da Vida. Ele conseguia ouvir o Universo rindo baixinho ao fundo, da peça que pregara. Maldita seja sua sorte.
Ele começara os reparos pelo mais fácil, o cabelo. Afinal, podia muito bem tirar dois minutos de seu dia para estourar aquele ser alienígena que brotara em sua testa, mas além de doer como um tiro no cu, ele corria o risco de infeccionar a coisa e torna-la ainda mais vermelha do que já estava. E arrumar uma cicatriz. Não o leve a mal, cicatrizes eram maneiras, mas não as de espinha.
Por isso, ele passara a manhã toda tentando voltar o cabelo para a cabeça de alguma maneira, e pra isso usara fixador, mousse, spray, gel, e todas as outras porcariadas femininas que Bro usava para manter sua própria cabeleira loira pra cima, sem um fio sequer fora do lugar. Ou isso, ou era tudo de plástico, mas Dave nunca saberia.
-Ei, pirralho, dá pra desocupar?! –falando no diabo, ele ouviu o irmão espancar a porta, parecendo bem brabo.
-Só um minuto –Dave pediu, concentrado em pentear a franja sem arrancar a espinha fora.
-Você tá dizendo isso há mais de uma hora, desgraça. Eu preciso mijar! –esmurrou a madeira de novo- Eu vou mijar no seu suco de maçã, seu bastardinho.
Diante de tal ameaça, Dave se viu obrigado a abrir a porta. Pôs as mãos na cintura, ainda segurando o pente, e encarando, com os olhos vermelhos expostos, os óculos do mais velho, que refletiam sua imagem deplorável.
-Dá pra você esperar só mais um pouco? A porra está séria aqui, e eu não consigo me concentrar com você fazendo a porta de saco de pancadas a cada cinco minutos!
Bro fez um estalo de desgosto com a língua. Empurrou o irmão, que gritou um "ei!" ao ser tirado do caminho, e entrou no banheiro, simplesmente erguendo a tampa do vaso e botando seu carinha pra fora, aliviando-se na presença do mais novo mesmo.
-Bro! Argh, pelo amor de Deus! –ele cobriu os olhos com o braço.
-Aaaah... –fez o irmão, que realmente vinha prendendo aquilo há muito tempo- Qual o problema, pirralho? Somos irmãos, o seu é sardento igualzinho o meu; e não é como se eu não tenha limpado essa sua bunda aí um milhão de vezes. –mostrou a língua, enquanto botava o amiguinho pra dentro e fechava a calça.
-Tá, mas puberdade acontece, e eu não sou obrigado a ficar olhando como se fosse algum show de perversão. –ele revirou os olhos vermelhos- Já basta os seus bonecos pornográficos espalhados pela casa.
-O termo certo é smuppets –ele corrigiu, indo lavar as mãos- E deixa de drama, que eles não ficam tão espalhados assim!
-Tem um na banheira, Bro! –Dave exclamou- E ontem eu encontrei um na minha gaveta de cuecas.
YOU ARE READING
Aqueles Seus Olhos Azuis (JohnDave)
أدب الهواةDave tinha uma queda - não, um penhasco - por olhos azuis. E não podia ser coincidência que seu melhor amigo possuía as orbes do tom exato que ele gostava; tão claras como o céu, e ainda assim, tão profundas quanto o oceano, e que podiam te engoli...