II

286 23 0
                                    

——————————————————————————————

– Então, ainda se lembra do que aconteceu?

– Eu acho que sim... ela saiu correndo...

– E você foi atrás?

– Fui sim. E me arrependo até hoje de ter ido.

——————————————————————————————

Ela empurra a porta, destrancada. Corro atrás dela e entro na casa. Ela sobe pelas escadas, que rangem dolorosamente.

– Marylin! – Grito, enquanto subo correndo atrás dela

A escada leva até um corredor escuro, frio e estreito, lotado de portas. Não escuto mais nenhum barulho, e isso me assusta. Dou um passo suave e devagar, e a madeira range baixinho. Estranho ela subir correndo e não ter feito absolutamente nenhum ruído. Nenhum.

No final do corredor tem uma janela velha e amarronzada com cortinas vermelho-rubi antigas de tecido grosso. As cortinas não se fecham, e isso deixa passar uma fina fresta de luz, que é a única fonte de iluminação do corredor. Ando até a janela e abro mais as cortinas, e vejo o sol sumindo devagar atrás das montanhas. O corredor agora está totalmente iluminado.

– Marylin? Onde você está? – Falo, enquanto passo devagar pelas portas aguardando uma resposta.

Escuto alguma coisa vindo de uma das portas. Ando devagar e ponho meu ouvido colado à porta:

– Não, eles são a minha família. – É a voz da Marylin!

Não escuto mais nada por alguns segundos

– É.... eu não gosto muito da Jane. Ela é má comigo.

A Marylin parece estar conversando

– Também acho. Não seria muito ruim se ela morresse.

Sinto um frio descer pela minha espinha, e meu coração para. Minha irmãzinha disse isso mesmo? Abro a porta, preocupado, e vejo ela sentada em uma cadeirinha vermelha antiga na frente de uma mesinha redonda branca e encardida, com outra cadeira na sua frente, onde está uma bonequinha de pano assustadora.

– Oiiii, maninha! Tudo bem? – Não consigo esconder o meu sorriso falso nem a minha cara de preocupação

– Oi, Jack! – Ela responde, se virando para mim sorridente enquanto segura uma velha xícara de chá de porcelana – Quero que conheça a minha nova amiga – Ela aponta com a xícara para a bonequinha sinistra – A Boneca!

Aceno, sorridente e preocupado

– Oi... boneca... – Falo, enquanto ando até ela para apertar o seu bracinho

A Marylin segura o meu punho

– Não toque nela – Ela fala de um jeito muito sinistro com um olhar que ela nunca fez para mim

– Marylin...? Por que não...? – Começo a suar frio e percebo que fico mais pálido. Sempre fui muito medroso.

– Por nada! – Ela sorri enquanto se vira de volta para a Boneca – Então, onde estávamos? – Ela faz uma cara de como se estivesse escutando a resposta. Agora ela se vira para mim e sorri – Por favor, pode nos dar licença?

– Claro... vou deixar vocês a sós. – Me viro para a porta, ainda assustado.

Minha irmã? A doce, alegre e inocente... falando de morte com a amiguinha imaginária?

BonecaOnde histórias criam vida. Descubra agora