VIII

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Só consigo ficar parado, e gritar. Aquela fica cada vez mais próxima de mim, e a única coisa que consigo pensar é quando aquilo vai chegar até mim, e arrancar as minhas tripas (já vi isso na TV).

Vejo do canto do olho a escada que leva ao primeiro andar. Com as pernas trêmulas, me arrasto com os cotovelos até a escada, e sem perceber, caio. Rolo pelos degraus e caio no chão. Meu nariz está sangrando, e sinto uma dor muito forte no meu punho, no mesmo braço que a Marylin mordeu. Gemo um pouco e abro os olhos, e vejo a criatura parada no topo da escada com as duas mãos segurando a bola, o pescoço torto e a expressão vazia em seu rosto. Dá dois passos para traz e é totalmente coberta pelo escuro, sumindo nas sombras.

Escuto passos pesados se aproximando. Minha visão começa a escurecer ao mesmo tempo que muitas silhuetas humanas começam a vir em minha direção.

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Marylin está deitada em uma cama de metal, amarrada com cintos. O som de uma porta de madeira se abrindo é escutado. Uma enfermeira vestida de branco com uma máscara cirúrgica abre a cortina que separa o leito de Marylin dos outros vazios, e entra com um carrinho de alumínio cheio de utensílios e remédios.

- Vejamos - Fala, enquanto pega a prancheta que fica pendurada ao pé da cama - Marylin Madson... não?

- Sim, ela mesma - Fala Tyler, sentado em uma poltrona ao lado da cama de sua filha

A enfermeira põe a prancheta de volta onde pegou e tira do carrinho uma bandeja metálica com agulhas, frascos e utensílios estranhos, em seguida a põe sobre uma pequena mesa ao lado da poltrona. Tira uma seringa e um frasco, e injeta a agulha em sua tampa e extrai um líquido transparente. Anda em direção à criança, e injeta a agulha em seu pescoço. Marylin se debate um pouco, mas logo para.

- Isso é para amenizar os sintomas da epilepsia. - Retira a agulha e rapidamente põe um esparadrapo no lugar. Põe a seringa vazia sobre a bandeja metálica e tira de lá um pequeno frasco com comprimidos. - Quando ela acordar, dê uma pílula para ela. Faça isso de seis em seis horas. Em alguns minutos vou trazer o jantar de vocês - Fala, se dirigindo ao Tyler

- Claro... claro... - Responde

A enfermeira pega a bandeja de alumínio e a põe de volta no carrinho. Passa pela abertura na cortina e a fecha. Escuta-se o som da porta se fechando

- Pai... Cadê a boneca? - Marylin fala em um tom quase inaudível

- Deixamos ela na casa... saímos às pressas

- Pai, vai buscar a minha boneca - Seu tom de voz fica mais forte

- Marylin, nós não podemos agora. Mas, quando você melhorar...

- VAI BUSCAR MINHA BONECA, PAI! VAI BUSCAR MINHA BONECA! AGORA! VAI BUSCAR A MINHA BONECA! - Começa a gritar, e a se debater com muita violência. Tyler rapidamente corre até a porta, enquanto Marylin ainda grita e se debate com tanta violência que se escutam estalos da estrutura metálica de sua cama

- Enfermeira! Enfermeira! Me ajude, por favor! - Grita para a primeira enfermeira que vê passando pelo corredor, que corre até o quarto onde eles estão.

Ela passa pela porta e fica horrorizada com o que vê.

- Calma, menina, calma! - Fala, enquanto segura seus ombros com as mãos

- VAI BUSCAR MINHA BONECA! VAI BUSCAR MINHA BONECA! - continua gritando e se debatendo. Os cintos que imobilizam o seu corpo parecem estar se soltando. Rapidamente, a enfermeira tenta aperta-los, mas Marylin parece mais forte.

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