De repente, começa a se debater no chão, grita. Fico paralisado, não sinto mais o sangue correr por minhas veias. Só consigo ficar aqui, parado, olhando minha irmãzinha se contorcer no chão.
Meu pai corre, largando as sacolas no chão e se ajoelha ao lado da Marylin e põe suas mãos em seus ombros para evitar que continue batendo sua cabeça no chão e para amenizar um pouco o efeito de seus espasmos.
- Jane! Faça alguma coisa! Ligue para a emergência! - Meu pai grita, enquanto olha para a Jane, que pega o celular desajeitadamente do seu bolso.
- Eu posso levar vocês! - Diz o taxista, entrando no carro
- Muito obrigado! - Fala o meu pai, correndo para o carro com a Marylin nos braços, que se debate muito.
Entra no banco de trás junto com a Jane, e o carro começa a manobrar para se voltar para a estrada, atropelando e esmagando algumas sacolas que estavam largadas no chão.
Consigo me mexer, novamente. O pânico se dissipou. Pelo menos até agora.
Mil pensamentos surgem em minha mente. O suicídio da mamãe. A mudança tão repentina. A Marylin. Tudo está acontecendo tão rápido...
Quando abro os olhos, me vejo em pé, ao lado de uma das portas traseiras, segurando um dos puxadores do carro, enquanto todos olham para mim pelo vidro. A Marylin está deitada no banco de trás, no colo do meu pai enquanto tem pequenos espasmos.
Abro a porta e levanto as pernas da Marylin e me sento.
- Jack! Vá embora! - A Jane grita - Você não tem que ir!
Novamente, meu pai apenas observa. Abaixo o meu rosto e me levanto.
Antes mesmo de bater a porta do carro, sinto uma mão agarrando o meu pulso. Marylin.
- Fica - Fala.
Me sento novamente dentro do carro.
- Vai logo! Já perdemos tempo demais! - A Jane grita para o motorista, que rapidamente acelera até a mata seca ao pé da colina onde fica a casa, que vai ficando cada vez menor, à medida que adentramos na vegetação morta.
Tudo começa a ficar escuro, pois os galhos das árvores se tocam com os de outras, bloqueando a luz amarelada da manhã. Pequenas colunas de luz surgem verticalmente, surgindo dentre os buracos de alguns galhos, iluminando parcialmente nosso caminho.
A Marylin continua se debatendo. E gritando.
Me lembro dos seus olhos quando pediu para ficar. Estavam com um olhar diferente, parecia desesperador. Como se não fosse ela.
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[Trecho retirado do diário de uma antiga moradora]
Ela está chegando. Sinto-a mais próxima. Não posso me livrar da boneca. Ela sempre volta.
Ontem mesmo cheguei a enterra-la na floresta. Fugi correndo, e quando cheguei na casa, ela estava largada na varanda. Seu olhar falava tudo: "Eu te odeio"
Naquela mesma noite ela me visitou, estava muito irritada. Puxou meu pé e me derrubou da minha cama, e começou a falar coisas do tipo "Nunca me desobedeça", "Seu corpo será meu". Não me lembro, pareceu tudo um sonho, porém confesso que me assustei bastante.
Hoje de manhã, acordei com marcas roxas no meu antebraço esquerdo, parecendo dedos. Avisei a minha mãe, e ela marcou uma consulta.
Quanto a boneca, sinto-a me acompanhando. Sei que ela está sempre comigo. Quando ela encontra alguém, ela ganha a permissão de sair da casa para continuar acompanhando a pessoa.

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Boneca
HorrorDepois do suicídio de sua mãe, os pais de Jack, Tina e Marylin decidem se mudar para uma casa nos arredores de Might Hallow, onde algo terrível aconteceu (e ainda acontece). Coisas estranhas começam a acontecer quando a pequena Marylin começa a conv...