VI

255 19 10
                                    

——————————————————————————————

Abro os olhos e me vejo em um lugar escuro, tomado por fumaça. Tento me beliscar para ver se estou acordado, e não sinto nada. Levo a mão até o rosto e tapo o nariz, e ainda consigo respirar. Conclusão: estou sonhando.

Decido explorar um pouco mais esse lugar. Algumas vozes ecoam distantes. São muito baixas e são faladas quase ao mesmo tempo, e não consigo distinguir uma palavra da outra.

Continuo andando pelo lugar, até encontrar algo familiar. É uma porta no meio do escuro. Parece a porta da frente da minha casa nova...

Coloco a minha mão na maçaneta e giro. A porta começa a se abrir sozinha. Normal. Pelo menos para um sonho. Atravesso a porta e entro na casa, e vejo que está silenciosa e escura.

Ao colocar o primeiro pé para dentro da casa, sinto algo estranho, algo ruim... como se alguma coisa terrível estivesse aqui... não sei como explicar. Palavras não podem descrever o que sinto.

Ando devagar pela casa, e sinto essa coisa cada vez mais próxima. Ando pelas escadas, que rangem enquanto passo por elas. Passo pelo corredor e ando até o meu quarto. Abro a porta e entro. Quase morri ao ver aquilo: eu, deitado na minha cama. E sete pessoas ao redor dela, inclinadas, me olhando dormindo.

Minha respiração fica ofegante, e começo a me mexer (na cama). De repente, as pessoas ficam eretas e se viram para mim de um jeito bastante robótico e sincronizado. Elas não têm olhos, algumas os tem, mas eles estão brancos, talvez virados para o lado de dentro de suas cabeças. São extremamente pálidas e algumas são esqueléticas. Estão usando roupas normais, só que desbotadas e empoeiradas.

– O que são vocês?! – Pergunto, confuso

Todos, da mesma maneira robótica, levam o indicador até a boca, e assopram, fazendo um “chiu” perfeitamente sincronizado e baixo. Em seguida, ainda com o indicador na frente da boca, eles apontam para uma das paredes com a outra mão. A mesma parede do quarto da Marylin.

Corro pela porta até o corredor e abro a porta do quarto.

Ela está dormindo, e está com o abajur ligado. A sua cama está iluminada pela luz amarelada da lâmpada, mas algumas partes do quarto ainda estão escuras, como a parte de baixo de sua cama, as paredes e o teto.

A agonia que senti quando entrei na casa fica ainda mais forte. Sinto a presença de alguma coisa ruim, e parece estar muito perto de mim.

Encaro a Marylin durante alguns segundos, e me viro para a porta para ir embora. Sinto algo me observando.

Olho para trás e só vejo a Marylin dormindo. Até agora.

Pequenos fios de lã vermelha começam a descer do teto escuro.

São vários fios, juntos. Começam a descer e vejo algo branco junto à eles.

Um rosto surge de cabeça para baixo do teto.

Um rosto coberto por um tecido branco, com lã vermelha no lugar dos cabelos, botões pretos no lugar dos olhos. Um sorriso enorme, que vai de uma extremidade até a outra do rosto, costurado. Um pequeno coração vermelho pintado no meio da boca, como se fosse o batom.

Aquela figura parece uma boneca. A mesma boneca da Marylin, só que com o tamanho de uma criança.

A figura fica estática, encarando a Marylin, que começa a apertar os olhos e a se mexer na cama. De repente, se vira para mim muito rapidamente.

BonecaOnde histórias criam vida. Descubra agora