IV

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[Trecho retirado do arquivo de áudio - 2ª Sessão de Exorcismo de Jeanet Kinney]

Might Hallow, 17 de Agosto de 1986

(...)

Padre: (Gritando) Eu ordeno, espírito das trevas, revele teu nome!

Jeanet: (Urros, sons de algo se debatendo)

Padre: Em nome do poder de Deus, revele-se, demônio! (Som de espirros de água seguidos por gritos demonicos)

Jeanet: (Voz dupla) Analliese! Analliese! (Fala em gritos)

Padre: Analliese, eu te ordeno! Volte de volta para as sombras e deixe esta filha de Deus em paz!

Jeanet: (Voz dupla) Ela vem comigo! (Som de passos correndo, se distanciando)

Mãe de Jeanet: Não, filha! Desça já daí! É muito perigoso! Para!

Jeanet: Ela estará esperando por vocês... E eu também (grito) (som de baque)

(...)

[Fim da gravação]

Jeanet Kinney (1969-1986) morreu na 2ª sessão de exorcismo realizada pelo exorcista da região Richard Petterson. Segunda sua família, ela começou a agir de maneira estranha depois de começar a interagir com uma boneca encontrada na casa (...).

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- O jantar chegou! - A Jane grita da porta, enquanto se estica para receber as 3 caixas de Pizza do entregador. - Jack, vem me ajudar!

Desço correndo e em quatro passos largos chego até a Jane e tiro as três caixas dos braços dela. Sinto o cheiro de orégano e queijo derretido.

- Eu não sabia que existiam pizzarias no interior - Comento, sorridente, enquanto me delicio no aroma do alimento.

- Pois é, existem - Jane fala, enquanto puxa a carteira do bolso - Aceitam cartão de crédito?

- Ainda não, minha senhora - O entregador responde imediatamente.

- Aff - A Jane faz uma cara de nojo, enquanto tira algumas cédulas de um dos compartimentos da carteira - Tá aqui. Leva, fica com o troco. - Fecha a porta, enquanto o entregador se vira para a moto estacionada no final da mata de árvores secas.

Percebo que o entregador parecia ter certo receio de chegar perto da casa. Parecia nervoso.

- Jane, eu tenho que chamar o meu pai, a Marylin e a Tina para comer, ou você chama? - Pergunto, enquanto ando até a cozinha e deixo as caixas sobre uma velha mesa de madeira

- Chama só as suas irmãs. - Pega um casaco de um gancho enferrujado pregado na parede - Eu tenho plantão essa noite, e surgiu uma emergência no escritório. Eu e o Tyler vamos passar a noite fora. Você fica no comando. - Fala, enquanto fecha os botões do casaco e pega a bolsa da mesa. - Tyler! Desce logo! Já estou indo - Pega na maçaneta da porta dupla da frente, abre, e sai.

- Já estou indo! - Meu pai desce rapidamente pela escada enquanto arruma a sua gravata vermelha dentro do blazer preto e segura uma maleta preta. Passa praticamente voando pela escada. - Cuidado com a sua irmãzinha, Jack - Ele aponta para mim, enquanto me olha nos olhos com uma expressão séria e ao mesmo tempo assustada, apreensiva. A porta se fecha.

Fico um tempo parado na frente da porta, aproveitando o silêncio

- Jack - A voz da Marylin sussurra de cima da escada

Levo um pequeno susto. Ando até o pé da escada para encarar a Marylin, e respondo:

- Oi, Marylin. O papai e a Jane saíram. Eles só vão voltar amanhã de manhã.

- Tudo bem, Jack. - Ela aponta para o final do corredor - Tem alguém lá. Eu estou com medo - Fala num tom assustado, e ao mesmo tempo frio.

- Como assim? - Respondo, meio amedrontado

- Tem um menino chorando em baixo da janela - Ela olha para o final do corredor - Eu acho que a irmã dele morreu.

Começo a subir as escadas barulhentas devagar. Chego até a Marylin, e me viro na mesma direção que ela, e vejo uma silhueta escura no fim do corredor, parecendo uma criança abraçando os joelhos. Está em baixo da janela aberta, entre as duas cortinas. Está embaixo da luz da janela, então não consigo ver seu rosto. Sua sombra se projeta por toda a extensão do feixe de luz branca emitido da janela.

- Como você entrou aqui? - Falo, enquanto me aproximo devagar da figura escura. Escuto um choro baixo ecoando por todo o corredor, parecendo vir de toda parte. Estico a minha mão devagar para tocar o mesmo. Antes mesmo dos meus dedos tocarem os seus cabelos negros, a figura levanta o rosto para mim, e me espanto: não tem face.

"Ela arrancou a minha alma. ". Uma voz infantil e desconhecida ecoa na minha mente.

- O que você é? - Pergunto, em um tom trêmulo.

Um rangido começa a vir da escada. Me viro rapidamente e vejo a Marylin ainda parada no mesmo lugar, encarando alguma coisa no 1º andar com uma expressão assustada.

- Marylin... tudo bem? - Pergunto, enquanto ando até ela devagar para ver o que ela está vendo. Quase caio para trás ao me deparar com uma cena perturbadora: rastros de sangue por toda a sala, móveis revirados e um corpo ensanguentado estirado ao pé da porta da frente.

Começo a descer a escada devagar. Chegando ao meio do caminho, consigo ver melhor o cenário: um menino de aparentemente 10 anos parado, de frente para o corpo e de costas para mim, com as mãos ensanguentadas segurando de um lado uma faca de carne suja de sangue, e no outro uma boneca. A mesma boneca que a Marylin começou a brincar.

Fecho os olhos, que começam a lagrimar em razão ao tempo que passei sem piscar. Ao abri-los, vejo que tudo está normal. Nem o corpo, nem o sangue, nem o menino estão mais lá. E as luzes estão todas apagadas. Absolutamente nenhum barulho. Desço até a sala, e chego à cozinha. Vejo as caixas de pizzas vazias, apenas sobrou um pedaço em cada uma delas. Subo as escadas e vejo que a figura não está mais no final do corredor. Nem a Marylin. E isso me assusta. A casa toda mergulha no silêncio, até que um berro vindo do quarto da Marylin o quebra.

Corro pelo corredor e entro no quarto dela, que já está vestida com o seu pijama e está sentada na cama de cabeça baixa, chorando, olhando para a boneca, que está em suas mãos.

- Por que você me assustou? - pergunta numa voz trêmula, olhando para a boneca.

- Eu? - Respondo, confuso.

- Jack! - Ela levanta e corre para me abraçar - Ela me assustou - Diz, apontando para a boneca.

***

Oi, pessoal. Desculpem-me pelo tempo que passei sem publicar... é que o capítulo IV tinha de ser um dos mais importantes do livro, pois ele será uma espécie de apresentação do que ocorrerá nos capítulos seguintes: aparições, visões, impressões, entidades. Esse será o capítulo antecessor de um dos principais capítulos de Boneca, o capítulo V (que estou escrevendo e rescrevendo desde que comecei a publicar Boneca. Espero que vocês gostem! Bom, se vocês não gostaram do capítulo IV, podem deixar comentários, porque, se necessário, posso até mesmo fazer algumas alterações!

Eu gostaria que vocês me dessem sugestões de vez em quando, porque tem tempos que eu fico em uma espécie de "buraco criativo", de onde eu demoro certo tempo para sair. :/ Então, eu gostaria que vocês publicassem na minha linha do tempo ou deixassem comentários nos capítulos do que vocês gostariam de ver ao longo da história: mortes? Possessões? Horror? Se quiserem algo há mais na história, podem falar! Ou vocês acham melhor desse jeito que estou escrevendo? A opinião de vocês é muito importante para mim!

Então, é só!

Até mais...

Francisco

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