Capítulo III

25 1 0
                                    

O Colégio de Golden Lake foi idealizado pelas principais famílias da cidade. Apesar de tudo, buscava as melhores mentes, independente de padrão social, oferecendo bolsas de estudo e ajuda de custo a alunos que não possuíam condições para bancar seus custos exorbitantes. Porém, era inegável não dizer que grande parte dos alunos consistia em filhos de empresários da cidade, filhos de políticos e de profissionais renomados, como os pais de Samanta e Tony.

A instituição atendia em suas instalações todas as necessidades para uma educação adequada em todos os ramos de conhecimento, desde laboratórios biológicos e informáticos, teatro e bibliotecas, ginásio e piscinas olímpicas, pista de atletismo e campos esportivos. Em anexo ao colégio, na parte superior, estavam sendo construídos os prédios para o ensino superior, com objetivo de atender a demanda destes alunos que estavam se formando no colégio.

Samanta e Tony eram da terceira turma a adentrar o Colégio, sendo assim, todos que os precederam já haviam deixado a instituição, tornando-os veteranos no Colégio.

Era a segunda aula quando Samanta entrou no prédio principal do Colégio, mas não estava atrasada pois havia sido dispensada para a preparação de seu discurso informativo sobre as avaliações institutivas. Cumprimentou em seu caminho, como de costume, o porteiro e o zelador e seguiu direto para o auditório, que tinha capacidade para quinhentas pessoas. Tudo já havia sido organizado na noite anterior, ela só precisava checar os detalhes para que tudo ocorresse bem em sua atuação.

Após finalizar suas tarefas, dirigiu-se ao banheiro para se retocar. Como em todos os ambientes da escola, o banheiro era limpo e aconchegante. Samanta posicionou-se frente ao espelho, que cobria toda uma parede, e colocou seus objetos sobre a pia, que seguia a extensão do espelho.

A garota se olhou por alguns momentos e recordou-se de sua conversa com Tony, sobre tomar a direção das coisas que realmente a fariam feliz. Para ela, era uma disputa em uma balança, pois de um lado tinha todo o esforço de seu pai em criá-la para que ela estivesse onde está, seguindo assim as direções impostas por ele contra tudo o que poderia acontecer se ela tivesse a oportunidade de seguir suas próprias escolhas. Samanta apoiou os cotovelos na pia, envergou seu corpo contra ela, segurando fortemente sua cabeça com as suas mãos e lágrimas involuntárias começaram a verter de seus olhos. Para estes momentos, ela pensou, deveria ter sua mãe presente.

A porta do banheiro abriu-se com um estalido, Samanta rapidamente abriu uma torneira e molhou seu rosto, na tentativa de esconder as lágrimas e evitar qualquer explicação sobre elas.
Algo desnecessário, já que quem acabara de adentrar era Amanda, sua então melhor amiga.

Amanda era pouco mais alta que Samanta, mais esguia, pele alva e sardas pelo rosto, tinha cabelos cor de ferrugem, olhos verdes e também trajava o uniforme tradicional do Colégio. As duas se conheciam a muito tempo, desde o ensino fundamental, e sabiam muito uma da outra.

- E então mulher, tá pronta ou vai querer ajuda aí?! - disse de forma espalhafatosa com as mãos na cintura.
- Quase, apenas dando uns retoques. - respondeu com meio sorriso no rosto molhado.
- E você vai me dizer o porque do choro ou vou ter que arrancar à força? - Amanda aproximou-se de Samanta, verificando se seu uniforme estava amassado.
- Outra vez aquela conversa com Tony...
- Sobre sua virgindade? Ih mulher, se tá chorando agora imagina na hora.
- Não sua louca! - repreendeu com os olhos arregalados e um sorriso tosco no rosto.
- Estou brincando sua boba. Você sabe o que penso sobre isso, se quer declarar a independência, chama seu pai pra uma conversa. De preferência quando ele estiver comendo porque qualquer coisa ele já morre engasgado e não discute com você! - as duas riram bastante, Samanta secou seu rosto com uma toalha e Amanda começou a maquear seu rosto.
- Amiga, você está tornando isso mais complicado do que deveria ser, chega no velho e manda a real cara. Ninguém é obrigado a fazer algo que não quer.
- Eu sei mas...
- Sim, tem o papo de tudo que ele já fez por você, mas gata, isso é o papel dele. Nada a ver você se cobrar por isso.
- Vocês todos têm razão, tenho mesmo essa tendência de tornar as coisas complicadas... Quer saber, hoje a noite vou fazer um jantar e chamá-lo pra conversar. - Amanda guardou os objetos de sua amiga na bolsa, voltou-se para ela e abriu um grande sorriso no rosto.
- Isso aí, arrasa gata! Enquanto isso vou ali dar uns pegas no Tony, beijo e boa sorte! - disse brincando e dirigiu-se para a porta do banheiro ainda com um sorriso no rosto.
- Vai lá. Obrigado pela dica amiga.
Amanda piscou para Samanta e deixou o banheiro rapidamente. Novamente só no banheiro, a garota olhou-se no espelho, ajeitou o cabelo com uma expressão confiante e disse para si mesma.
- Vou arrasar!

SPELL - O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora