Capítulo XII

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Rachel deu a volta por outra rua, já sabia a localização de Sarah, consequentemente, da próxima página do livro. Saiu do condomínio e dirigiu-se à cidade, colocou velocidade máxima no carro.
- Assim que pegar essa página, estarei pronta para iniciar o uso do livro. - olhou para sua bolsa no assento do passageiro, o livro estava lá e a garota já possuía páginas o suficiente para combater o Paladino, aquele que a atacara na noite passada, porém, para utilizar seu poder, precisava fazer um feitiço de iniciação, que estava na página que procurara em sua casa, e que fora contrabandeada pelos invasores
- Assim que pegar essa página, serão tão forte quanto minha mãe... Ou melhor, muito mais forte!!! - a garota apertou fortemente o volante do carro, sorriu com muita satisfação, pisou no acelerador aumentando a velocidade acima do permitido naquela rota.


- E-eu, pai eu... - Samanta ficou sem palavras, até o dia anterior queria colocar pontos na relação com seu pai, mas agora, mal podia trocar palavras com ele.
- Samanta, obrigado por me acompanhar, já me sinto melhor agora. - era Tony, chegou por trás de Samanta colocando a mão sobre seu ombro.
- Oh, bom dia senhor Lionheart. Samanta me disse que o senhor havia viajado à trabalho, passei mal ontem ela foi comigo ao posto médico e ficou até eu me sentir melhor. Espero que o senhor não tenha ficado muito preocupado. - o estômago de Samanta revirou, de repente perdeu o chão sobre seus pés, não sabia como agir, decidiu pelo que convinha na ocasião.
- Então, pai... Foi isso... O Tony me ligou, saí com pressa ainda de pijama.
O senhor Lionheart tomou um grande gole de café, desligou a TV, que ele sempre ligava de manhã, foi rumo aos jovens e pegou seu paletó.
- Tudo bem, se foi apenas isso. Samanta, vou descansar um pouco da viagem. Tenha modos em casa. - disse, referindo-se à presença de Tony.
- S-sim senhor. - disse engolindo em seco, parecia ter engolido uma laranja inteira naquele momento.
- Ah sim, da próxima vez que sair de casa com pressa, troque-se ao invés de arrumar a cama... E tire a etiqueta de preço do pijama. Achei que ganhasse uma boa mesada para escolher comprar algo tão barato. - Seu pai foi à sala e subiu a escadaria que dava acesso aos quartos.

A garota, sem graça, arrancou a etiqueta e virou-se para Tony, o rapaz estava vestido com camiseta básica e jeans, calçando uma bota. Tinha uma expressão séria no rosto.
- Precisamos muito conversar. - Samanta ficou parada, pensou, por um instante, em apenas dar-lhe um tapa no rosto, era o que Amanda faria.
- Em meia hora, no parque.
- Tudo bem. - o rapaz saiu da cozinha pela porta dos fundos e foi embora. Samanta abaixou a cabeça, seus olhos lacrimejaram, ela correu para o seu quarto. A garota jogou-se na cama, estava realmente arrumada pois não tivera passado a noite ali. Sua cabeça começou a doer, não esperava que seu pai pudesse estar em casa ou mesmo que Tony aparecesse ali, para tirá-la daquela confusão, menos ainda que ele a chamasse para conversar, talvez Zack tivesse contado que a viu na noite anterior no deck. Decidiu tomar um banho e preparar-se para o que viria. Ao levantar-se da cama, mirou a página que estava anexada ao seu mural, parecia haver algo diferente. A garota foi até lá, viu que a mancha de sangue que havia escorrido e ficado negra, terminou no final da página, tornando-se sua assinatura.
- Mas o que... - ao olhar novamente para as inscrições, estas foram modificando-se até se tornarem visíveis para Samanta.
- E-eu consigo ler!

Da bolsa de Rachel começou a emanar um poderoso brilho prateado, a garota tirou a atenção da estrada e olhou para o rumo da mesma.
- Droga, mas o que... - freiou bruscamente e tomou a bolsa em suas mãos, abriu-a e pegou o livro, estava quente e brilhante.
- Não! Não acredito! Aquela vaca não... - Rachel jogou o livro na bolsa e tomou a direção, deu uma arrancada no carro e foi em direção à cidade. Seu celular tocou, a garota não estava disposta a atender, mas sempre que ele tocava algo sério poderia estar acontecendo, pois poucas pessoas tinham o seu número. Ela atendeu.
- Sim?! - disse nervosa.
- Você perdeu. Alguém iniciou o livro.
Rachel vacilou, sabia quem era e por isso tinha que tomar cuidado com as palavras.
- Como sabe disso?!
- Todos já sabem. Melhor tomar cuidado, agora temos outras pessoas a quem temer.
- Não tenho medo, escapei ilesa do ataque de um deles, posso escapar novamente.
- Aquele quem te atacou era o mais fraco deles... Ouvi dizer que há outro em sua cola. - a voz do outro lado da linha falava com desdém, queria aterrorizar Rachel, mesmo parecendo alguém conhecida. A garota ficou com a boca seca ao imaginar alguém ainda mais forte que o Paladino que a atacara.
- Eu sei me virar. Não preciso de ajuda. - disse com certo temor na voz.
- Tudo bem, se mudar de idéia, me ligue. Hahahaha!!! - Rachel desligou o telefone, olhou para a estrada pensativa.
- Não tenho o que temer. Não tenho... Eu serei a dona do livro!


"ANTIGA, RAINHA VELADA, EU DERRAMEI MEU SANGUE PARA TI.
UM JURAMENTO SOBRE O LIVRO, UM JURAMENTO À VIDA E AO ESPÍRITO.

MESTRE DO MUNDO, DO FOGO E DA TRAMA,
DOS ANIMAIS E FLORESTAS, DOS PÂNTANOS, DO CÉU, DOS DESEJOS E DESTINOS HUMANOS,
PODERES DENTRO DA TERRA, OUÇA UM JURAMENTO, MARCADO PELO SANGUE E PELO SANGUE CARREGADO PARA DENTRO DO LIVRO:

EU DERRAMEI MEU SANGUE POR TI; DE MINHA MÃO ESQUERDA EU DERRAMEI SANGUE, EU ME LIGO AO LIVRO E AO SEU ESPÍRITO.

SUSTENTE-ME, PROTEJA-ME, ACOLHA-ME NO CAMINHO DA BRUXARIA QUE A ESTRADA ESCONDIDA PARA SABEDORIA DEIXE O SEU PODER RESPONDER À MINHA VONTADE, NO PRADO SAGRADO, EM MEUS DIAS E NOITES, ASSIM COMO A MINHA FORÇA DE VONTADE RESPONDER A SUA VONTADE
E CONFIAR EM VOCÊ.

FALE COMIGO EM VISÃO, NÃO ME ABANDONE À SEPULTURA, NEM ME ENTREGUE COMPLETAMENTE AO DURO DESTINO, NEM AQUELES A QUEM MEU AMOR PROTEGE.
CONCEDA SOBRE MIM O NASCIMENTO DA HABILIDADE, O NASCIMENTO PARA O IMORTAL, E SEMPRE OS TEUS CAMINHOS EU VOU MANTER E HONRAR.

EU SOU CHAMADA SAMANTA LIONHEART, CANTORA E INVOCADORA DOS PODERES E DA SABEDORIA

QUE ASSIM SEJA"

Samanta leu a página, sentiu-se tonta no instante em que terminou, a página brilhou fortemente, a garota desmaiou novamente. Seu gato, Calebe entrou no quarto e ficou encarando a página, que estava no chão.

Samanta acordou, estava em um quarto escuro, as paredes eram de pedra, haviam tochas iluminando o local. Queria se mexer, mas estava envolvida por lençóis grossos, deitada em uma cama com grades à sua volta. Ao lado, uma cama simples, uma cômoda do lado e na parede norte um escudo com um sol dourado decorando o ambiente, atravessado por duas espadas.

Samanta começou a chorar, até que uma porta de madeira escura abriu-se. Um homem, cujo a aparência não conseguia definir entrou no quarto, pegou-a pelos braços e beijou sua testa. Saiu do quarto carregando a garota nos braços, estava difícil para ela enxergar além. O homem desceu uma escadaria circular, por um corredor de pedras até chegar em um grande salão. Haviam quatorze outros homens dispostos em forma de semi-círculo e no que parecia ser um altar de pedra branca, havia um trono de mármore, onde havia um velho sentado e atrás dele uma versão maior do escudo que havia no quarto em que Samanta estava anteriormente. No meio do salão, havia um pequeno berço de madeira e metal. O homem levou Samanta até lá e repousou-a entre os lençóis macios.
- O que tem a nos dizer sobre isso, Primeiro?! - disse o velho sentado no trono.
- Não muito mais do que já disse anteriormente, Sumo Sacerdote. - respondeu aquele que a carregara.
- Você se julga inocente ou culpado?
- Culpado.
- Sabe qual a pena para o seu crime?!
- Sim senhor, minha pena é a morte. No entanto, gostaria de solicitar uma pena alternativa, prevista em nossas leis. - os demais se entre-olharam, o velho coçou sua barba bem feita e se ajeitou no trono.
- Gostaria de invocar... A décima sexta lei dos Paladinos. - disse em tom desafiador. Todos começaram a discutir entre si, até que o velho pediu por silêncio.
- A nossa Ordem não se utiliza da décima sexta lei há dois séculos. No entanto, é seu direito exigir. Fica decidido. Sua pena será julgada a partir da décima sexta lei. Façam os preparativos.
- Enquanto isso. Posso mantê-la em meus aposentos?! - questionou o réu.
- Sim. Não há lei que impeça isso.
O homem se aproximou de Samanta e suas vistas ficaram turvas. Ela desmaiou novamente.

Acordou em seguida em seu próprio quarto, a cabeça doía bastante.
- Novamente estas visões.... O que... O que está acontecendo comigo?! - ainda tonta olhou a página no chão e a pegou.
- O que esta página... O que são estas inscrições?! - caminhou tontamente até sua cama, pegou o celular.
- Sarah, preciso falar contigo. Hoje às 18h na escola, pode ser?! Te aguardo lá.
Deixou o celular e a página na cama e foi se banhar.

SPELL - O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora