Capítulo XI

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A cidade já era visível no ponto da rodovia em que Samanta se encontrava. Atrás de si, via as montanhas pelo retrovisor, ao lado as florestas, já sem folhas pareciam agradecer a luz do sol matinal.

Quanto mais próxima da cidade, mais o peso de seus problemas aumentava em seus ombros. Samanta não era o tipo de garota que apenas deixava as coisas rolarem, ela agrupava cada assunto e decidia como iria resolver.

Porém, a noite anterior e a manhã deste dia haviam mexido muito com ela. Os momentos que tivera com Pablo tiravam toda a sua concentração e ela não conseguia pensar em mais nada. Toda vez que se lembrava como seu corpo era quente e a força com a qual ele a segurou, a garota sentia-se excitada.
Tentou novamente se concentrar e organizar um cronograma do que faria ao chegar na cidade. Dez minutos após, estava nos portões de Golden Lake. Fizera o contorno no trevo e entrou nas ruas, indo direto para a casa de sua amiga.

Amanda morava em um bairro no centro, junto com seu pai em um apartamento. Sarah morava no mesmo prédio, as duas estavam juntas pois haviam voltado da festa no mesmo carro e decidiram esperar por Samanta ali mesmo.

A garota parou o carro no estacionamento do prédio e subiu pelo elevador até o décimo andar, já era conhecida pelos funcionários e não houve problemas para entrar. Tocou a campainha do apartamento 235 e aguardou suas amigas abrirem a porta.
- Garota onde você estava?! Você me mata de susto sua louca! - era Amanda, espalhafatosa como sempre, abriu a porta rapidamente e foi abraçando Samanta. Sarah estava logo atrás, com o rosto aflito e as mãos cobrindo a boca.
- Poxa Samanta que susto deu em nós. - disse Sarah, ao esperar a outra amiga se afastar.
- Calma, estou bem... Mas precisamos conversar sentadas pra eu contar tudo... - disse sabendo que não conseguiria esconder nada de Amanda.
As três entraram no apartamento e Amanda fechou a porta.

O apartamento de Amanda era bastante confortável, sua mãe, era estilista e cuidava para que não faltasse nada à filha. Seu pai fora um empresário do ramo comercial, porém após a separação, não conseguiu se manter e faliu, hoje trabalha como mecânico em uma oficina da cidade, e a maior parte das noites dorme no serviço, porém às vezes fica com a filha, que, apesar de tudo o ama. Amanda é bastante independente e embora não precisasse, aceita e aproveita os mimos da mãe.

As garotas foram para a sala e sentaram-se em um sofá branco com cobertura de veludo. Na mesa de centro havia chá e torradas e biscoitos. Amanda serviu uma xícara para Samanta e sentou-se confortavelmente no chão, em um carpete bastante macio.
- Me conta tudo! O que rolou pra você sair daquele jeito sem falar com ninguém?!? Não minta pra mim ou faço da sua vida um inferno! - disse Amanda séria.
- Que horror Amanda, deixa ela ao menos respirar. - foi Sarah tentando acalmar a amiga.
- Bem... - Samanta tomou um gole de chá, pensou um pouco segurando a caneca com as duas mãos. - Eu desci até o deck, procurando o Tony... Quando cheguei lá... Ele... Estava... Beijando a Deby... - a garota olhou para as amigas, sabia que não tivera contado tudo, e Tony seria o vilão da história, mas quis manter em segredo os momentos com Pablo. - Eu peguei o carro e fui embora, chateada... Não quis que vocês ficassem tristes por mim e acabassem indo embora também...
- Aquela vagabunda!!! - disse Amanda levantando-se - Eu sabia que a cachorra estava de olho no maldito! Eu vou sentar a mão na cara da safada! - disse socando uma mão cerrada na outra aberta.
- Mas você não se aproximou deles?! Eles não a viram?! - questionou Sarah.
- Não. Eu me afastei devagar... Estava escondida atrás de algumas árvores... O único que me viu sair dali foi Zack. - Samanta repousou a caneca de chá na mesa de centro.
- Melhor assim... - começou Sarah, sendo interrompida por Amanda.
- Melhor uma ova! Eu teria devolvido a piranha pro rio e socado a cara do vagabundo! Onde já se viu trocar minha amiga por uma desclassificada daquela?! Fala aí o que vamos fazer a respeito Sam?! Estou louca pra rolar num asfalto com salto 15.
- Nada. - respondeu Samanta levantando-se.
- Oi?! - disse Amanda com cara de dúvida e as mãos na cintura.
- Olha meninas, sei que vocês querem me consolar e me dar força. Mas a verdade é que não quero pensar nisso agora. Vou pra casa, descansar... Se mais tarde estiver disposta eu volto pra gente sair ou sei lá. - disse caminhando até a porta.
- Não, espera aí... - Amanda começou a ir atrás da amiga, mas Sarah segurou seu braço.
- Deixa ela ir Amanda.
- Mas, eu...
Samanta deixou as chaves do carro em uma mesa ao lado da porta, se despediu das amigas e foi embora. Nunca tivera saído assim da casa de Amanda, sem despedir-se apropriadamente. Desceu até o térreo pelo elevador e saiu do prédio, indo rumo à estação de trem. Rumo ao condomínio, sua casa.

SPELL - O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora