Capítulo V

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Já era noite, Samanta havia guardado as compras que fizera mais cedo. Terminou algumas lições do Colégio e arrumou documentos para seu pai. Subiu as escadas, e foi para o seu quarto, dirigindo-se até o banheiro. Colocou alguns sabonetes na banheira e ligou a água quente.
A garota parecia ter esquecido suas aflições do dia, nada melhor do que um banho de banheira para renovar a mente e o corpo, era o que Amanda sempre lhe dizia. Retornou à seu quarto e abriu a gaveta da escrivaninha. Havia um tubo preto, ao lado de um dicionário de línguas.

O tubo havia sido entregue à Samanta por Sarah, sua colega de colégio, que era tão sua amiga quanto Amanda. Possuíam em comum o gosto por línguas e culturas antigas, assim como astronomia e ciências ocultas. Era o único elo de Samanta para com o que realmente gostava de verdade.

Ao pegar o tubo pela primeira vez desde que o guardou a dois dias atrás, lembrou-se de como Sarah ficou feliz ao entregar-lhe. Ela dizia ter sido uma conquista inestimável, pois até então nunca tinha visto nada parecido, e o conseguiu facilmente através de uma compra online.
Samanta removeu a tampa do tubo e retirou o pergaminho de seu interior, abriu com cuidado a folha que estava enrolada, repousando-a sobre sua mesa.
Parecia ser bastante antigo, pelo desgaste do papel, várias inscrições em cor vermelho escuro, que na verdade parecia sangue seco, e algumas runas e desenhos na borda. No centro, em destaque, havia o desenho de uma mulher nua em um lago à luz da lua. Samanta ficou tão emocionada e curiosa quanto sua amiga e debruçou sobre a mesa, na tentativa de entender as inscrições marcadas no pergaminho.

Quando percebeu que não teria êxito, preferiu deixar pra depois, pois ainda teria que se arrumar para a festa. A garota pegou um alfinete e juntamente com o pergaminho, foi até um quadro que ficava em uma das paredes de seu quadro, onde fixava seus objetos de estudo. Ajeitou a folha sobre o quadro com uma das mãos e com a outra foi espetar o alfinete, quando um barulho em sua mesa a assustou, fazendo-a espetar o dedo. Era Caleb, seu gato de estimação que havia, provavelmente voltado de uma caça durante o dia.
- Caleb seu gato feioso! Você me assustou de verdade dessa vez. - disse ao ver o bichano com seus grandes olhos azuis e pelagem completamente branca sobre sua mesa.
Terminou de fixar o alfinete, e com a ponta do dedo na boca, foi até sua mesa dar uns afagos no gato, sem perceber que acabara por sujar a folha com seu sangue.

Samanta tratou de encher o comedouro de Caleb, que ficava em seu quarto, com ração e colocou o gato para comer. Foi até o banheiro e desligou a água da banheira. Tirou sua roupa e mergulhou satisfeita na água quente. O perfume agradável fez a garota se esquecer completamente de tudo, e ela aproveitou seu tempo sozinha, não com pensamentos complexos sobre sua vida agitada, mas apenas com o prazer do momento.

Em seu quarto, Caleb encarou o pergaminho fixado no quadro. A mancha de sangue deixada por Samanta tornou-se negra a medida que percorria a folha, até chegar ao final da mesma, transformando-se em uma nova inscrição.

- Felly y bo!

Samanta saiu da banheira e foi para o closet vestida em seu roupão, escolheu a roupa que usaria na festa, um vestido curto estampando, jaqueta de couro, botas que iam na altura da canela e um cinto fino, sobreposto ao vestido. A garota se arrumou em menos tempo do que de costume. Foi até seu quarto e pegou o celular, ligou para sua amiga Amanda e enquanto esperava pela chamada foi dar uma última olhada no espelho.
- Alô?! Samanta.
- Oi amiga, você está pronta?!
- Sim, peguei o carro do meu pai, já passo aí na sua casa. Fica linda pra mim tá bom?!
- Tudo bem gata. - disse sorrindo.
Enquanto finalizava a chamada, percebeu através do reflexo do espelho, a mancha negra no pergaminho, que antes não estava ali. Foi depressa até onde estava fixado e com o rosto torcido, tocou na página, quando sentiu uma forte tontura, vários flashes, como se fossem memórias começaram a aparecer em sua cabeça e tudo a sua volta começou a girar. A garota deu três passos para trás, sua vista escureceu e ela caiu de repente.

SPELL - O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora