Capítulo VIII

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A lua estava alta nos céus, escondida sobre nuvens escuras, com a chegada do inverno, cada dia era mais cinza, deixando o clima frio e seco.

Rachel estava ferida e faminta. Estivera andando pela floresta já há algum tempo. Suas pernas doíam e ela cobria seu tórax com os braços, na tentativa de aquecer o corpo. Não estava a procura do mascarado, mas não esquecera daquele que a atacara sem explicação alguma. Por mais algumas horas andou, parecendo saber para onde estava indo, e realmente sabia.

A família Hawkeye foi uma das fundadoras de Golden Lake, que na época tinha outro nome, Oak Village. Eles possuíam diversas terras e imóveis. Muitos deles foram leiloados, devido o desaparecimento dos herdeiros da antiga família naquelas terras, quando a cidade fora restaurada. Alguns desses imóveis, no entanto, não foram tocados, como a casa grande na encosta. Rachel estava se dirigindo à outra casa que fazia parte do espólio da família. A casa de campo.

A garota seguiu um caminho fechado até achar uma trilha, que era uma antiga estrada de acesso. Há muito tempo aquela casa não era visitada, fazendo com que os caminhos até ela houvessem sumido, o que na verdade, era confortante para a garota. Seguindo a trilha, Rachel deparou-se com um muro, tomado por gavinhas secas, havia um portão negro envelhecido, com algumas partes enferrujadas e os dizeres Família Hawkeye moldado em ferro fixado no mesmo.
- Grande coisa. - disse a garota olhando para o portão, que estava trancado com uma corrente grossa e um imenso cadeado.
Rachel pegou uma pedra e começou a bater no cadeado até quebrá-lo, o que não foi difícil pelas condições que se encontrava.

A garota vasculhou sua bolsa e retirou de dentro um saco de tecido, amarrado por uma fina fita de couro. Abriu o saco e retirou uma pequena quantidade do que parecia ser um tipo de areia fina e branca. Jogou o pó para dentro do portão, sobre os dizeres:
- Mae'r swyn mor hir wedi ei selio gan y tywod o amser yn ddatgloi.

Uma luz clara surgiu à frente de Rachel, e logo desapareceu, como se revelasse o reflexo de uma barreira de vidro. O portão abriu-se sozinho com um forte ranger e a garota adentrou o terreno. O portão fechou-se logo após, seguido novamente pelo brilho.

Rachel caminhou por uma estrada de blocos de pedras, olhou em volta, para o que um dia fora um belo jardim, com diversas plantas, flores e esculturas. Hoje tudo era tomado por mato seco e gavinhas retorcidas. Alguns bancos de pedra, que fora branca, ficavam dispostos ao lado da estrada de blocos. Mais a frente, uma fonte abandonada, dividia a estrada em quatro direções, a da frente levava até a casa, a da esquerda até um jardim diferente, que na verdade era um labirinto de gavinhas, e a direita levava até uma estufa. A garota continuou caminhando a frente, ainda com muito frio e mancando. Estava escuro naquele lugar, mais até do que na floresta.

A casa, de repente, começou a ficar visível, era feita em pedra com vários detalhes de madeira, hoje apodrecida e escura. Haviam grandes janelas nos dois andares da casa e uma porta enorme de madeira negra bloqueava o caminho de entrada. Subindo no alpendre de madeira, a garota foi diretamente à porta e girou a maçaneta. Estava trancada. Retirou de sua bolsa uma chave antiga de ferro e abriu a porta pesada, adentrando a casa. Estava tudo muito escuro lá dentro, Rachel pegou uma lanterna em sua bolsa e iluminou o local. Havia um salão logo na entrada, com uma escadaria à frente que dava para o andar de cima, onde ficavam os quartos, aos lados direito e esquerdo, haviam portas grandes que levavam para a biblioteca e cozinha, respectivamente. A garota tomou o lado esquerdo, sem se preocupar com as muitas baratas e ratos que corriam para os cantos quando a luz os revelava.

Ela queria, naquele momento, achar uma resposta para o motivo de ter sido atacada, e só naquele lugar poderia encontrar. A dor e o frio, a fome e o cansaço não eram tão fortes quanto a vontade de ter um alvo para eliminar.
Adentrou a biblioteca, passando por uma porta grossa de madeira apodrecida e fitou as estantes lotadas de livros velhos, corroídos pelo tempo e pelos insetos. Caminhou até o centro do cômodo ao lado uma mesa, usada por seu avô nos trabalhos que fazia em casa. Aos seus pés uma tapeçaria antiga e desgastada. Colocou a lanterna sobre a mesa, focando para o chão e segurou o tapete pelas pontas, fazendo esforço para ficar em pé, devido a perna machucada, puxou o tapete com muita força, espalhando poeira pelo local e revelando um alçapão.

SPELL - O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora