Capítulo XIII

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O parque do condomínio de Golden Lake abrigava o lago que nomeava a cidade. Tinha esse nome pois suas águas refletiam o pôr do sol de forma majestosa em qualquer estação do ano. Diziam que ninguém nunca soube explicar o porquê, que era algo quase sobrenatural. O lago já estava aqui quando a família Hawkeye ainda era dona das propriedades.
Os moradores decidiram fazer um parque para que todos pudessem ter acesso à esta beleza natural, então o prepararam com belos canteiros, caminhos de pedra branca lapidada e bancos e playgrounds, chafarizes e fontes.
Naquele dia excepcionalmente, o tempo estava agradável, o frio tivera dado um tempo e as pessoas aproveitaram para passear no parque.

Tony estava em um banco, em frente ao lago, olhando a paisagem. Estava ali já há algum tempo, tivera chegado mais cedo, gostava de se antecipar em todas as ocasiões.
Mesmo distraído, olhando alguns cisnes que nadavam ao longo do lago, Tony virou-se para o lado quando Samanta apareceu pelo caminho de pedras brancas. Ela estava com os cabelos negros soltos, a pele alva brilhava com a luz do sol, seus olhos azuis se destacavam à distância. Estava usando um vestido curto branco e sapatos baixos com estampa florida, segurava uma pequena bolsa rosa.

A garota chegou sentou-se ao lado de Tony.
- O que você tem para me dizer. - disse secamente.
- Samanta eu... Não sei como dizer isso mas... - disse sem olhar a garota.
- Não deve ser tão difícil dizer, você tem tanta desenvoltura quando quer ter. - Samanta estava sentindo-se mal, ainda estava confusa com a noite anterior, muita coisa havia acontecido e ainda não esperava uma conversa tão tensa com Tony.
- Você tem razão... Preciso resolver isso agora... É algo que me deixou sem sono esta noite... - o rapaz levantou-se, ficou de frente à Samanta. A garota ficou tensa de repente, cerrou as mãos que estavam repousadas no banco.
- Cuidado com o que vai me dizer Tony... - Samanta pensou, estava muito tensa e sua boca estava seca, não sabia como iria reagir caso ele dissesse abertamente sobre a cena que ela havia visto na noite anterior no deck.
- Seja a minha noiva! Quero ficar pra sempre com você! - disse ao ajoelhar-se, tirou uma caixinha vermelha de veludo do bolso, em seu interior, havia um anel prateado, com três diamantes segmentados.
Samanta congelou por um momento, com aquele gesto, Tony a deixara sem chão. Não estava preparada para ouvir a verdade, muito menos para ouvir um pedido de noivado, Tony parecia estar sendo sincero quanto ao pedido, mas havia o problema do beijo em Deby, um assunto que ele nem mesmo houvera tocado.
- Tony eu... - disse desviando o olhar, com semblante triste.
- Não precisa responder agora Sam, sei que tem problemas para resolver, com seu pai... Pense por uns dias. Estamos juntos há algum tempo e nos conhecemos bem... Estamos prontos pra dar um passo em nossa relação. - foi como um tapa na cara da garota, tudo aquilo era mentira, de ambos os lados, Samanta quis terminar tudo ali mas decidiu dar uma oportunidade aos dois, afinal também não estava sendo honesta com o rapaz.
- Tudo bem. Vou pensar sim Tony. Acho que nós dois temos que pensar bem nisso. É um salto muito grande em nossas vidas, devemos avaliar tudo e sermos sinceros para que isso dê certo. - desta vez Samanta disse tudo olhando nos olhos do rapaz na tentativa de, ainda ali, arrancar algo dele.

Tony sorriu, abraçou Sam de surpresa, a garota meio sem reação o abraçou levemente. Os dois ficaram sentados no banco por mais um momento, olhando para o lago. O rapaz por diversas vezes comentou sobre a festa da noite passada, mas em momento algum citou o nome de Deby, nem a presença de Samanta. Parecia que ninguém o tivera alertado sobre isso.
Samanta decidiu acreditar em tudo e afastar a imagem de Pablo de sua mente, mas por várias vezes lembrava-se de seus braços fortes a trazendo próximo ao seu corpo, todas essas vezes ela se confortava em Tony, mas não era a mesma sensação.

Rachel avistou a cidade, por mais que estivesse apressada e ansiosa, reduziu a velocidade do carro. Mudou algumas luzes do semáforo quando lhe convinha, havia muito trânsito nesta hora do dia, mesmo para um domingo. A garota não gostava de ser contrariada e o trânsito era um desses momentos onde sentia-se assim.

Apenas o que queria agora, era a página, era ser dona do Livro das Sombras, o que neste momento, estava começando a se tornar dificultoso, já que estava sendo caçada por um Paladino e momentos atrás, alguém fizera o feitiço de iniciação, primeiro passo para tornar-se dono mesmo. Ela sabia quem poderia ser... Sarah! A garota de quem estava atrás neste momento.
- É bom que, de alguma forma, você tenha iniciado esse feitiço por algum acidente... Se for o caso, tentarei poupar sua vida...

Rachel já estava próxima ao centro, onde ficava o prédio de Sarah, perdida em seus pensamentos, mudou a cor de um semáforo em cima da hora, não viu quando de repente uma van vinha pela rua à direita no cruzamento, e chocou-se contra seu carro violentamente, fazendo-o rodar e bater em um poste na rua paralela. A garota estava sem cinto, e o carro não possuía airbags.
Na batida, sofreu uma contusão na cabeça, estava inconsciente.

Era próximo das cinco horas. Tony e Samanta haviam ficado a tarde toda no parque, como já fizeram tantas outras vezes. Esta no entanto não tivera sido tão agradável. Em meio à tantos pensamentos, havia uma luta moral na cabeça da garota, já tinha decidido deixar tudo pra lá. Mas todas as vezes em que era tocada pelo rapaz, lembrava-se de Pablo.
Tentava pensar em outra coisa, na página. O que era tudo aquilo? Os demaios, as visões, aquela luz que, magicamente emanou pela folha. Outra pessoa estaria aterrorizada, mas Samanta sempre teve curiosidade sobre essas coisas ocultas, mistérios sobrenaturais. Já torceu para que acontecesse algo assim com ela, mas quando se torna real, é diferente.
- Sam?! - perguntou Tony, com a voz alta.
- O-oi?! - Samanta assustou-se.
- Estava pensando no meu pedido?! Pode ser em outro momento, hahaha, perguntei se já quer ir embora.
- Ah sim. É, vamos, tenho que ver a Sarah, na escola. - disse envergonhada, estivera flutuando em pensamentos, não viu que já era tão tarde.
- Sim você me disse. Não quer mesmo que eu a leve de carro?! Será mais rápido. - Tony levantou-se e ajudou Samanta, estavam sentados no gramado, mais próximos ao lago.
- Não precisa. Tenho que ler um livro, aproveito o trem pra fazer isso. Mas pode me levar até a estação... Se você puder.
- Claro que sim. Não precisa de frivolidades pra isso. - Tony sorriu.
- É, tem razão. - a garota também estranhou, nunca havia precisado pedir algo como se fosse um favor à Tony. Talvez estivesse se esquecendo de como lidar com ele enquanto seu namorado. - Quer saber, leio o livro depois. Vamos no seu carro. - passou o braço do rapaz sobre seu pescoço e foram caminhando até a entrada do parque.

Samanta entrou em sua casa, pela porta dos fundos. Da cozinha, foi para a sala e subiu pelas escadarias até o acesso aos quartos. No andar de cima haviam três quartos, o seu, o de seu pai e um outro que era usado como escritório. A garota parou próxima ao quarto de seu pai, tentou escutar algo. Sem resposta, foi para o seu próprio quarto.
- Deve estar dormindo... - pensou.
Ao abrir a porta de seu próprio quarto, deparou-se com seu pai, sentado em sua cama, com a página dada por sua amiga Sarah em suas mãos.
- Você vai me dizer o que é isto? Ou vai continuar mentindo para seu pai?!

SPELL - O Livro das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora