2- Um menino de expressão vazia chega em minha casa

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Quando ele chegou, eu me irritei de imediato.

Meu deus, POR QUÊ? Porque ele tinha que estar SEMPRE com a expressão vazia?

Eu sinceramente queria ter um botão desliga só pra ele trocar de expressão. Eu queria gritar, resmungar e sair dali o mais rápido possível para NUNCA mais ver aquela expressão novamente. Mas me forcei a ficar calma.

"Milena, calma, calma, você não pode estrangular o menino. Ele acabou de perder os pais, dá um descanso, só hoje...".

E assim eu me forcei a falar:

— Oi.

ME DESCULPE MUNDO.

Mas era o melhor que eu poderia dizer sem acabar fazendo alguma besteira do tipo gritar por ele continuar com a droga da expressão vazia.

— Oi.

Ele respondeu. Graças a Deus tentando suavizar a expressão vazia.

Mas como eu disse, tentando.

Fechei os olhos fortemente na vã tentativa de que quando abrisse de novo não estrangulasse o cara.

Mas quando os abri, os olhos dele tinham um brilho que eu reconhecia muito bem.

Seus olhos lacrimejavam.

Quando observei isso, tudo que eu pensava daquele idiota que nunca mudava de expressão se dissolveu em meu peito quando vi lágrimas rolando em seus olhos. E eu realmente senti pena dele. Como eu não sou movida a razão e sim à emoção eu simplesmente dei um abraço apertado nele.

Sim, eu dei um abraço na pessoa MAIS chata do universo.

— Eu sei, eu sei. Não chora.

Eu disse surpreendendo até a mim mesma.

Depois disso me soltei dele depressa e vi o seu olhar... Droga. Sem expressão novamente. Por que mundo? E então a raiva voltou ao meu peito. E eu me vi revirando os olhos e suspirando pesadamente. E vi a tristeza estampada no seu rosto e me repreendi mentalmente. Droga. Por que eu fui fria assim? O cara perdeu os pais. Mas antes que eu acabasse completamente comigo mentalmente, Annie interrompeu a minha auto-reclamação mental.

— Erick querido, bem-vindo.

Ele virou a cabeça devagar para Annie entrar em seu campo de visão. Pela sua expressão de uma leve surpresa em sua expressão vazia eu soube que ele provavelmente não tinha visto Annie ainda.

Mas quando ele percebeu, respirou fundo e assentiu com a cabeça tristemente.

E Annie pareceu finalmente perceber que ele definitivamente não estava bem.

Depois de muito trabalho e muitos "Você precisa dormir, querido" de Annie finamente ele foi descansar em minha cama. Eu dormiria na cama de Sophia junto com ela. Mas eu não me entristeci por que minha irmã era um doce até quando estava dormindo.

Depois de Erick ir dormir eu falei que Sophia também deveria ir para não dormir muito tarde. Ela nem reclamou. Eu já disse que ela era um doce?

Depois que ela foi dormir eu abracei Annie como nunca tinha abraçado antes. Um abraço totalmente carinhoso e amoroso. Do tipo que se dá quando se quer transmitir amor. E a ouvi fungando. Logo saí de seus braços e limpei suas lágrimas.

— Annie você é forte, certo?— Ela assentiu — Então, olha, você supera essa!

E pisquei pra ela no final.

Annie simplesmente assentiu de novo, limpou as lagrimas e disse:

— Certo. Mas agora você precisa ir dormir. Está tarde.

Em qualquer outra ocasião eu discutiria. Mas ela não merecia isso. Então eu simplesmente assenti e fui tomar banho pra dormir.

Quando saí do banho e me vesti me sentei na cama e peguei meu celular para olhar as mensagens do whatsapp. Meu celular não era o mais moderno do mundo. Mas também não era o pior do mundo. Ele era touch screem e tinha o básico, era muito pequeno, mas tinha o que eu precisava. Annie não tinha como comprar algo muito caro então eu me contentava com aquele. Mas voltando ao assunto, fui olhar o meu whatsapp, e tinha algumas mensagens da minha melhor amiga. Da minha melhor e única amiga.

Seu nome era Maria Luisa. Mais conhecida como Malu. Malu tinha um lindo cabelo castanho claro liso. Que ela fazia questão em bagunçar. Olhos que eu sinceramente sempre invejei, que eram uma espécie de cor de mel. Sua pele era branca mais não extremamente branca. Ela sempre foi um pouco menor do que eu mais eu sempre fui alta. Então eu diria que ela sempre teve estatura mediana. Ah, e fora isso ela usava óculos enormes em seus olhos e sempre foi muito fofa.

Eu tinha conhecido ela assim que me mudei pra casa de Annie. Ela e a família dela sempre moraram na casa ao lado — morávamos em casas não em prédios por isso ela morava na casa ao lado. É, não morávamos num bairro chique ou numa casa chique, mas nunca nos importamos com isso porque por causa desse bairro nós nos conhecemos — então tudo que acontecia eu falava com ela, por whatsapp ou ao vivo. Nossa história é um pouco complicada para ser descrita rapidamente, então eu encurtarei as coisas dizendo que nos tornamos muito amigas.

A sua mensagem estava assim:

"Lena, e ai? O que houve com você e essa coisa toda? O que aconteceu?"

Calmamente escrevi tudo o que tinha acontecido desde que Erick tinha chegado em casa. O resto ela já sabia. E essa foi a sua incrível resposta:

"Caramba. Que aventura, hein... eu sinto muito mesmo Lena."

"Que nada, Malu."

Eu sabia que ela ia falar que era sim então pra não continuar com esse assunto eu resolvi mudar de assunto escrevendo logo em seguida:

"Tas fazendo o que?"

"To deitada escutando musica e falando contigo, e tu?"

"To sentada na cama e pronta pra dormir"

"Ah então vai dormir, né!Boa noite!"

Eu sabia que dizer algo como "Num se preocupa eu durmo daqui a pouco" não tiraria a idéia da cabeça dela de que eu precisava dormir, então me limitei a escrever:

"Boa noite, Malu"

Logo em seguida eu fui dormir, com a esperança de que aquele dia nunca mais habitasse em minha cabeça.



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