A caminho do seu coração

Prólogo

Segundo semestre de 2012.

O dia estava particularmente ensolarado para o frio que ultimamente fazia em Caxias do sul, não que eu seja um parâmetro para frio, a julgar o quanto sou frienta. Coloquei uma roupa mais leve, e guardei o casaco na mochila para caso esfriasse ao decorrer do dia. Os últimos dias em casa tem sido tensos devido minha viagem para a França, resolvi fazer um intercambio para terminar meus estudos, nem pensei que eu fosse passar devido a grande concorrência, mas pelo visto ter estagiado como voluntária naquele laboratório de doenças infecto contagiosas impulsionou-me a tão sonhada vaga de intercâmbio. Saí de casa por entre olhares tristes de minha mãe e por olhares acusatórios de meu pai, eles estavam receosos quanto minha ida e tudo que eu iria deixar aqui: família, amigos e bom, namorado. E este era um ponto que me perturbava bastante, eu ainda não havia falado para ele que eu tinha sido selecionada, na verdade, ele não sabe nem das minhas aspirações de estudar fora.

Esse era o meu maior problema atualmente, encarar o Diego e dizer para ele "Oi, Tchau eu tô indo pra França e volto daqui a dois anos tá". Acredito que devido a isso eu ainda tenha protelado este momento. Nos conhecemos desde a o início da faculdade de Medicina, ele tinha passado com a nota mais alta e bom, eu estava entre os vinte primeiros colocados, e por isso não considerava muito inteligente logo no começo. Diego se aproximou de mim enquanto eu estava ligeiramente enrolada com uma atividade que testava nossas habilidades. Para não dizer enjoada até de tanto nervoso. Ele prontamente veio até mim e ajudou-me no que ele podia e sabia, e ele sabia muita coisa para um calouro. Com um sorriso largo e que fazia covinhas nas bochechas Diego foi se aproximando e ao final do nosso primeiro ano de curso já estávamos juntos. Este ano vamos fazer dois anos de namoro e logo na semana seguinte eu embarco para Paris.

O sol estava realmente forte nesta manhã e o caminho até a parada de ônibus que me levaria até a Universidade foi muito mais difícil devido o calor. Ajeitei a pasta com os documentos que me foram solicitados e aguardei pelo ônibus. Foi uma espera curta, e para a minha surpresa encontrei minha amiga e colega de turma Rebecca Fonseca, ela sabia de tudo, apoiava-me em quase tudo, exceto no fato de eu estar iludindo o Diego, como ela mesma diz. "Olá amiga, pensei que não fosse ter estagio hoje!" comentou ela dando-me um abraço e um beijo no rosto, ainda me dirigindo ao banco vazio do seu lado expliquei que eu iria entregar os papéis para a coordenadoria de extensão, que fica responsável por esse tipo de mobilidade acadêmica. Rebecca logo fez um careta, uma expressão de descontentamento ainda relacionada ao Diego. "Eu vou contar para ele amiga, é só que eu ainda não sei como" ela respirou fundo e olhou para o lado oposto ao meu, qualquer assunto que precisasse ser dito entre nós tinha morrido. E então, fizemos o trajeto até a universidade da forma mais quieta possível.

Despedi-me dela e combinamos nos ver na aula de mais tarde. No caminho que levava a coordenadoria topei com Diego e alguns amigos de Odonto. Fiquei tão feliz em vê-lo mas logo entristeci lembrando do que eu estava fazendo. Diego era encantador, romântico na medida certa, com ideias tão humanistas, ele tinha como ambição de vida tornar-se um médico respeitado e engajado com a comunidade mais carente, ele ainda não sabia qual especialidade, mas já tinha traçado praticamente um plano de vida, um plano que me incluía também, precisamente no consultório ao lado como uma endocrinologista de sucesso.

_ Meu amor – aproximou-se de mim segurando meu rosto com as duas mãos para me beijar, impedi seu beijo e ele estranhou – o que foi? Aconteceu alguma coisa? – fiz uma expressão de irritada e olhei de cara feia para o jaleco dela apoiado em seu braço – Oh ôu, juro que esta será a última vez! – sorri da sua reação.

_ Nem parece que tirou Excelente em Biosegurança! – Os meninos, Clebson e Alberto sorriram e logo tentaram esconder seus jalecos por detrás do corpo – Eu já vi, tratem de arranjar um jaleco limpo e esterilizado antes de entrarem no laboratório de vocês viu! – recomendei toda mandona.