Capítulo 1- O retorno

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A iminência de meu retorno fazia meu estômago revirar. Voltar para o Brasil não era bem uma opção para mim. Eu nunca tinha sentido a liberdade de fato antes de chegar aqui. Até o ar daqui é melhor do que de Caxias/RS. Ainda me lembro de que quando desembarquei em Paris, meus olhos estavam inchados e olheiras profundas acentuavam-se devidos os fios escuros do meu cabelo. Eu estava arrependida, mas assim que eu fui conhecendo a cidade e as pessoas, percebi que eu tinha feito a escolha certa, algumas coisas precisam ser deixadas para trás para que outras possam florescer e crescer em toda a sua capacidade. E foi assim comigo.

Como eu só falava inglês precisei fazer um intensivão de francês, com o cotidiano e com as aulas a fluência no idioma não demorou muito a chegar. Minha tutora foi maravilhosa comigo em todo o momento, até que ela mesma observou que eu já estava apta a me virar sozinha, para preocupação de minha mãe. O primeiro ano foi praticamente de adaptação com a língua, com a cultura e com as pessoas. Tive algumas disciplinas durante o ano e para a minha sorte, muitos professores ajudavam-me explicando após a aula tudo em inglês, até mesmo alguns colegas de turma faziam isso por mim. Senti-me bastante acolhida. Claro que passei por coisas desagradáveis, como por exemplo, quando eu resolvi sair com uma blusa com a estampa da bandeira do Brasil e ouvir de alguns homens qual era o meu preço. Ou seja, ligavam o brasil a prostituição, ou melhor, as mulheres brasileiras.

Felizmente, praticamente todos da minha turma eram pessoas sensatas. Ninguém me tratou mal por eu ser brasileira, exceto um rapaz chamado Juan (que por sinal era Mexicano) que dizia ter nojo dos latinos, Oi? Olhe-se no espelho primeiro Juan e depois veja de quem é o nojo que você sente. Nicole foi a primeira pessoa no qual eu me aproximei, apesar de ela ser bastante reservada. Com seus cabelos curtos e cachos bem definidos ela definitivamente era uma linda moça, no entanto, ela se sentia feia, e eu fazia de tudo para convencê-la de que ela era linda. Rapidamente nos tornamos inseparáveis. Vai ser difícil me afastar dela. Além do mais, tem o Raul e o Oliver, duas pessoas incríveis e com um coração de ouro, inclusive no final do ano passado eu e o Oliver (um loiro de olhos azuis perdidamente lindo) confundimos nossa amizade e nos envolvemos amorosamente, felizmente caímos na real e vimos que éramos apenas amigos.

_ Sofia, o que faz tão pensativa aí neste banco? - perguntou Raul aproximando-se, um moreno claro de olhos verdes que fazia muitos homens e mulheres irem a loucura. Olhei para ele com um sorriso fraco e fiz com a mão para ele se sentar.

_ Viajo daqui a cinco dias! - eu disse olhando-o entristecida.

_ Ah, é mesmo! Desculpa, eu ainda não consigo acreditar que você vai embora! Poxa vida! E agora com vamos ter acesso às músicas brasileiras? E quem vai fazer brigadeiro para a gente? E quem vai dizer pro Oliver que já tá bom de academia? - ele dizia tudo isso teatralmente fazendo-me rir.

_ Não sei como vocês vão viver sem mim! - abraçamo-nos por alguns segundos - ansioso para a formatura? - perguntei com um brilho reanimado no olhar.

_ Com certeza! Uma pena seus pais não poderem ter vindo! Com essa crise econômica assolando o mundo, tá tudo bem complicado mesmo! - ele disse fazendo beicinho.

_ Acho que foi por isso que adiantaram minha passagem! - eu ri triste.

_ Hey, amanhã depois da formatura nós seremos finalmente livres, eu serei o cirurgião plástico mais badalado de toda a França, a Nicole a dermatologista que nunca envelhece - dei uma piscada para ele - e você a Endocrinologista mais gata e mais competente de Caxias do sul meu bem, fica triste não! A gente vai te visitar quando a gente receber nosso primeiro salário!

_ Isso é uma promessa?

_ Claro! Agora vamos que o Oliver já deve tá no quinto sono me esperando!

A caminho do seu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora