Trouble, Kisses and Rain

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Eu já estava na terceira aula do dia e minha cabeça não parava de latejar, apesar deu não ter bebido muito na festa de ontem, eu estava me sentindo como se tivesse bebido a fábrica inteira da Heineken. É nisso que dá achar que aguenta beber no mesmo ritmo de universitários. Eu sentei na última cadeira da sala de aula, tudo o que o professor dizia na frente da classe chegava até mim como se fossem zumbidos indecifráveis. Pelo menos depois daqui seria o almoço e eu poderia procurar algum remédio para dor de cabeça ou algo que fizesse tudo parar de girar.
Ontem, eu e a Iz chegamos ao dormitório 1:30 da manhã, teríamos sido mais rápidas se ela não caísse a cada passo que dava. Ela tinha bebido mais que eu e aquilo estava muito claro, já que quem carregou ela em direção ao quarto fui eu. Essa nem foi a pior parte, eu tive que aguentar também uma Izzie bêbada falando o quanto o Louis era fantástico e que o Harry era perfeito para mim, por que nós dois somos chatos e pouco animados. Eu não respondi também as provocações dela, por que eu sabia que na manhã seguinte ela não lembraria de absolutamente nada do caminho de volta da festa.
- Você perdeu uma oportunidade maravilhosa, Leah. - Iz disse quase levando o quinto tombo da noite.
- E qual seria essa "oportunidade maravilhosa", srta. McQueen? - respondi tentando fazê-la andar.
- Já falei para não me chamar assim, me sinto como a minha mãe. E a oportunidade da qual estou me referindo é a de ficar com o Harry. Ele está muito a fim de você, e eu consegui ver isso do outro lado da sala. - ela disse e eu corei violentamente.
- Impossível você ter visto algo enquanto jogava charme para o Louis, paquerar exige 100% da sua atenção. - respondi rindo e entrando no prédio dos quartos.
- Eu podia estar até beijando um cara que eu veria o Harry te encarando parecendo um cachorrinho, Le. E, a propósito, paquerar só exige 70% da minha atenção, eu consigo fazer outras coisas ao mesmo tempo. - ela disse descaradamente se jogando na cama quando entramos no quarto.
- Meu Deus, Izzie. Acho que o dia para você já acabou, melhor irmos dormir antes de você falar mais alguma coisa que não falaria se estivesse sóbria. - terminei de falar e fui para o banheiro.
A porta da sala se abriu e vários universitários começaram a sair da sala. Isso serviu para me acordar dos meus devaneios e lembranças sobre ontem. Levantei da minha mesa e me dirigi à saída até ser barrada por alguém.
- Olá - ele falou abrindo um sorriso que ficava bem ao contrastar com os olhos azuis e o cabelo loiro.
- Oi, Niall. - falo parando para cumprimenta-lo.
- Você saiu ontem da festa e eu nem vi, acabou indo embora sem se despedir de mim - ele falou fingindo estar magoado e cruzando os braços.
- Me desculpe, acabei perdendo a noção do tempo e quando percebi que já estava tarde saí bem rápido. Tem algo que eu possa fazer para me redimir? - perguntei me segurando para não rir da cara de criança chorona dele.
- Na verdade, tem sim. Poderia ser minha companhia no almoço? - ele disse estendendo o próprio braço para eu entrelaçar e erguendo uma sobrancelha.
Entrelacei nossos braços e começamos a andar até o refeitório. O Niall era muito legal, ele conseguiu me fazer esquecer da minha dor de cabeça enquanto me contava histórias engraçadas que acontecem durante faculdade. Ele me falou da vez que invadiram a casa de outra fraternidade para pegar comida e bebidas, simplesmente pelo fato da deles ter acabado, mas acabaram sendo pegos por uma faxineira que expulsou eles da casa com uma vassoura.
- Você está rindo? Não foi você que apanhou de uma velhinha. - ele disse fingindo estar ofendido - Ela batia forte, se duvidar ainda tenho as marcas.
- Não culpe ela, vocês que estavam errados! - eu falei rindo e dando um tapa fraco no braço dele - Ela só estava protegendo a casa de baderneiros como vocês.
- Ai! Você é mais forte do que parece - ele disse fazendo cara de dor.
- E você é muito dramático, foi só um tapinha, nem doeu.
- Quem disse? Está doendo mesmo! - ele virou para o outro lado.
- Sério? Me desculpa, Niall, não queria que te machucasse, sério, me perdoa. - falei preocupada, ele não estava mais olhando para mim. Cadê os olhos azuis brilhantes? - Sério, já pode olhar para mim de novo, já me desculpei.
Então ele virou, mas ele não parecia bravo, só surpreso.
- Relaxe, Le. Não doeu nada, eu só estava fazendo charme, mas você se preocupa tanto assim? - ele falou abrindo um sorriso.
- Ei! Não se pode brincar com essas coisas, eu, realmente, pensei que você estava ferido. - eu respondi mais aliviada por ter sido brincadeira.
Eu e o meu acompanhante loiro pegamos nossa comida e fomos para a área externa. Sentamos à sombra de uma árvore e só depois que um silêncio se instalou eu percebi que era a mesma árvore que fiquei sentada com o Harry no dia anterior. Mas não tive muito tempo para me afogar em pensamentos, o Niall não deixaria nossa conversa morrer.
- Você pegou o último pudim. Isso é injusto, o amante de pudim aqui sou eu. Troca comigo? Tenho bolo de chocolate. - ele disse me oferecendo uma caixa com a sobremesa.
- Me desculpa, eu também amo pudim, essa troca não vai acontecer, meu amigo. - falei e coloquei meu pudim atrás das costas.
- Eu juro que tentei do jeito fácil, mas você sabe que nada acaba bem quando se metem entre mim e meu doce preferido. - ele falou olhando para o céu e erguendo as mãos. Ele abaixou o olhar e me encarou - Leah, sinto te informar que seu fim estará próximo se não me der esse pudim. Estou te dando a última chance.
- Eu deveria ter medo? Tem um cara loiro de olhos azuis me encarando, não dá para sentir medo. - respondi.
- Deveria, não se deve negar doces à irlandeses. - ele disse olhando para o pudim atrás de mim.
- Calma ai, você é irlandês? - mais um fato que só o tornava uma pessoa mais legal.
- Sou. Legal, né? Mas voltando... Me dá o pudim, Leah. - ele falou chegando mais perto do doce.
- Fala sério, não, Niall.
- Não diga que não avisei. - então ele pulou.
Sim, ele pulou em cima do pudim. Sim, consequentemente, ele pulou em cima de mim. Por causa de uma sobremesa. Eu segurei a caixa para ele não pegá-la, mas ele fez cócegas em mim até eu não conseguir respirar direito e ser obrigada a soltar ela. Ele levantou triunfante erguendo sua nova conquista.
- Você não devia fazer esse tipo de coisa por comida, você quase me matou - o fuzilei ajeitando meu cabelo que estava todo bagunçado.
- Tudo por ela. - ele disse abrindo e comendo o pudim.
Enquanto o Niall comia o troféu dele eu decidi olhar o cenário ao redor. Alguns casais rindo. Amigas conversando. Rodinhas de estudos. Tudo parecia harmonioso e leve, tudo em seu lugar, tudo onde sempre deveria ficar. Mas então meus olhos pararam em alguém. Lá estava ele, nos encarando. Há quanto tempo ele estava ali? Será que ele viu tudo com o Niall? Ele com certeza deve ter entendido tudo errado. Nossa, Leah, como você foi estupida. Quando ele percebeu que eu o vi, ele só me encarou nos olhos, se virou e sumiu do meu campo de visão.
Eu não sei o porquê deu ter ficado preocupada com o Harry ter visto eu junto com o Niall, afinal eu não tinha nada com ele, eu não tinha nada com nenhum dos dois. Mas mesmo não entendo o motivo, eu fiquei nervosa. Levantei do chão e avisei ao Niall que eu tinha aula e precisava passar no meu quarto para pegar uns livros, ele reclamou um pouco por eu ir embora tão rápido, mas me deixou seguir para o dormitório.
Harry estava me tirando do sério. Um dia ele me deixa bem claro que é insuportável, mal humorado, antipático e grosso. No outro ele me mostra outro Harry completamente diferente, um inteligente, legal, atencioso e charmoso. Se ele continuasse mudando bruscamente de personalidade eu iria enlouquecer.
Eu falei ao Niall que iria ao meu quarto, mas na verdade era uma desculpa para eu procurar o menino dos olhos verdes. Eu tinha que tentar ver se ele tinha visto tudo e se viu, tentar explicar a cena, mostrar que ela não era o que parecia. Eu o procurei em todos os cantos, mas não achei e só faltavam 5 minutos para minha aula. Desisti, eu conversaria com ele depois, eu não podia me atrasar. Corri para chegar na classe antes do professor entrar.
Passei o resto das aulas anotando coisas e tentando entender o que os professores falavam. No fim da última aula eu tinha conseguido entender boa parte dos assuntos e meu nível de cansaço tinha dobrado. Cheguei no quarto crente que finalmente iria descansar e ter sossego, mas estava longe disso acontecer. Ao abrir a porta me deparei com Iz se agarrando com o Louis, eu, sinceramente, pensei que ela esperaria mais um tempo, ou pelo menos, que faria isso longe da minha vista, mas parece que a Izzie universitária era mais rápida que a Izzie do colegial.
- Eu achei que esse era meu quarto, mas me desculpem, devo ter errado a porta. - falei fazendo ambos perceberam minha presença.
A Iz corou imediatamente, mas o Louis não pareceu se importar, na verdade ele queria continuar o amasso. Minha presença não mudou muita coisa para ele. O clima já havia sido cortado e todo mundo no quarto percebeu, menos o menino sentado na cama.
- Bom... acho que interrompi algo. - eu disse o encarando.
- Sim, você interrompeu. - ele respondeu secamente.
Que garoto presunçoso, ele está no meu quarto e ainda acha que tem algum direito. A gente ficou se fuzilando com os olhos, uma terceira guerra estava prestes a acontecer ali.
- Louis, acho melhor você ir embora, depois te mando mensagem. - Iz se pronunciou tentando acabar com o constrangimento.
- Que seja, não tem mais clima mesmo. - ele se levantou, pegou o casaco do time de futebol, deu um beijo em Iz e saiu pela porta sem falar mais nada.
- Como você arruma caras tão ruins? Tem pessoas legais atrás de você, mas você só fica com caras tipo o Louis. - disse e me joguei na cama suspirando alto.
- Ele não é ruim, Leah. Você só não o conhece direito, foi só uma má primeira impressão. - ela disse se aproximando.
- Não preciso saber muito dele, o fato dele ter te embebedado ontem à noite já faz dele um babaca. - disse revirando os olhos.
- Ele só queria que eu me divertisse, me soltasse mais.
- Você está ingênua de mais, não se deixe levar pela beleza dele. Cadê minha amiga forte e feminista? Ele só queria que você ficasse bêbada para ficar com você mais facilmente, sorte sua que te tirei de la antes dele te levar para um quarto, Izzie! - falei me levantando.
- Eu sei me cuidar, não precisa ficar 24 horas de olho em mim, não tenho 5 anos. - ela também se levantou também e ficamos uma de frente para outra.
- Realmente, uma criança de 5 anos perceberia que o Louis não é boa companhia. - disse.
- Estamos na faculdade, Leah! Acorda e para de ser tão perfeitinha, eu quero tentar ser feliz, nem que por uns segundos. Para de tentar controlar minha vida, você é minha melhor amiga não a minha mãe! Você deveria me apoiar e não fazer isso, se eu quisesse ouvir sermão eu voltava para casa! - ela gritou aquilo e depois sentou na cama.
- Acho melhor eu sair. Não vai ser bom para ninguém se continuarmos essa discussão. - então eu peguei meu casaco e saí pela porta.
O tempo estava nublado, eram umas oito e meia, mas o campus não estava cheio, haviam poucas pessoas do lado de fora dos prédios e elas pareciam correr para o interior das construções, pois parecia que iria cair um temporal. Um vento frio sacudia as folhas das palmeiras e tudo parecia quieto de mais. Era noite de quarta-feira e eu estava andando literalmente sem rumo pelo campus da faculdade. Eu tinha que encontrar algo para fazer. Para minha sorte, o "algo" me encontrou.
Ele estava sentado em um dos quiosques, lendo, como sempre. Caminhei até ele e me sentei ao seu lado. Ele so me olhou e voltou a ler o livro. Ficamos um tempo assim, em silêncio, até eu perceber que precisávamos conversar.
- Boa Noite, Harry.
- Boa noite - ele disse sem tirar os olhos do livro.
- Tudo bem com voce?
- Melhor impossível. - ele respondeu lendo.
- Que bom.
A conversa nem era uma conversa, parecia que eu estava falando com uma parede. A chuva tinha começado a cair e o som me fazia pensar. O Harry antipático tinha voltado? Ele não podia simplesmente mudar de uma hora para outra. Eu já estava de saco cheio.
- Você poderia parar de ler e conversar comigo? - pedi tirando o livro das mãos dele e me levantando para ficar na frente dele.
- Você poderia devolver meu livro? Eu o estava usando se você não percebeu. - ele falou ficando de pé também.
- Não, na verdade, eu não posso até você me explicar porque ontem estávamos nos dando super bem e do nada hoje você está o mal humor em pessoa. - falei e tive que olhar para cima já que ele era bem mais alto que eu.
- Se estou assim tenho motivos, Leah. Agora me dá o livro. - ele respondeu tentando pegar o livro, mas eu fui mais rápida.
- Então me fale. Ainda não aprendi a ler mentes. - respondi saindo de perto dele,
- Vai ter que aprender. - ele falou indo atrás do livro.
- Você podia pedir para o Harry de ontem a noite voltar? Ele não me trata de forma grosseira. - falei parando.
- Ele saiu para dar uma volta depois de certos acontecimentos de hoje. - ele respondeu cínico e visivelmente irritado.
- Peça para ele voltar - olhei para ele.
- Diferente do Niall, eu não faço tudo que você manda, garota. Agora que começamos a falar do dito cujo, eu queria dizer que a cena de vocês dois hoje foi muito inconveniente. - ele disse fora do sério já.
- Isso é tudo por causa daquilo? Não pensei que você fosse tão besta, Harry. Eu e o Niall não fizemos absolutamente nada! - falei ficando brava.
- Claro que não! Imagina, Leah! Vocês estavam quase transando em pleno campus da faculdade e voce me diz que não fez nada?! Eu esperava mais de você. Não achei que você fosse tão fácil. Já dormiu com quantos hoje? - ele terminou e meus olhos encheram de água.
Ele era tão idiota. Eu fui tão idiota de vir até aqui. Que noite horrível. Eu o encarei e joguei o livro no peito dele. Corri em direção à chuva, talvez toda aquela água limpasse a tristeza da minha alma, eu teria continuado a correr se uma mão não tivesse puxado meu braço. Eu girei meu corpo e me deparei com um braço ao redor da minha cintura me puxando para mais perto, mais perto, mais perto. Em segundos a menina que corria sozinha na chuva se transformou em duas pessoas perigosamente próximas uma da outra.
Então eu decidi parar de resistir, eu deixei ele colocar seus lábios nos meus e me passar uma sensação de segurança e tranquilidade. Foi um beijo calmo e reconfortante. Quando nossas bocas se separaram eu me deparei com os olhos mais verdes que já vi na vida, e eles estavam mais brilhantes, mais vivos.
- Isso está tão clichê, Harry. Um casal se beijando na chuva. - falei soltando uma risada abafada.
- Vou te contar outro segredo, além de preferir olhos azuis, eu adoro coisas clichês. - ele disse se inclinando novamente.
Esse segundo beijo foi diferente. Tinha uma necessidade envolvida, um desejo. Um desespero por carinho, por atenção. Eu deixei ele aprofundar o beijo e encontrar nossas línguas. Nós dois estávamos querendo limpar nossas almas com aquilo, nós dois precisávamos do afeto um do outro, então foi isso que fizemos. Coloquei meus braços sobre seus ombros e me deixei ser feliz, me senti leve. As gotas das chuvas se misturavam aos nossos lábios quentes e nossos rostos tranquilos. A chuva se tornou parte de mim aquela noite, se tornou parte de nós.

Blame Me // h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora