three

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Meg disse que havia apenas explicado a verdade para Castiel, que consistia no fato do menor saber que ele deveria ter morrido antes que seu cérebro sofresse com os anos sendo machucado pelos pais e tendo como botão de START a morte do irmão e único companheiro até então; Lúcifer.

Dean ameaçou contar ao diretor da ala de psiquiatria do hospital sobre o ocorrido, mas Meg ameaçou-o também.

"O que será que eles julgarão ser pior? Uma verdade jogada na cara ou um relacionamento entre um enfermeiro e um paciente?".

O contador de histórias teve de se calar, voltando-se ao jardim de fora que podia ser visto pela janela e avistando Castiel perdido em suas lembranças.

Dean fitou os olhos azuis encarando-o com expectativa e o sorriso abriu-se em seus lábios. Uma brecha para dentro do mundo de Cass. Uma brecha para dentro da alma ferida do menor.

– É claro que eu posso te contar uma história, anjo – o Winchester levantou-se da grama levemente úmida e limpou os resquícios da mesma que estavam grudadas em sua roupa – Vamos lá para dentro, então. Podemos ficar no refeitório, já é quase hora do almoço. Depois eu tenho que falar com Ryan e Charlie.

O de cabelos negros assentiu, levantando-se atrapalho por conta do sobretudo no qual ele pisou. Todavia, Dean segurou suas mãos e o impediu de cair, firmando-o até que estivesse equilibrado. Uma corrente elétrica passou pelo braço do contador de histórias, que se sentiu satisfeito ao ter o calor do mais novo sobre os seus dedos.

Um pouco mais encorajado, Dean empurrava o corpo de Castiel com uma mão sobre as suas costas cobertas pelo sobretudo, quase como o estivesse protegendo.

Quando passaram pela frente da sala de jogos, Charlie ainda fitava o nada exatamente onde estavam e pela movimentação seus olhos se chocaram contra os de Dean, e a garota que se autodenominava uma rainha sorriu verdadeiramente para o enfermeiro, incentivando-o.

Onde é que está o seu Deus quando tantas pessoas perdem a noção de onde se encontram suas mentes, quando tantas pessoas se ferem, quando tantas pessoas matam e morrem por causa da loucura chamada "homem"?

Dean queria tirar o sofrimento de cada ser que vegetava em sua cadeira, babava sobre a própria roupa e não tinha mais noção de realidade e fantasia. Dean queria sentir a dor ao invés de vê-la nas pessoas. Dean queria acabar com o sofrimento do mundo.

– Mas pernas tortas, você não pode simplesmente querer salvar o mundo sozinho. Nós somos todos loucos, e a gente tem que ajudar cada um com a sua loucura. Só sai dela quem realmente quer – palavras de Sam.

O homem da coroa de flores queria que Castiel saísse de sua loucura.

Então o homem de olhos azuis apontou para o corredor de quartos individuais e aquele cheiro de solidão invadiu as narinas de Dean, como se o mofo espalhasse aquilo pelas paredes e estragasse ainda mais o ambiente que não deveria estar habitado por seres-humanos.

– Você não quer ir ao refeitório? – perguntou Dean e Castiel lhe deu espaço para ver os orbes azuis tristonhos e pedintes como se dissessem: por favor, vamos para o meu quarto – Tudo bem.

Dean escutou um som gostoso de violão vindo de alguma das portas e depois uma voz que ele nunca havia escutado cantando no ritmo. Apreciador de rock, o contador de histórias estranhou o fato de gostar tanto da música.

Ele percebeu que vinha do quarto de Castiel, que entrou no recinto e deixou que as notas ficassem mais altas aos ouvidos de Dean.

I'm won't wake a wealthy man someday,

'Cause the sun don't follow me

O quarto de Castiel era perfeito. As paredes eram brancas como todos os outros, os móveis eram iguais e sem graça como todos os outros, mas os desenhos feitos com giz de cera que ficavam em cima da cômoda branca eram perfeitamente infantis.

O edredom que ficava sobre a cama era de uma cor diferente que os dos outros quartos, e Dean pensou nos poucos casos de pessoas que conseguiam levar alguma coisa para dentro do hospital. Com certeza os pais do anjo pagaram para que ele ficasse quieto naquele lugar.

– Eu adorei o seu quarto – Castiel sorriu pequeno para Dean, e por alguns momentos eles ficaram se encarando. Todavia, o contador de histórias lembrou-se do seu trabalho ali, e escutou Cass desligar o toca-discos – Vou lhe contar uma história, então.

Quando se deu conta, Dean estava sentado sobre a cômoda de Cass com os pés balançando para frente e para trás, contando uma das milhares de histórias que ele sabia de cor. Castiel escutava com atenção todo o desenrolar da história, deixando que as adoráveis expressões tomassem conta do rosto, até que ele não aguentou o sono e se deu por vencido sobre o colchão.

– Dorminhoco – o Winchester riu nasalado, puxando os cobertores de debaixo do corpo de Castiel para coloca-los sobre o corpo do mesmo. O paciente tinha uma mão fechada sobre o tecido do sobretudo e colocando-o sobre o rosto deixava apenas a ponte do nariz e os olhos fechados a vista.

Aw, mamãe Winchester cuidando do pequeno unicórnio dos olhos azuis? – a voz asquerosa da pessoa com quem Dean havia conversado pela manhã se encontrava na direção da porta do quarto, onde o de olhos verdes se dirigiu. Ele fechou a porta.

– Meg...

– Oh, desculpe. Eu te ofendi? Mas pelo que eu sei, aquele paciente é meu – ela apontou para a porta – e eu não quero você chegando mais perto dele.

Meg entrou dentro do quarto silenciosamente e pelo vidro da mesma ela acenou para Dean, dizendo apenas com os lábios "até mais Deanno!".


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