epilogue

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FELIZ ANO NOVO!!!
***

3 anos depois

Do mesmo modo que se passaram três anos, se passariam mais dez, vinte, quarenta anos.

O Novak gostava do bunker. Gostava da maneira que ele se assemelhava a uma toca no chão, gostava de suas paredes grandes, sua biblioteca cheia de segredos, suas salas escondidas, o quarto de Dean.

Castiel gostava da cama de Dean.

Castiel gostava dos olhos de Dean olhando nos seus.

Castiel gostava do cheiro de Dean.

Castiel gostava de ser tocado por Dean e tocá-lo nos mais peculiares lugares.

O corpo moreno e sardento do mais velho era seu templo, pilar, fonte de vitalidade. Na primeira vez que achegaram seus corpos para uma sensação antes não sentida, haviam-se passado um ano e sete meses. Os dedos esguios e cuidadosos, pálidos e magros de Castiel tocaram cicatrizes de anos que o mais velho gostaria de esquecer, como se dissesse: agora estamos em casa, agora estamos todos bem.

Debaixo das cobertas, ossos revestidos de pele que eram seus pés se encontraram, os olhos se topando, o encaixar de mãos quente e acolhedor, os corações batendo.

As investidas eram lentas, os gemidos coincidiam a cada investida como uma delicada poesia - rimada, bem estetizada, imperfeita. Para Dean, ideal. Para Castiel, melhor que contos de fadas.

Gabriel e Sam, mais do que namorados; noivos. Não haviam muitas palavras que os descrevessem, a não ser ninfomaníacos apaixonados e bocas sujas. As lágrimas entre o casal eram constantes, mas as paredes que distanciavam seu quarto do restante do bunker eram o suficiente. Eram felizes, assim como Jo e Charlie eram dentro do hospital.

Apesar dos esforços para Castiel não convidar Lúcifer para dentro de sua mente, ele aparecia. Na maior parte das vezes o de olhos safira estava lendo e de repente se perdia em uma imensidão inexistente em alguma parede. Costumavam não trocar palavras, mas Cass dizia que ele assentia como se estivesse feliz, os machucados no rosto desaparecendo aos poucos.

Dean o flagrara em todos esses momentos de fragmentos de memórias, e o modo como os olhos azuis brilhavam! Pareciam de fato águas de rios calmos, dignos de fotografias que desbotariam. Afinal, tudo o que deveria ser guardado poderia muito bem estar em suas lembranças.

Em poucos momentos houveram brigas. Durante os três anos Castiel teve de se acostumar a mudar o cardápio algumas vezes, o que gerou discussões partidas de Gabriel. Dean tinha que pegar turnos noturnos e era cobrada muita paciência da parte de Sam para distrair Cass.

No entanto, poderiam contar nos dedos desentendimentos de grande importância.

Já os elogios constantes que Castiel gostava de fazer para Dean e Crowley os apaziguavam de qualquer ódio ou frustração. As bocas se enchiam de orgulho para agradecer e olhares eram a retribuição para o autista.

- Você tem um lindo cérebro, Dean.

E Dean lembrava de quantas coisas seu pai o xingara, de quantos socos recebera, de quanta dor sentiu. Sempre era bom se sentir importante para alguém, inteligente para alguém que realmente importa.

- Você é incrível, Cass.

Castiel descobriu que além de possuir paixão por livros havia interesse era fotografias. A maneira como elas ficavam paradas em seu devido lugar, alinhadas, empilhadas, como deveriam ser. Como presente de aniversário, Bobby e Crowley compraram uma Polaroid retro para o mais jovem, algo com que Dean gostaria de tê-lo presenteado.

Entretanto, pelo que foi aparentado, as paredes do quarto de Dean foram melhores que qualquer álbum caro que Dean pudesse comprar.

Coladas simetricamente, alinhadas uma ao lado da outra, fotografias de momentos que ambos não queriam esquecer; as oito pilhas de oito livros dos primeiros livros que Castiel leu no bunker, uma mosca morta sobre a mesa ao lado de um copo de leite e um Gabriel desfocado bocejando logo atrás, duas fotos de Dean dormindo sobre a cama - uma com os lábios entreabertos e outra com uma carranca cansada -, uma das coxas desnudas e brancas de Cass, parcialmente escondidas pelo sobretudo e provavelmente depois de uma foda e abelhas voando ao redor de uma flor laranja eram apenas as mais importantes.

Quando Dean via crianças gritando de dor, chorando desesperadas, deformadas ou morrendo nos braços de seus pais, ele chegava ao bunker com a aparência de ser três anos mais velho do que realmente era. Sam perguntava se tudo estava bem, Gabriel fazia questão de ressaltar o quão péssimo ele estava, mas Castiel sabia exatamente o que fazer.

Estendia as mãos. Os olhos sempre desviados dos do contador de histórias, que as puxava na direção dos lábios e soltava baforadas de ar trêmulas, chorosas, molhadas.

Quando Castiel acordava de mau humor e isso piorava o seu TOC, seus lábios acordavam rachados ou ele se sentia frustrado por não ter filme novo para novas fotos, ele se sentava escondido atrás da cama de Dean. Sam tentava lhe convencer a assistir algum filme da Disney com Charlie no hospital, Gabriel fazia questão de ressaltar medos do mais baixo, mas Dean sabia exatamente o que fazer.

Estendia as mãos. Os olhos agora grudados nas maçãs do rosto bonitas que eram as de Dean, nos olhos turmalinas que seu namorado tinha, não desviavam um segundo sequer quando ele próprio enrolava os braços de Dean ao redor do seu pescoço e suas testas se encostavam pela aproximação.

Castiel nunca sentiria saudades de Meg.

Castiel sempre usaria o seu sobretudo creme.

Castiel continuaria odiando moscas.

Castiel trocaria oito números 8 por Dean sempre que necessário.

O mundo de longe não deixaria de ser cruel. As palavras que lhes foram desferidas, os golpes agressivos, as lembranças das infâncias carbonizadas sempre estariam lá, presentes. Haveriam dias em que todos acordariam tensos, chorosos, em meio de pesadelos reais - tão reais... -, mas memórias futuras, vivendo o presente com maiores expectativas de um amanhã ainda melhor, com palavras espontâneas e risadas uivando como o vento faz pela janela - doce e suave -, fariam com que algo dentro de todos despertasse.

Um desejo imenso de viver cada dia menos e menos, até que adormecessem sob a calmaria, afogados em luzes de vagalumes, escutando a vida sussurrar-lhe segredos, contos de fadas.

Até que precisassem apenas tocar, sequer dizer.

still 》fanfic destielOnde histórias criam vida. Descubra agora