Criança Desaparecida

~• Prólogo •~

Caitlin se levantou e trocou um aperto de mãos com a garota asiática de longos cabelos e óculos de armação preta que estivera sentada diante de sua mesa.

- Gian - disse Caitlin -, acho que vamos ser perfeitos para você. - Ela estendeu um cartão de visitas para a garota. - Quero que ligue e marque um horário para seus pais com esse cavalheiro no departamento de assistência financeira. Ele vai poder ajudá-los a organizar um plano de apoio.

Giang olhou sem jeito para o cartão.

- Meus pais não falam inglês - disse ela.

Você pode estar presente ao encontro e traduzir para eles - retrucou Caitlin. - A Brunswick University precisa de alunos do seu calibre. Vamos fazer todo o possível para que dê tudo certo para você.

Giang abriu um sorriso.

- Obrigada, Sra. Rogers - disse ela.

- É senhorita - corrigiu Caitlin. - E o prazer foi meu.

Caitlin observou enquanto a aluna miúda, que cursava o último ano do ensino médio, deixava o escritório de recrutamento de minorias. Ela fizera uma palestra na escola de Giang, num bairro pobre de Filadélfia. Caitlin era diretora do setor de recrutamento de diversidades na Brunswick University, e seu trabalho era buscar e encorajar alunos de baixa renda, pertencentes a minorias, a realizarem seus sonhos de cursar uma faculdade na Brunswick. Ela se achava uma mulher de sorte por ter um trabalho que considerava tão importante.

- Essa moça era uma graça - comentou Beverly, recepcionista de Caitlin. Beverly tinha quatro filhos e um coração grande o bastante para acomodar todos os alunos da Brunswick e mais alguns.

- Espero que ela decida vir para cá - disse Caitlin. - Ela precisa de ajuda para se candidatar a bolsas de estudo, mas está muito motivada.

- Gostamos quando eles estão motivados - retrucou Beverly. - Falando em motivação, seu irmão está se dando bem com a psicoterapeuta?

Caitlin suspirou. O irmão, James, de 16 anos, e 12 anos mais novo que ela, fora encaminhado à psicoterapeuta por um juiz da vara de família. Ele tivera a carteira de motorista apreendida porque fora pego comprando cerveja numa loja de conveniência. James também fora suspenso do colégio por se envolver em brigas e tivera um problema com remédios controlados. Caitlin não sabia onde o irmão os conseguira, e ele negara ter usado as drogas que ela encontrara em seu quarto.

Caitlin procurava não o julgar muito severamente. Ela e James ainda se recuperavam da morte dos pais, que haviam adoecido nos últimos dois anos. Caitlin, que até então trabalhava na equipe de uma universidade da Ivy League, na Nova Inglaterra, se vira forçada a voltar para a cidade onde moravam os pais e o irmão, a se mudar parab a casa dos pais e a assumir o papel de guardiã legal di irmão... O que acabou se mostrando uma pesada responsabilidade.

- Bem, foi apenas a segunda sessão. E na da semana anterior ele passou a maior parte do tempo preenchendo a papelada e contando o histórico da família. Vamos ver... - disse ela.

- Dezesseis anos é uma idade difícil - comentou Beverly.

- Eu sei. E ele ainda não fez nenhum amigo.

Os pais deles os haviam criado em Coatesville, na Pensilvânia, um bairro operário de Filadélfia. E haviam comprado a cada entre a baía e os pântanos do sul de Nova Jersey para morarem quando se aposentassem. Mas acabaram decidindo se mudar mais cedo para Nova Jersey depois que James começou a ter problemas no ensino médio. Ele tinha uma namorada chamada Karla, uma garota que acabou sendo recolhida a um reformatório juvenil. Os pais de Caitlin tinham a esperança de afastar James de Karla e de seus outros amigos encrenqueiros. No entanto, ele acabou arrumando ainda mais confusão sozinho.