Alaska - A Filha da Rainha do Gelo [concluída]

Eu sei o que você fez

— Desculpe, mas eu não sei quem você é — franzi minhas sobrancelhas a encarando.

— Nem me apresentei, desculpe a informalidade — a mulher sorriu se aproximando — Sou Anya, Rainha da água — arregalei meus olhos ao ouvir o nome dela, me afastei enquanto ela andava em minha direção. Eu estava com problemas — Calma, não vou machucar uma filha dos 9...

— Eu...hm, o que você quer aqui comigo? — me sentei na cama e ela sentou do meu lado.

— Eu vi o que você fez, em partes mas eu vi, sei de tudo que acontece perto de lagos, rios e oceanos. Raiden me deu a justificativa perfeita pelos restos mortais que você jogou no lago.

— Eu, eu posso explicar tudo, por favor, não conte para meus pais e nem pro meu irmão...— me ajoelhei na frente dela implorando.

— Levante-se, não vim aqui para mostrar o que você fez, você carregará essa culpa até o fim de sua vida e na sua vida pós a morte você também se culpará. Você deve saber que o seu nascimento causou terror em todos os 9 reinos, certo?

— Sim, meu pai faz questão de lembrar as palavras da mulher que me trouxe ao mundo.

— Você sabe um parte das palavras dela, mas seu subconsciente guarda todas as palavras sem que você saiba de nenhuma — Anya tocou em minha testa com um dedo, retirou uma gota de suor e a pingou na minha mão enquanto recitava algo em um idioma que eu desconhecia — olhe para o centro da sua mão.

Fiz como fui ordenada, no palmo da minha mão criava uma imagem ainda embaçada, aos poucos notei que se tratava de uma mulher dando a luz e uma senhora ao lado dela, ressaltava frases no mesmo idioma que Anya tinha falado, a mulher gritava de dor tentando parir o bebê. A imagem mudou mostrando a mulher segurando o bebê e a velha ao lado dela falando algo, pude escutar algumas coisas e entre elas escutei o pior "O caos está dentro dessa criança, Krystal", meus olhos se encheram de lágrima e medo, fechei minha mão não querendo mais ouvir nada, ainda sim escutei as últimas palavras saírem das gotículas que pingavam da minha mão " O caos voltará, Rainha do gelo ", me levantei chorando, era tudo o que eu mais temi em minha vida toda, toda essa pressão era difícil e dolorosa, mas só me restava provar que eu não seria como aquele homem.

— Por que mostrou isso? — olhei para Anya ainda chorando.

— Porque você acredita nisso e sabia que o ato que cometeu seria uma forma de provar que o destino poderia estar certo.

— Eu...não...matei ela por querer! Ela me agrediu, eu perdi o controle e acabei congelando o corpo, mas eu não queria fazer aquilo! Foi doloroso, eu confesso, quando a voz saiu da minha mente e eu me dei conta do que eu tinha feito.

— Como assim uma voz? Qual? — Anya se levantou confusa.

— Não sei de quem era, mas antes de matá-la eu ouvi uma voz me mandando fazer aquilo, me incentivando a fazer tudo aquilo...

— Alaska, feche os olhos e lembre daquele dia — Anya se aproximou colocando a mão na minha testa e se afastou rapidamente, abri meus olhos e a vi com a cara assustada — Não pode ser...

— O que? Você sabe quem era?

— Eu preciso ir, meu filho virá falar com você — Anya fez um movimento com as mãos criando um círculo de água, entrou dentro e desapareceu me deixando confusa.
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"O caos está dentro dessa criança", as palavras martelavam na minha mente o dia todo, tomei banho para tentar relaxar e não surtar com tudo. Uma Rainha tinha me visitado, já sabiam que eu tinha matado a Ashley e agora não tinha o que fazer. A única pessoa que eu não contaria era meu pai, ele nunca aceitaria o que eu fiz, me odiaria e talvez até me expulsasse de casa. Josh me questionava sobre a visita da mulher, tentei evitar de contar o ocorrido para ele, mas com tanta insistência contei o que eu tinha feito e implorei para que ele não contasse ao meu pai, ficamos sem nos falar por meses. Eu ainda esperava a tal visita do filho de Anya, mas ele nunca entrou em contato.

Agora não era hora de pensar nos problemas da vida mágica, eu tinha que estudar para o teste de história, voltei a ler o livro enquanto anotava algumas coisas. Novamente me distrai quando gotículas começaram a bater na janela, olhei para o céu e ele estava estrelado, sem menor chance de chuva. Me questionei de onde seria essa água, abri a janela e olhei para todos os lados procurando sinal de água, mas nada encontrei. Talvez eu estivesse ficando louca, mas a água ainda permanecia na janela, bati minha cabeça quando escutei o assobio dentro do meu quarto, me virei rapidamente visualizando um garoto que aparentava ser um pouco mais velho que eu.

— Não grita...— ele se aproximou em um movimento rápido e tampou minha boca — Eu sou filho da Anya, na verdade, um dos...— tentei falar algo, mas ele ainda tampava minha boca, quando ele se deu conta disso me soltou rapidamente — Me desculpe...

— Meu deus, não é possível que vocês agora vão ficar entrando no meu quarto sem mínimo aviso!

— Eu avisei com a água na janela...

— Arrgh! Como eu iria adivinhar? Mas afinal quem é você?

— Oh! Me desculpe, me chamo Ocean, herdeiro legítimo da Rainha da água.

— Hm, me chamo Alaska...

— Eu sei, você é famosinha no paraíso — Ocean deu um sorriso encantador.

— Famosinha? — ri colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha — Nunca fui lá, como sabem quem eu sou?

— Você é a mais poderosa dos filhos de Krystal e seu destino escrito também chama atenção.

— Eu to sonhando, né? — comecei a beliscar levemente.

— Não — Ocean riu se sentando na minha cama — Bem, deixa eu ir direto ao ponto, todo ano no paraíso eles fazem uma espécie de baile, é mais uma reunião. De dia os 9 se reúnem e discutem sobre as coisas, de noite os filhos chegam no paraíso para festejar e rever seus pais.

— Hm, por que tá me contando isso? — franzi a sobrancelha tentando entender tudo.

— Minha mãe achou que é uma boa ideia você ir esse ano — meu coração gelou, eu finalmente conheceria minha mãe.

— Isso é verdade?

— Sim, o baile vai acontecer amanhã, esperamos por você — Ocean sorriu subindo na janela — Foi um prazer te conhecer — Ocean pulou da janela e sumiu deixando apenas uma pequena poça de água na janela onde passava a imagem da visão dele me olhando sorrir. Mas que diabos tinha sido aquela vista?