Amigos, vocês? Ata... Podem cortar o meu dedo.

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O gosto do café é amargo. Definitivamente Cozinha não é o lugar da Laura. Minha madrasta sabe cozinhar pouquíssimas coisas. E café não é uma delas. Meu pai à essa hora está no trabalho. Laura saiu para o mercado.

Despejo todo o café horrível no ralo da pia. Decido fazer um suco. Abro a geladeira e nada de frutas, nada de bolo gelado. Olho nos armários e encontro achocolatado e biscoitos recheados.
Agora sim.

Resolvido o problema do meu café da manhã, resolvo mandar uma mensagem para Carolina.

Mas o que dizer?
Resolvo desejar-lhe uma saudação casual e simples.

BOM DIA LINDA!

Mensagem enviada e entregue com sucesso.
Me vem à cabeça a imagem de uma garotinha acabando de acordar com o cabelo bagunçado. Começo a rir.

As horas passam e me vejo agora em meu quarto lendo revistas em quadrinhos para passar o tempo. Estou tentando desapegar das redes sociais. Ver as fotos de meus colegas de classe se divertindo e viajando me deixava deprimido. Sim, eu os invejo. Queria muito desfrutar dessas alegrias e poder postar fotos e vídeos para todos verem como posso ser feliz também. O segundo motivo é que minhas provas estão chegando e preciso me concentrar nelas. Preciso conseguir tirar boas notas, passar o terceiro bimestre e não ter que ficar de recuperação e aturar ainda mais aquela gente da escola. Estou indo bem em todas as matérias, com excessão de Física. Que preciso me esforçar um pouco mais. Nada que eu não consiga estudando um pouco.

Laura está ao telefone falando com o Rogério. Ela o trata como um bebê, chama-o de filhinho e tudo. Ela sempre o mimou demais. Por isso ele era tão rebelde, sempre teve o que queria. Filhinho da mamãe sem dúvida.
Fico pensando se minha mãe seria assim comigo também. Se ela me daria esse amor incondicional de mãe.

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Me sento na última cadeira, sou o tipo de garoto do fundão mais estranho que existe. Não optei pelo lugar no fundo da sala por motivo de bagunça. E sim, porque não quero ninguém me olhando por trás. Não ficarei na frente de ninguém. Já tentei sentar-me na cadeira da frente algumas vezes. Não deu certo. Sempre tinha algum engraçadinho jogando alguma piada de mau gosto -Ô Murilo você tapa o quadro inteiro.
-Murilo não vejo nem uma letra.
-Afasta seu traseiro gordo pro lado Murilo!

São uns idiotas.

Há poucos instantes para começar a aula os alunos começam a entrar na sala em tuminhas. Me assusto ao sentir meu celular vibrar no bolso da calça folgada de oxford. É uma mensagem, dela.

BOA TARDE LINDO! :)
C

Carolina sempre me surpreendendo. Sorrio para a tela do celular relendo aquele "Boa tarde!" Incontáveis vezes. Resolvo responder mais justo no exato momento o professor aparece na porta mandando alguns alunos que ainda estão no corredor para entrar na sala. Coloco o celular dentro da mochila, nem pensar dele querer apreender meu celular como faz com os dos outros.

O professor Álvaro está falando de Sigmund Freud. Todos os alunos bem interessados na aula. É só falar um pouco sobre sexo que todos deixam o sono de lado.
Observo as frase escrita pelo professor Álvaro no topo do quadro branco.

"NOSSOS SONHOS SÃO CAPAZES DE NOS REVELAR OS NOSSOS DESEJOS MAIS INTIMOS".

"NÓS DESEJAMOS AQUILO QUE NÓS VEMOS TODOS OS DIAS".

Belas frases. Nos fazem pensar e refletir. Pura verdade. Desejo o que vejo. Vejo todos serem de bem com a vida. Sei que eles devem sim ter os seus problemas, claro. Só que eles se refugiam na escola para se livrarem deles. Eu ao contrário. Fujo da escola e de casa. Em nenhum lugar consigo ficar de Bem com a vida.

Assim Como as BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora