Uma rosa anônima

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Sábado

Passei a noite toda de ontem pensando em uma maneira de não arrumar mais problemas para minha estúpida vida. Eu disse a Vanessa que iria com ela à festa da escola, não posso voltar atrás agora.
Isaac não vai mandar em mim, irei aquela festa com a Vanessa mesmo não sabendo quais são as intenções maldosas dele para comigo.
Aquela cabeça loira dele está cheia de maldades. Por quê ele não deixa a Vanessa em paz? Tantas outras que são tão fáceis como contar até três. Deve ser por isso que ele à quer. Por ela ser a única que não cedeu. Ele deve encarar isso como um jogo, um desafio, que com certeza ele quer ganhar. E o grande gênio aqui Murilo Guedes está atrapalhando.
Estou me sentindo um peão sozinho em um tabuleiro de xadrez contra a rainha. Sem saídas. Posso apenas ir para frente. Não posso retroceder.

Estou saindo de casa de bicicleta rumo ao instituto Reis. Vou cancelar meu curso de secretariado. Não terminarei a tempo, ppr causa da viagem. Eu não estava gostando mesmo daquele curso para falar a verdade e também vai ser um dinheiro à menos jogado fora, aquele pessoal do instituto só sabe enrolar as pessoas, fingindo dar aula e fingindo que ensina alguma coisa.

Após cancelar minha matrícula e explicar os devidos motivos da desistência, decido passar em algumas lojas que estão em ofertas.
Algumas roupas me agradam. Talvez peça ao meu pai para comprarmos alguma roupa antes da viagem.

Estou sem dinheiro para gastar com essas coisas agora. Ao passar pela vitrine de uma loja eletrônica fico comendo com os olhos o violão preto que eu tanto queria.
Então lembro da pulseira que comprei usando o dinheiro que eu guardava. Ela ainda está comigo, no meu bolso.
Penso em devolver para a loja.
Penso em trocar por outra coisa.
O que vou fazer com ela?
Comprei para Carolina, e ela me mandou pastar. Desde de que à conheci não faço outra coisa se não pensar nela.
Daria tudo o que tenho e o que não tenho para sentir o beijo dela novamente.
Acorda para o mundo real Murilo!

Voltando para casa meus pés e meu corpo pedalam na direção oposta da minha rua. Estou indo para a praça. Aquela praça. -O que estou fazendo? Estou parecendo um louco. E devo ser mesmo. No fundo eu sei o que eu quero. Quero vê-la e não me importo que seja de longe, ou que não fale comigo. Apenas preciso olhar naqueles olhos cor de chocolate, aquele cabelo ondulado, vê aquele sorriso encantador e saber que está bem.

Sentado no que virou meu banco habitual da praça. Deixei minha bicicleta encostada na árvore ao lado que agora começa a florecer. Observo borboletas voarem em ziguezague e casais de pássaros voarem juntos. O clima está agradável, ensolarado e com ventos que fazem cair as folhas amarelas.

-Moço quer comprar uma flor? -pergunta uma garotinha de cabelos cor de mel e de sorriso inocente que deve ter uns oito anos. Ela trás uma pequena cestinha de rosas vermelhas.

-Oi. -olho para os lados. -Cadê a sua mãe? -pergunto meio preocupado ao perceber que ela está sozinha.

-Ela tá vendendo doces ali. -ela aponta o dedo indicador para um pequeno mercadinho na outra esquina.

-Ah! Mas você não pode se afastar muito da sua mãe. Como você se chama?

-Ana Clara. Minha mãe que faz os doces e as rosas, mas eu ajudo também. -ela é muito fofa.

-E quanto custa uma rosa dessas? São muito bonitas. -pergunto pegando uma de tamanho médio vermelha.

-Tês reais moço. -sorrio pela maneira fofa que ela fala Tês.

-Me chame de Murilo. Vou querer esta aqui mesmo.

Entrego o dinheiro para a garotinha que parece feliz da vida por ter me vendido a rosa. Ela coloca o dinheiro no bolso da frente do seu macaquinho jeans azul.

-Obrigada.

-De nada. Boa sorte nas vendas Ana clara né?

-Sim. -aperta a minha mão como se fosse gente grande. -Tchau moço Mulilo. -ela sai em um pulo correndo na direção do mercadinho.

Avalio a rosa. Que de fato apesar da sua simplicidade é bem bonita e tem um romântismo na sua cor. Tem uma ideia louca se passando na minha cabeça agora.
Pego uma folha do meu bloquinho de notas que carrego na carteira e escrevo duas palavras.

                                         Para Carolina.

Tiro do bolso a pulseira e coloco-a dentro da rosa. Onde ela ficará escondida. Encaixo o bilhete entre as pétalas e caminho como quem não quer nada na direção da casa dela. Da garota dos meus sonhos. A rosa em uma das mãos e a outra mão dentro do bolso. Estou nervoso. Respirando fundo, enchendo meus pulmões de ar imaginando ser uma força contra o meu medo de tudo dar errado novamente.

Chegando na frente da casa percebo que não há ninguém na área. Não vou bater palmas. É melhor assim. Vou ser um romântico anônimo, não vou entregar pessoalmente. -É isso. -Digo pra mim mesmo.

Deixo a rosa entre as grades do portão com cuidado e saio rapidamente para que não me vejam.

Antes de sair da praça já montado em minha bicicleta olho para trás na direção da casa e como se fosse um imã para os meus olhos percebo que alguém desce de uma moto. É ela.
Observo de longe ela tirar a rosa da grade do seu portão. Ela parece surpresa e sorri. Só isso foi o suficiente para mim sair feliz.

Ela gostou.

                                     ■■■■■■■■■■■■

Após lavar às louças do jantar e entrar em todas as minhas redes sociais e ficar entédiado com tudo. Quanto mais o tempo passava mais eu percebia que não havia nada para se fazer naquela casa.

Deslizando o dedo na tela do meu celular, lendo os nomes dos pouquíssimos contatos que tenho salvo, paro no nome do meu amigo. Decido mandar uma mensagem para ele que parece que se esqueceu da minha existência. Beto.

21h25min
"Oi Beto. Como vai mano?"

Não demorou muito para sentir meu celular vibrar.

BETO
21h27min
"Oi cara. Vou bem. E você?"

21h28min
"Bem também eu acho. Tenho tanta coisa pra te contar. Minha vida tá ficando de cabeça pra baixo da noite para o dia literalmente."

BETO
21h30min
"Mas o que aconteceu mano? :O"

Penso em contar para o Beto sobre tudo. Sobre a Carol, sobre a viagem e sobre Isaac. Desisto porque se eu for contar tudo por mensagem vou pasaar a noite digitando.

21h32min
"Acho melhor te dizer pessoalmente Beto. Mas deixando isso pra depois. Quero saber se você vai à festa da escola amanhã?"

BETO
21h33min
"Vou sim. Você vai?"

21h34min
"Vou. Então nos vemos lá. E te contarei tudo."

BETO
21h35min
"Espero que não sejam notícias piores do que as minhas meu amigo"

21h36min
"Você também é?"

BETO
21h37min
"Também."

21h39min
"Boa noite. Nos vemos amanhã."

21h40min
"Boa noite Murilo. Até a festa, vamos dançar muito amanhã"

Rio ao terminar de ler a mensagem.
Beto sabe que somos um fracasso dançando, o seu senso de humor anda sempre ligado. Esse é um dos motivos de nos darmos tão bem. Ele está sempre tentando motivar os outros, até mesmo quando ele próprio não está bem. É bom saber que ele estará amanhã na escola. Mais um motivo pra mim ir.
Eu vou Isaac goste ou não!
Que com certeza não. Sorrio diante do meu reflexo no espelho do banheiro.

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