Subi as escadas rapidamente, e logo encontrei minha sala no longo corredor. Entrei, escolhi um lugar qualquer e me sentei, observando tudo ao redor. Era óbvio que este colégio era bem mais organizado e caro do que o meu antigo. As carteiras brilhavam, os materiais pareciam novos, e os alunos? Bem, pareciam como qualquer outro grupo de adolescentes, exceto pelo fato de que o preço combinado de suas bolsas e sapatos provavelmente ultrapassaria o PIB de um pequeno país.
Quando o professor entrou, os alunos começaram a tomar seus assentos. Foi nesse momento que senti meu celular vibrar. Era uma mensagem do Kenon:
"Não se mexa. Te encontro no fim da aula. Tô falando sério."
Fiquei olhando para a tela, confusa. Por que ele me mandaria algo assim? O sinal tocou, e guardei o celular, ainda pensando nisso, enquanto o professor começava a aula. Eu mal tinha prestado atenção quando a porta se abriu de repente. Um garoto asiático entrou com o rosto completamente entediado e foi direto para uma das últimas carteiras. Ele não usava uniforme como os outros e, apesar de ter chegado tarde, não pediu desculpas. A turma nem piscou, voltando a focar no professor, que, para minha surpresa, também não disse nada.
Fiquei observando o garoto por um tempo, tentando entender a falta de reação geral. Ele então percebeu que eu o encarava, me devolvendo o olhar por alguns segundos, com uma expressão de puro desinteresse, antes de desviar e se concentrar em seu celular. A aula seguiu sem mais interrupções, até o sinal anunciar o intervalo.
Recolhi minhas coisas e desci para o andar inferior, procurando Kenon. No caminho, vi algo que me fez parar: três garotos provocavam um aluno menor, jogando sua mochila de um lado para o outro e empurrando-o toda vez que ele tentava recuperá-la.
— Por favor, parem com isso. — O garoto pediu, com a voz cheia de desespero.
— Você conhece as regras, é o jogo. — Um dos valentões respondeu, rindo, antes de lançar a mochila direto para dentro da lixeira.
Minha paciência já tinha se esgotado. Além de estarem em maior número, eram muito maiores que o garoto. Como ninguém parecia se importar — nem mesmo o professor que passou por ali fingindo não ver —, decidi agir. Comecei a caminhar na direção deles, mas antes que pudesse me aproximar, senti alguém agarrar meu braço.
— Kenon, o que você está fazendo? — Exclamei, virando-me para ele.
— Eu te disse pra esperar na sala. O que você estava pensando em fazer? — Ele perguntou, irritado. Não entendi por que tanto drama.
— Não está vendo o que aqueles caras estão fazendo? Três contra um? Isso é covardia! — Expliquei, apontando para o grupo, que naquele momento havia deixado o garoto em paz. O menino correu fugindo sem nem pegar a mochila da lixeira.
Kenon balançou a cabeça.
— Rachel, isso não é motivo pra você arrumar problemas logo no seu primeiro dia. Aqui as coisas não são simples assim. Vem comigo, precisamos conversar. — Ele disse, sério, antes de me puxar pelo corredor.
Nos sentamos em uma das mesas do refeitório, que mais parecia um restaurante chique do que uma cantina escolar.
— Agora você vai me explicar por que está agindo como se eu tivesse cometido um crime? — Perguntei, já cansada dessa atitude exagerada.
Kenon olhou ao redor, como se quisesse ter certeza de que ninguém nos escutaria. Só depois disso começou a falar.
— Eu já te disse que não gosto desse colégio, mas nunca te contei tudo. Aqui acontecem coisas realmente ruins. — Ele sussurrou, com um tom sombrio que me deixou ainda mais inquieta.
— Se você disser que a escola é assombrada ou algo assim, juro que conto pros seus pais que você está usando drogas. — Falei, meio rindo, meio nervosa. Ele sempre foi um pouco dramático, mas dessa vez parecia demais.
— Eu não estou brincando, Rachel. Nem estou usando drogas. Me escuta: você não deve intervir quando alguém estiver sendo maltratado, como o garoto de agora há pouco. — Kenon parecia falar sério, o que só me deixava mais confusa.
Não entendi o porque dele estar dizendo aquilo, mais do que ninguém ele deveria repudiar esse tipo de coisa. Kenon sofria bullyng, estudamos juntos durante todo o ensino fundamental e não foram poucas as vezes em que ele era alvo de algum imbecil. Kenon nunca me deixou dizer nada a ninguém e por sorte sempre consegui resolver o problema com ajuda dos meus punhos, mas quando seus pais descobriram decidiram o transferir para esse colégio.
Apesar de não falarmos sobre o assunto sei que Kenon saiu afetado pelo que passava e isso reflete até hoje no modo como deliberadamente ele evita, e espera o pior das pessoas. Agora, ele estava me dizendo pra ignorar?
— Por que eu não deveria ajudar? — Perguntei, querendo entender o que estava acontecendo.
— Porque ajudar não muda nada. Mesmo que você assuste um ou dois, não dá pra enfrentar toda a escola. — Ele explicou, mas isso só me deixou mais intrigada.
— Seja mais claro, Kenon. O que você tá tentando me dizer? — Insisti.
Antes que ele pudesse responder, um alvoroço tomou conta da entrada do refeitório.
— Eles estão vindo pra cá! — Ouvi uma garota dizer, animada, para a amiga.
Logo depois, quatro garotos entraram. Eram provavelmente da nossa idade: dois morenos, um loiro e, à frente, o garoto asiático que eu tinha visto na aula. Nenhum deles usava uniforme, então se destacavam.
Um dos morenos, com cabelo arrepiado, foi direto até a bancada de lanches e pegou um refrigerante, ignorando completamente a fila. Ninguém disse nada. Nenhuma reclamação. Todos simplesmente deixaram ele fazer o que queria.
Os quatro sentaram-se em uma mesa afastada das outras, e eu os observei por alguns segundos.
— Você queria saber qual é o problema deste colégio? — Kenon disse, chamando minha atenção. — Eles são o problema.
E, com isso, minha confusão só aumentou.
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Não me de Flores
Teen FictionRachel Petrelli é uma garota de família pobre que apesar das dificuldades financeiras, consegue ser admitida em um colégio de alto padrão para estudar com seu melhor amigo Kenon Thompson. No colégio Makenzie , os alunos são riquíssimos e adoram os...