Mantenha a calma, nada esta bem!

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Acordei com o despertador tocando exatamente às seis da manhã

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Acordei com o despertador tocando exatamente às seis da manhã. Sem nenhum ânimo, me arrastei da cama, fiz minha higiene matinal e comecei a me preparar para o colégio. Já estava terminando o café com meus pais quando Rachel apareceu na porta, como sempre, sem bater.

O colégio ficava a três quadras da minha casa, então fomos andando juntos. O caminho inteiro foi em silêncio, até que resolvi puxar conversa.

— Nervosa pro primeiro dia? — perguntei enquanto esperávamos o sinal abrir para atravessar a rua.

— Nem um pouco. Colégio é colégio. — Ela deu de ombros, como se aquilo fosse só mais uma manhã qualquer.

— Não é só pela transferência, é o primeiro dia do último ano. Uma pessoa normal estaria pelo menos um pouco nervosa. — Insisti, esperando que ela admitisse algum tipo de preocupação.

Rachel olhou pra mim e abriu um sorriso, do tipo que ela faz quando sabe mais do que eu.

— Relaxa, Kenon. Eu tô aqui com você, se alguma coisa der errado. — Ela falou de um jeito tão tranquilo que, por algum motivo, me senti mais consolado do que o contrário.

No fim das contas, talvez fosse bom ter Rachel por perto.

— O que sua mãe achou de tudo isso? — perguntei, mais relaxado.

— Nem cheguei a falar com ela direito. Mamãe pegou o turno da noite e hoje saiu cedo pra levar meu irmão pro colégio. — Explicou, enquanto andávamos paralelamente ao muro enorme do colégio.

A mãe de Rachel é camareira num hotel. Ela é uma mulher super gentil, mas frágil, e vive adoecendo. Então, Rachel sempre acaba se virando para ajudar em casa.

Silêncio de novo. Eu estava perdido em pensamentos quando Rachel, sempre prática, me tirou dessa zona.

— E aí, vai me apresentar seus amigos? — Ela perguntou, já na entrada do colégio, com aquele ar casual, enquanto nós éramos praticamente os únicos que chegavam a pé, entre dezenas de carros.

Olhei para ela de canto, tentando não rir.

— Com você aqui, minha lista de amigos agora totaliza... um. — Respondi com sarcasmo.

Ela revirou os olhos, mas sabia que eu estava falando sério. Rachel tem essa ideia estranha de que todo mundo deveria ser meu amigo. Ela realmente acredita que as pessoas vão, espontaneamente, gostar de mim. Doce ilusão.

Entramos pelas enormes portas de madeira, e, de repente, percebi que a minha "vida invisível" estava oficialmente encerrada. Não demorou para que todos os olhares se voltassem pra gente. O contraste entre Rachel e o resto das garotas do colégio era tão gritante que até eu achava cômico.

Deixe-me explicar: Rachel não é feia, longe disso, mas as garotas daqui parecem ter saído direto de capas de revista. Maquiagem impecável, cabelo sempre no lugar, e roupas que parecem custar mais que um carro. Já Rachel? Sempre com seus cachos soltos e bagunçados, sem um pingo de maquiagem e, se não fosse pelo uniforme, provavelmente estaria de moletom.

— Onde é sua primeira aula? — Perguntei, tentando me distrair dos olhares.

— História, sala 205. — Ela conferiu o cronograma e enfiou de volta na bolsa.

— Eu tenho matemática. Quer ajuda pra encontrar sua sala? — Ofereci, mais por preocupação do que por necessidade.

— Relaxa, eu me viro. Te vejo depois! — Ela disse, já subindo as escadas e sumindo da minha vista, enquanto eu ficava ali, meio inquieto.

Sabia que Rachel não ia se perder, ela tem um senso de direção invejável, digno de um golfinho. Minha preocupação era outra. O colégio Makenzie tem suas próprias regras não ditas, e Rachel precisava entender isso rápido.

Golfinhos tem centros de localização por sonar assim como as baleias, estou explicando  porque até mesmo eu considerei NERD minha tentativa de humor acima, desculpem por isso.

Comecei a ir para minha aula, num ritmo lento. Vou ser honesto, me senti aliviado quando nos separamos. Estar de volta à minha insignificante invisibilidade era reconfortante. Mas não por muito tempo.

O corredor começou a ficar agitado de repente. Ouvi o burburinho aumentando.

— Eles estão vindo! — Uma garota anunciou, animada. No corredor, lotado, se abriu um caminho como no Mar Vermelho.

Os quatro chegaram: Victor, Thomas, Lucas e Gasphar. Os reis do colégio. Eles subiram as escadas sem nem olhar para os lados, mas um garoto do segundo ano teve o azar de esbarrar de leve em Victor. Nem foi nada demais, só um toque de ombro, mas no Makenzie, isso já era suficiente para virar problema.

— D-d-desculpa. — Balbuciou o garoto, pálido de medo.

Victor parou, lançou um olhar gelado e continuou andando, sem dizer nada. Mas o efeito foi devastador. O garoto parecia prestes a desmaiar de nervoso, enquanto os amigos dele tentavam acalmá-lo.

— Será que ele vai fazer alguma coisa? — Um dos amigos perguntou. — Eles só subiram... será que tá tudo bem?

Foi quando algo estalou na minha cabeça. "Eles subiram." Rachel estava lá em cima! Comecei a correr sem pensar duas vezes e cheguei à sala 205 em tempo recorde.

Rachel estava sentada na última fileira perto da janela, tranquila como sempre. O professor já tinha começado a aula, então não podia entrar. Mandei uma mensagem rápida:

"Não se mexa. Te encontro no fim da aula. Tô falando sério."

Vi Rachel ler a mensagem e fazer uma careta. Ela provavelmente não fazia ideia do que estava acontecendo, mas eu precisava garantir que ela entendesse as regras desse lugar. Se quisermos sobreviver no Colégio Makenzie, temos que aprender a jogar pelas suas regras.

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Não me de FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora