Declarando guerra

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Observava Ghaspar e Richard jogando bilhar, calmamente bebericando um refrigerante enquanto eles trocavam algumas piadas

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Observava Ghaspar e Richard jogando bilhar, calmamente bebericando um refrigerante enquanto eles trocavam algumas piadas.

— Onde está o Thomas? — perguntei, percebendo que ele estava ausente.

— Provavelmente esqueceu ou dormiu. Você conhece o Thomas, sempre distraído — respondeu Richard com seu típico ar debochado, antes de mudar o foco. — E então, o que você vai fazer sobre a tarja vermelha?

Franzi a testa, sem entender.

— Como assim, o que vou fazer?

— Já faz uma semana que estão infernizando a vida daquela garota, mas ela parece não se abalar — explicou Richard, parando de jogar para me encarar. Ghaspar, em silêncio, também me olhava.

Aquilo me pegou de surpresa. Realmente, uma semana era tempo demais. Normalmente, qualquer um que recebesse a tarja vermelha desistia rápido, mas Rachel... ela era diferente. Eu mesmo a vi, alguns dias atrás, sair correndo dos portões do colégio, com o uniforme sujo e molhado, como se não fosse nada.

— Ela parece tão determinada que até desanima fazer algo com ela — comentou Ghaspar, quebrando o silêncio e me tirando dos pensamentos.

— Isso é verdade — admitiu Richard, rindo. — Mas se ela não desistir logo, as pessoas vão começar a falar. Imagine os boatos: "Victor Tsukasa, o herdeiro do grande conglomerado Tsukasa, incapaz de controlar sequer um colégio." — Ele gesticulava exageradamente, como se fosse manchete de jornal.

Eu não estava no clima para as provocações. Já era o bastante ter que lidar com as responsabilidades e o nome da minha família. Não precisava que Richard usasse isso como piada. Levantei-me de repente, irritado, e saí da sala sem olhar para trás. Ouvi Richard me chamando, dizendo que era só brincadeira, mas já tinha perdido a paciência.

— Acho que ele se inflamou agora — comentou Ghaspar, enquanto eu fechava a porta com força. Richard apenas riu e voltou ao jogo.

Caminhava pelo corredor em direção ao meu quarto, ainda com a cabeça cheia, quando, inesperadamente, vi minha mãe se aproximando com sua comitiva de assistentes e bajuladores. Lá estava ela, poderosa como sempre, falando ao telefone em inglês.

— Stop the transaction, they will do it my way or the contract is off. Stop now — ordenava ela, sem sequer disfarçar a autoridade na voz.

Georgiana Tsukasa. Minha mãe. Desde a morte do meu pai, há 16 anos, ela tomou as rédeas de tudo, comandando os negócios com uma mão de ferro. Sob sua liderança, a fortuna da família cresceu ainda mais.

— Então você está aí — disse, desligando o celular e me olhando de relance. Um dos assistentes prontamente guardou o aparelho para ela.

— Isso é algo que se diz a um filho que não vê há mais de seis meses? — rebati, com ironia. Mas, como sempre, ela apenas esboçou aquele sorriso frio, sem dizer nada, antes de gesticular para seu assistente e continuar andando.

Decidi ignorá-la. Já estava acostumado com isso. Georgiana Tsukasa não era o tipo de mãe que demonstrava afeto. E eu tinha coisas mais importantes para me preocupar do que com ela.

As palavras de Richard voltavam à minha mente. Por mais que ele falasse em tom de brincadeira, tinha razão. Eu precisava resolver essa situação com Rachel. Se ela continuasse resistindo, minha imagem começaria a ser questionada. E, mais do que isso, seria uma questão de orgulho. Se ninguém conseguiria expulsá-la, eu faria isso pessoalmente.


Na manhã de segunda, Rachel e eu caminhávamos juntos para o colégio, conversando animadamente, como de costume

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Na manhã de segunda, Rachel e eu caminhávamos juntos para o colégio, conversando animadamente, como de costume. Antes de chegarmos aos portões, ela fez questão de reforçar com insistência que seria melhor não demonstrarmos nossa amizade ali dentro. Eu não gostava da ideia, mas entendia o motivo, e, no fundo, só podia agradecer por isso.

— E essa mochila nova? — perguntei, apontando para o item que eu nunca tinha visto antes.

— Minha mãe me deu. É uma extravagância, né? — respondeu com um sorriso satisfeito, o orgulho pelo presente evidente. Eu sorri de volta, tentando não pensar em como a situação dela em casa poderia estar apertada, com sua mãe gastando dinheiro com algo assim.

Quando chegamos ao ponto onde  nos separávamos, ela me deu um aceno despreocupado.

— Vou na frente. Se cuida! — despediu-se, disparando em uma corrida, como se nada pudesse atingi-la.

As primeiras aulas passaram sem grandes novidades, e tudo parecia estar tranquilo demais para uma segunda-feira. Até Rachel parecia ter sido deixada em paz por boa parte do dia. Na hora do intervalo, a partir da mesa onde eu estava, a vi sentada sozinha, como de costume. Mandei uma mensagem para ela, e a observei pegar o celular de dentro da nova mochila... e foi quando Victor Tsukasa entrou em cena, do nada, parando ao lado dela com aquele seu jeito arrogante.

— O que é isso, uma tentativa de imitar as classes superiores? — disse ele, alto o suficiente para chamar a atenção de todo o refeitório. Ele pegou a mochila de Rachel, como se estivesse analisando uma coisa sem valor.

— Me devolve — pediu Rachel, em uma voz tão baixa que quase me irritei, não era o tipo de resposta que eu esperava dela. Mas ela não tentou pegar a mochila de volta, e Victor, com seu sorriso maldoso, começou a sacudir o objeto, despejando todo o material dela no chão como se fosse nada.

Eu senti meu corpo enrijecer, já esperando que Rachel reagisse. Qualquer um que a conhecesse sabia que ela não levava desaforo pra casa. Mas, para minha surpresa, ela respirou fundo e se abaixou para recolher suas coisas. Eu não entendia por que ela estava sendo tão passiva.

— Eu realmente odeio essas porcarias de liquidação — comentou Victor, pisando na mochila de couro branco, esfregando o sapato sujo com força. Depois, se virou para seus amigos e riu. — Vamos embora, preciso trocar de sapatos. Esses ficaram imundos agora.

Rachel, ainda ajoelhada no chão, olhou para sua mochila destruída, e o silêncio no refeitório era quase palpável. Todos assistiam à cena, esperando o que viria a seguir. Ela ficou parada por um segundo, mas então algo mudou em sua postura.

— Espera aí — disse ela, com a voz baixa e contida. Mas eu senti a fúria ali, logo debaixo da superfície. Ela se levantou, encarando Victor diretamente. Ele parou, surpreso, junto com o resto dos alunos.

— Você não passa de um cara mimado que nunca se esforçou por nada! Não seja tão convencido! — disparou Rachel, antes de desferir um soco tão forte que Victor caiu no chão, completamente atordoado.

A expressão no rosto dele era impagável, e o refeitório ficou em choque, como se o tempo tivesse parado.

— Escute bem, seu riquinho de merda — continuou ela, com a voz firme e decidida. — Isso é uma declaração de guerra. A partir de agora, não vou mais fugir, não vou me esconder. Me enfrente, se tiver coragem.

Rachel recolheu apressada o que restava de suas coisas, ergueu a cabeça e saiu do refeitório com uma dignidade que parecia intocável. Todos ficaram boquiabertos, inclusive eu.

Não me de FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora