Capítulo 4

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A RUA WEST VIRA DÉCIMA PRIMEIRA AVENIDA AO passar pelo píer 56, onde o tráfego rumo ao oeste deságua da 14 e vira para o norte. O grande Tahoe preto ficou preso no congestionamento, e sua buzina somou-se à frustração das demais que disparavam contra os prédios altos e ecoavam pelo rio. Arrastaram-se por nove quarteirões, viraram à esquerda na rua 23, depois viraram novamente para o norte, entrando na rua 12. Foram um pouco mais rápido do que uma caminhada até passarem por trás do centro de convenções Javits e voltaram a engarrafar outra vez no tráfego que vinha da 42 oeste. A 12 virava rodovia Miller e continuava lenta, por todo o caminho passando por cima da enorme confusão do velho pátio de manobras dos trens. A Miller se transformava na avenida Henry Hudson. Ainda era uma via lenta, mas a Henry era, tecnicamente, a 9A, que virava a rota 9 em Crotonville e levava a todos para o norte até Garrison. Uma linha reta, nenhuma curva, mas ainda estavam em Manhattan, presos no parque Riverside, mais ou menos meia hora antes de escaparem.

O processador de texto foi a pista principal. O cursor, piscando pacientemente no meio de uma palavra. A porta aberta e a bolsa abandonada eram convincentes, mas não definitivas. Quem trabalha em escritório pega suas coisas e fecha as portas, mas nem sempre. A secretária poderia simplesmente ter saído para o corredor e se envolvido com algum assunto, um papel timbrado ou um pedido de ajuda para operar a copiadora de alguém, esticando para um café e alguma boa fofoca sobre o encontro da noite anterior. Uma pessoa que achava que ficaria fora uns dois minutos poderia deixar a bolsa para trás e a porta aberta, e acabar ausente por meia hora. Mas ninguém deixa um trabalho aberto no computador sem salvar. Nem mesmo por um minuto. E foi o que aquela mulher fez. A máquina perguntou: DESEJA SALVAR ASALTERAÇÕES? O que significava que ela havia levantado da mesa sem clicar no ícone SALVAR, um hábito tão forte quanto respirar para as pessoas que passam os dias enfrentando

o software.

O que dava uma complexidade muito ruim à história toda. Reacher passou pelo outro salão da Grand Central, com um copo de meio litro de café preto que comprou numa máquina. Apertou o lacre para baixo e enfiou o rolo de notas no bolso. Era grosso o bastante para o que ele queria fazer. Voltou pelo caminho onde o trem de Croton esperava para sair.

O estacionamento da Henry Hudson distribui-se num emaranhado de rampas curvas em torno da rua 170, e as pistas para o norte surgiam novamente com placas indicado a Riverside. A mesma via, a mesma direção, nenhuma curva, mas a dinâmica complexa do tráfego pesado significa que, se um motorista reduz a velocidade para abaixo da média, toda a rodovia reduz radicalmente, com centenas de pessoas presas até bem atrás, tudo por causa de algum forasteiro que, mais à frente, ficara confuso por alguns instantes. O grande Tahoe preto teve que parar completamente diante do forte Washington e se viu reduzido a um lento anda e para ao longo de toda a ponte George Washington. A rodovia Riverside alarga-se e permite andar em terceira antes de as placas voltarem a indicar a Henry Hudson e o tráfego parar de novo na praça do pedágio. Esperaram na fila para pagar a quantia que os permitiria sair da ilha de Manhattan e seguir para o norte, através do Bronx.

Existem dois tipos de trens que seguem ao longo do rio Hudson, entre a Grand Central e a Croton-Harmon: os locais e os expressos. Os expressos não vão nem um pouco mais rápidos em termo de velocidade, mas param com menos frequência. Reduzem o tempo de viagem para em torno de 49 e 52 minutos.

Os locais param em todas as estações, e as paradas repetidas, as esperas e o tempo de aceleração fazem com que a viagem para qualquer lugar dure entre 65 e 73 minutos, o que dá à linha expressa uma vantagem de 24 minutos.

Reacher estava num local. Ele pagara 5,50 dólares por uma passagem só de ida, fora do horário de pico, e estava sentado de lado, num banco para três pessoas, ligado pelo excesso de café, a cabeça apoiada na janela, perguntando-se exatamente onde ia parar e o que faria lá quando chegasse. E se chegaria a tempo de fazer, de um jeito ou de outro, fosse lá o que fosse.

Alerta Final - Jack ReacherOnde histórias criam vida. Descubra agora