CHESTER STONE ESTAVA SOZINHO NO BANHEIRO do octogésimo oitavo andar. Tony o forçara a entrar lá. Não fisicamente. Ele apenas ficou parado e apontou em silêncio e Stone correu pelo carpete, vestindo a camiseta de baixo, a cueca, as meias pretas e os sapatos brilhantes nos pés. Tony então baixou o braço e parou de apontar, mas ordenou que ele ficasse lá e fechasse a porta.
Sons abafados vieram de fora, do escritório, e, após alguns minutos, os dois homens devem ter saído, pois Stone ouviu as portas se fechando e um ruído próximo do elevador se movimentando. Depois, tudo ficou escuro e em silêncio.
Ele sentou no chão do banheiro, as costas apoiadas na parede de granito, olhando para
o silêncio. A porta do banheiro não estava trancada. Ele sabia disso. Não ouvira nenhum clique ou barulho na maçaneta quando a porta foi fechada. Sentia frio. O chão era de pedras duras, e o frio atravessava o algodão fino da cueca. Começou a tremer. Sentia fome e sede.
Ouviu atentamente. Nada. Moveu-se para se levantar do chão e foi até a pia.
Abriu a torneira e voltou a escutar atentamente, por cima da água correndo.
Nada. Inclinou a cabeça e a bebeu. Os dentes tocaram o metal da torneira, e ele sentiu o gosto clorado da água da rede pública. Encheu a boca, sem engolir, deixando a água encharcar sua língua seca. Engoliu e fechou a torneira.
Esperou por uma hora. Uma hora inteira sentado no chão, olhando para a porta destrancada e ouvindo o silêncio. Sentia dor no ponto em que o cara o acertara. Uma dor aguda, onde o punho golpeou suas costelas com tudo. Osso contra osso, sólidos, colidindo. Depois, uma sensação penetrante de náusea vinda da barriga, onde o golpe o atingira. Manteve os olhos na porta, tentando abstrair da dor. O prédio emitia sons surdos e estrondos distantes, como se houvesse outras pessoas no mundo, mas que estavam muito distantes. Os elevadores,
o ar-condicionado, a água correndo pelos canos e a brisa batendo de leve nas janelas somavam-se e se cancelavam num sussurro baixo e confortável, um pouco aquém de se tornarem discerníveis. Ele pensou ter ouvido as portas do elevador abrindo e fechando, 88 andares abaixo, talvez, batidas fracas e graves vibrando para cima, ao longo dos trilhos.
Sentia frio, câimbra, fome, dor e medo. Ficou de pé, curvado pela câimbra e pela dor, escutou. Nada. Deslizou as solas de couro pelo piso de peDra. Ficou parado, com a mão na maçaneta. Ouviu com atenção. Nada ainda. Abriu a porta. O enorme escritório estava às escuras e em silêncio. Vazio. Atravessou o carpete e parou junto à porta que dava para a recepção. Agora, estava mais próximo da fileira de elevadores. Podia ouvir os carros assobiando para cima e para baixo pelos trilhos. Ouviu junto à porta. Nada. Abriu a porta. A recepção estava deserta, na penumbra. O carvalho tinha um brilho pálido, e o acabamento em cobre emitia alguns reflexos. Ouviu o barulho do motor da geladeira vindo da cozinha, à direita. Sentiu cheiro de café velho.
A porta para o corredor estava trancada. Uma porta grande e grossa, provavelmente à prova de fogo, conforme as rígidas leis municipais. Era revestida de carvalho claro, e dava para ver o brilho fosco do aço pela fresta onde ela encontrava a moldura. Mexeu na maçaneta, mas não conseguiu movê-la. Ficou diante da porta por um longo tempo, espiando o exterior
pela janelinha de vidro, a nove metros dos botões do elevador e da liberdade.
Voltou-se para o balcão.
Ficava na altura do peito, visto de frente. Atrás, tinha uma bancada como mesa, e a barreira na altura do peito era composta de pequenos compartimentos contendo material de escritório e pastas empilhadas de forma organizada. Sobre a bancada, havia um telefone diante da cadeira de Tony. O telefone era um aparelho complicado, com um fone do lado esquerdo e botões à direita, sob uma pequena janela retangular. A janela era um visor LCD cinza em que se lia: OFF. Ele pegou o telefone e não ouviu nada além do sangue pulsando em seu ouvido. Apertou as teclas aleatoriamente. Nada. Percorreu todo o teclado, passando o dedo da esquerda para a direita sobre cada tecla, procurando. Encontrou identificada como OPERAR.Pressionou, e a pequena tela mudou para DIGITE CÓDIGO. Apertou números aleatórios, e a tela voltou para OFF.
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Alerta Final - Jack Reacher
Action"Aventura, suspense e um final imprevisível. Essa é a mistura apresentada por Lee Child no seu novo lançamento no Brasil: 'Alerta Final'. Terceiro título com o protagonista Jack Reacher, ex-policial do exército, o livro figurou na lista de mais vend...