Capítulo 17

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REACHER RECEBERA O NOME DE BATISMO JACK do pai, um homem simples de New Hampshire, com uma aversão implacável por qualquer coisa enfeitada. Entrou na maternidade naquela terça-feira, fim de outubro, na manhã seguinte ao nascimento, entregou um pequeno buquê de flores para a esposa e disse a ela: vamos chamá-lo de Jack.

Nenhum nome do meio. Jack Reacher era o nome completo, e já estava assim na certidão de nascimento, pois ele passara no escrivão da companhia a caminho da enfermaria e

o sujeito assim registrara e enviara o comunicado por telex para a embaixada em Berlim. Outro cidadão dos Estados Unidos, nascido no exterior, filho de um soldado em serviço, este com o nome Jack-mais-nada-Reacher.

Sua mãe não fizera ressalvas. Amava o marido por seus instintos ascéticos, pois, sendo francesa, achava que os instintos davam a ele certa sensibilidade europeia que a fazia se sentir mais à vontade ao seu lado. Ela encontrara um enorme abismo entre a América e a Europa nessas décadas pós-guerra. A riqueza e o excesso da América contrastavam desconfortavelmente com a exaustão e a pobreza da Europa. Mas seu próprio cidadão de New Hampshire não tinha qualquer aplicação para a riqueza e o excesso. Absolutamente nenhuma. Gostava das coisas mais simples, o que lhe era perfeitamente aceitável, mesmo que isso afetasse até os nomes de seus filhos.

Ele batizara o primogênito de Joe. Nada de Joseph, apenas Joe. Nenhum nome do meio. Ela amava o menino, é claro, mas o nome era difícil para ela. Era muito curto e abrupto, e ela brigava com o J inicial devido ao sotaque. Saía como ZH. Como se o garoto se chamasse Zhoe. Jack era bem melhor. O sotaque fazia com que dissesse Jacques, um nome francês muito antigo e tradicional. Traduzido para o inglês, significava James. Particularmente, ela sempre pensara no segundo filho como James.

Paradoxalmente, ninguém nunca o chamou pelo primeiro nome. Ninguém sabia como isso aconteceu, mas Joe sempre foi chamado de Joe e Jack sempre foi chamado de Reacher. Ela mesma o chamava assim, o tempo todo. Não fazia ideia do motivo. Colocava a cabeça para fora da janela de algum bangalô de serviço e gritava: Zhoe! Venha almoçar! E traga Reacher com você! E seus dois meninos adoráveis corriam para dentro para comer.

Exatamente a mesma coisa acontecera na escola. Era mesmo a lembrança mais antiga de Reacher. Ele fora um garoto sério, responsável, e se sentia confuso porque seus nomes eram invertidos. Seu irmão era chamado pelo primeiro nome primeiro e pelo último em último. Ele não. Num jogo de softball no quintal da escola, o garoto que era dono do taco escolhia os lados. Virava-se para os irmãos e chamava: quero Joe e Reacher. Todos os garotos faziam a mesma coisa. Os professores também. Era chamado de Reacher desde o jardim de infância. E, de algum modo, o nome viajou com ele. Como qualquer filho de militar, trocou de escola dezenas de vezes. No primeiro dia, num lugar novo em algum lugar, às vezes até em outro continente, algum novo professor gritava venha aqui, Reacher! Ele se acostumou rapidamente e não tinha problema algum em passar a vida por trás de um nome com apenas uma palavra. Ele era Reacher, sempre fora e sempre seria, para todo mundo. A primeira garota com quem saiu, uma morena alta, se aproximou timidamente dele e perguntou seu nome. Reacher, respondeu ele. Todos os amores de sua vida o chamaram assim. Mmm, Reacher, eu te amo, sussurraram em seu ouvido. Todas elas. A própria Jodie fizera exatamente a mesma coisa. Ele aparecera no alto da escada de cimento no quintal de Leon, ela olhou para cima e disse olá, Reacher. Após 15 longos anos, ela ainda sabia exatamente como ele era chamado.

Mas não o chamara de Reacher no celular. Ele apertou o botão, disse alô, e ela respondeu, hi, Jack [oi, Jack], Entrou por seu ouvido como uma sirene. Ele então perguntou onde você está?, e ela pareceu tão tensa que ele entrou em pânico, sua mente disparou e, por um segundo, ele não percebeu exatamente o que ela estava lhe dizendo.

Alerta Final - Jack ReacherOnde histórias criam vida. Descubra agora