Capítulo 6

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HOOK HOBIE ESTAVA SOZINHO EM SUA SALA, ouvindo os ruídos distantes do prédio gigantesco, no octogésimo oitavo andar, pensando intensamente, mudando os planos. Ele não era um cara inflexível. Orgulhavase disso. Admirava a maneira como era capaz de mudar e se adaptar, ouvir e aprender. Era o que lhe dava alguma vantagem, seu diferencial.

Tinha ido para o Vietnã praticamente sem ter ideia de suas habilidades.

Praticamente sem qualquer noção do que quer que fosse, pois era muito jovem. Não apenas jovem, mas proveniente de um ambiente repressivo, num subúrbio em que não havia nada que possibilitasse algum tipo de experiência.

O Vietnã o modificou. Poderia tê-lo quebrado. Como quebrou inúmeros outros. Para todos os lados, havia pessoas se despedaçando. E não eram apenas garotos como ele, mas mais velhos também, os profissionais de carreira, no Exército havia anos. O Vietnã caiu pesado sobre as pessoas, algumas foram esmagadas, outras não.

Ele não foi. Apenas olhava ao redor, mudava e se adaptava. Ouvia e aprendia.

Era fácil matar. Ele era um sujeito que nunca tinha visto nada morto antes, a não ser um bicho atropelado na estrada, esquilos, coelhos ou um gambá fedorento de vez em quando, nos caminhos cobertos de folhas perto de sua casa. No primeiro dia lá, viu oito corpos americanos. Era a patrulha terrestre, cuidadosamente triangulada pelos disparos dos morteiros. Oito homens, 29 pedaços, alguns bem grandes. Um momento de definição. Seus colegas ficaram em silêncio, alguns vomitaram e gemeram, abjetamente, sem conseguir acreditar. Ele se manteve intocado.

Começou como negociador. Todo mundo queria alguma coisa. Todos reclamando do que não tinham. Era absurdamente fácil. Tudo o que era preciso fazer era ouvir. Havia um cara que fumava, mas não bebia. Um outro que adorava cerveja, mas não fumava. Era pegar os cigarros de um e trocar pela cerveja do outro. Cobrar uma comissão. Guardar uma pequena parte para si mesmo. Tão fácil e óbvio que ele não acreditava que não fizessem por si mesmos. Ele não levava a coisa a sério, pois tinha certeza de que não ia durar.

Não ia demorar muito para que percebessem e o eliminassem como intermediário.

Mas jamais perceberam. Foi sua primeira lição. Ele era capaz de fazer coisas que outras pessoas não conseguiam. Conseguia ver o que outros não viam.

Então, prestou mais atenção. O que mais eles queriam? Um monte de coisas.

Garotas, comida, penicilina, discos, missões no acampamento base, mas nada de lavar latrinas. Botas, repelente de insetos, armas cromadas na cintura, orelhas secas dos corpos dos vietcongues como lembranças. Maconha, aspirina, heroína, agulhas limpas, missões seguras nos últimos cem dias de um período de serviço. Ele ouvia, aprendia, pesquisava e observava.

Até fazer seu grande lance. Fora um grande salto, para o qual sempre olhava com um imenso orgulho. Serviu como padrão para outros passos gigantescos que deu mais tarde. Veio em resposta a um par de problemas que ele vinha encarando. O primeiro era a trabalheira que aquilo tudo estava dando. Encontrar coisas físicas específicas às vezes era complicado. Encontrar garotas sem doenças ficara muito difícil, e virgens se tornara impossível.

Conseguir um suprimento contínuo de drogas era arriscado. Outras coisas eram tediosas. Armas bacanas, suvenires dos vietcongues, até mesmo botas decentes: tudo levava tempo para ser obtido. A rotação dos novos oficiais estava acabando com seus adorados negócios na zona segura longe dos combates.

O segundo problema era a competição. Estava começando a perceber que não era o único. Raro, mas não exclusivo. Outros caras estavam entrando no jogo.

Alerta Final - Jack ReacherOnde histórias criam vida. Descubra agora