Um olhar, sem palavras, mil atos

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Uma cerveja na mão, uma conversa bem lançada, uma noite bem passada com os amigos entre o calor das noitadas de verão, entre músicas e meninas bem dançadas.

_ Anda comigo. Anda lá Santiago. Uma dançinha vá. - ela agarrava a minha mão livre dançando mexidinha para me colar nela e eu, pé de chumbo ou secalhar falta de vontade mesmo agarrava bem a mão dela e puxava-a para um abraço.

Ela enroscava-se em mim, toda melada dos pequenos afetos que eu lhe dava e eu continuava a conversa com os rapazes, sempre com ela nos meus braços.

Ela como tantas outras apaixonara-se por mim ao primeiro "olá", ao primeiro sorriso solto da minha boca, á primeira boca foleira bem mandada que a fazia rir. E eu gostava de as fazer rir.

Eu não me apaixonava mas pegava sim. Se uma belezinha te cai nas mãos, quase dada, você não diz que não, por mais sóbrio que esteja.

Ah, mas nessa noite foi diferente. Nessa noite eu estava lá preparado para a parada que vinha, pronto para daqui a umas horas levar aquela morena que dançava no meio dos meus braços para casa, para passar uma boa noite, e ai chega um amigo dum amigo meu com uma moça entre os braços tal como eu. Mas ela era diferente em vez de se colar ela estava tentar se soltar.

_ Pára quieta um bocado Nic. - ela olhou para ele e revirou os olhos e eu ri, baixei a cabeça e ri. Primeira vez que uma rapariga me fazia rir e não o contrário.

_ Pessoal está aqui é a Nic. Nic este é o pessoal.

Ela olhou para todos os rapazes dum jeitinho daqueles que deixava baba pelo caminho. Um sorrisinho bonitinho encrava cada um de nós, e depois aqueles olhos dela pareciam ver para além de nós, parecia que lia a mente.

Ela olhou para mim e eu senti a minha respiração acelerar, beijei a cabeça da morena que estava nos meus braços numa tentativa falhada de tirar os meus olhos dos dela.

_ Pronto já tá. Posso voltar para lá, agora? - ela desafiou o moço.

_ Não gata. Vamos antes embora, que me dizes? - ele sorriu sedutor e ela devolveu o sorriso, deu um beijo no cantinho da boca dele e voltou para o meio da confusão que dançava.

O moço ficou aparvalhado e ficou ali á espera que ela se cansasse de dançar para a poder levar. E ninguém, nenhum de nós consegui tirar o olho daquela moça que ali tinha passado, nem mesmo eu.

_ Vou ao banheiro e depois vamos embora. - segredei ao ouvido da morena, meia hora depois.

Há saída da casa de banho dei de caras com ela.

Encostei-me na parede e esperei que ela parasse para falar comigo.

_ Tá indo embora? - ela perguntou divertida, mexendo o cabelo para o colocar todo só dum lado, e apoiando a mão na cintura.

Cara de menina decidida... acho que nunca tive uma não.

_ É. Estava a pensar em fazer isso mesmo. Nic? Isso é diminutivo de quê?- devolvi o sorriso com esperança ele tivesse o seu efeito.

_ Hum... Nicole, Santiago. - a forma como ela ciciou o meu nome fez me estremecer- Vais levar a moreninha para casa, né... Tá bom. Aproveita a noite.- disse flirtando enquanto se direcionava para o banheiro.

Agarrei no braço dela apanhando a de surpresa e a mim também pela minha inesperada impulsividade.

Ela olho para mim, de sobrancelha levantada, e inclinou a cabeça ligeiramente para o lado deixando descoberto o pescoço que me deu arrepios.

_ E tu, já tens companhia? - perguntei.

Ela baixou a cabeça, eu conseguia ver aquele sorriso aparecer nos seu lábios vermelhos enquanto que eu esperava uma resposta que eu já sabia.

E foi ai que aconteceu a melhor coisa daquela noite. Ela levantou a cabeça, atirando o cabelo comprido para o lado, aproximou-se de mim, ali naquele escurinho daquele cantinho, entre o banheiro e a pista de dança, a mão dela subiu para a minha nuca e ela olhou para mim e isso bastou. Sem palavras percebemo-nos, entendemo-nos e ligamo-nos.

Saímos dali os dois, juntos, sem despedidas sem desculpas.

E como alguém já antes teve a inteligência de dizer: "os poetas que me desculpem, mas nenhuma palavra substitui um olhar"


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