De tempos a tempos lembro me que eu podia ter agarrado a mão de outro rapaz qualquer porque de facto não me faltavam mãos para agarrar no dia em que nos conhecemos.
Lembro me do sol a bater-me no corpo, o calor abrasador daquele dia de verão. Lembro da música que pairava no ar, dos corpos ao meu redor a dançar. Lembro da cerveja fresca na minha mão, do sorriso rasgado nos meu lábios ao ver os meus amigos a divertirem-se. E lembro-me especialmente, daquela última noite no festival, da noite me que te conheci.
Lembro me de ti, das tuas marcas de bronze, do teu sorriso amistoso perante uma desconhecida que agarrava a tua mão para uma última dança, eu. Lembro-me de que mesmo sem nos conhecermos simpatizamos logo um com o outro. Um olhar trocado entre olhos fulminantes e embriagados foi tudo o que bastou para que sentíssemos que já nos conhecíamos á anos.
Podia ter sido a bebida a falar, eu pensei que tivesse sido. Mas depois daquela última noite no festival, como desconhecido, passamos muitas mais noites juntos a dançar, beber um copo ou outro, a conversar entre outras coisa, como conhecidos.
Foi um verão da minha vida em que eu dispensava todos os convites que recebia e esperava ansiosamente pelos teus.
Vivíamos em diferentes partes do nosso país. Eu a norte tu um pouco mais a sul. 3horas de viajem separavam nos diariamente. E eram as 3 horas mais longas da minha vida. Eram 3 horas que chegavam a parecer dias.
Mas para dizer a verdade contigo sempre foi assim. Para mim só aquele momento entre te ver e te ter nos meus braços pareciam horas. Aquele momento entre um beijo e outro pareciam demorar anos em dias de maior saudade.
Nunca pensamos que fosse resultar. Aliás nunca pensamos sequer em ter uma relação. Trocávamos beijos, abraços, carícias, vivíamos um para o outro, eramos um do outro no entanto nunca nos atrevemos a ver o que tínhamos como uma relação, tudo por causa da distância que nos separava talvez, ou talvez até porque não iria resultar longe ou perto.
Lembro que perfeitamente de um dia estarmos ao telefone, tu estavas num bar qualquer, dava para ouvir a confusão atrás de ti, a perseguir te para todo o lado e de, a meio da nossa conversa uma rapariga te interromper e tu me teres pedido para esperar um bocado. Não desligas te o telemóvel, deves apenas tê-lo tentado tapar com a mão. Foi a primeira vez que fiquei apreensiva em relação a "nós", foi a primeira vez que me vi a querer dizer, gritar, pelo telemóvel que eras meu, só meu, que eras MEU NAMORADO. Mas fiquei calada tentado ao máximo ouvir a conversas com a rapariga. Ela perguntou-te se querias sair dali, ir tomar um copo com ela num sitio mais sossegado - o meu coração encolheu-se todo, pensei em desligar, dizer "Adeus. Falamos depois.", mesmo que não me pudesses ouvir...- tu balbucias te qualquer coisa que eu não consegui entender para o telemóvel, para mim, talvez um "espera um bocado. Não desligues.", e logo de seguida ouvi te dizer á rapariga que por mais vontade que tivesses de sair dali não era com ela. Disseste lhe depois com muita calma que estava comprometido. Sorri ao ouvir o compromisso na sua voz.
E meses mais tarde, tu estavas a carregar caixotes para dentro de casa. E horas depois estavas a agarrar a minha mão para passarmos a rua e irmos jantar alguma coisa.
Um ano depois de nos conhecer-mos, um verão depois, meio ano de conversas pelo telefone e corridas na autoestrada para serem menos de três horas o tempo estimado para nos vermos, percebemos que o amor sempre encontra um meio termo, no nosso caso uma casa para nós os dois a uma hora de distância do norte e a uma hora de distância do sul, o nosso centro, o nosso meio.
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Unconnected
Romancehistorias livres. sem conexão. do ponto de vista dela. e do ponto de vista dele. espero que gostem ;)