O café estava vazio, calmo. Eu estava a antítese disso. Nervosa, agitada, cheia de ...energia, de uma forma estranha, ansiedade á mistura.
_Bom dia, posso ajuda-la?
_Bom dia. Sim, um rapaz com cabelo meio comprido está á minha espera...
_Há, sim, sim. Está mesmo. – ela sorriu para mim.- Acompanhe-me por favor.
Caminhamos para as traseiras daquele rústico e tão agradável café, para parar num cantinho ao ar livre que parecia o paraíso.
De repente vi-o. As suas costas compridas meio curvadas. O cabelo pelos ombros, encaracolado caía-lhe bem. Usava uma camisa branca as riscas verticais vermelhas e na cabeça tinha um chapéu.
Antes de chegarmos mais perto dele lembro me da empregada ter dito algo como:
_ Espero que não esteja tão nervosa quanto ele. – e alguma coisa dentro de mim riu.
Nervosismo era algo que me assistia, definitivamente, só não esperava que o assistisse a ele também, não era costume.
Antes que ele desse por mim fiquei ali a admira-lo por segundos. Fechei os olhos e tentei lembrar-me do seu rosto. Os seus olhos claros, o seu sorriso do bem, o seu nariz fofo, as suas expressões, as suas covinhas.
Toquei-lhe no ombro e ele saltou apanhado de surpresa.
_Pensei que já não vinhas. – disse-me meio envergonhado depois de me sentar.
Eu corei e não pude evitar desviar o olhar.
_Fiquei com medo até. – agarrou a minha mão e eu estremeci ao seu toque.
Uma onda de sensações, todas boas, elétricas, invadiu-me e eu senti o coração querer saltar-me, fugir-me pela boca.
Mania essa de todo o meu corpo e mente me querer abandonar nos melhores momentos.
_Medo de quê?- perguntei-lhe envergonhada entre trocas de olhares e goles no café.
Ele sorriu ainda mais envergonhado que eu. Mexeu no cabelo, ajeitou-o, pôs novamente no chapéu, mexeu-me nos anéis que tinha nos dedos, olhou para cima e torceu o nariz.
_Que não viesses. Que eu perdesse a oportunidade de, finalmente, te dizer tudo o que preciso de te dizer...
Olhei para ele, curiosa.
_Estou aqui. Não podia perder isto.
Ele riu-se. Ao fim de tantos anos tínhamos finalmente chegado a isto.
Respirou fundo e travou a respiração antes de começar a falar. Olhou-me nos olhos e ele sorriam mais que a sua boca ou a minha, brilhavam mais que o sol daquela tarde maravilhosa de primavera.
Lambeu os lábios de nervoso umas quantas vezes e apertou-me um pouco mais a mão entrelaçada na dele.
_Tu sabes que eu soube. Naquele preciso momento em que te vi pela primeira vez, tu sabes que eu soube que ias para sempre fazer parte da minha vida. Mas acho que nunca soubeste que eu também soube que ias, para sempre fazer parte de mim, aliás, a melhor parte de mim.
Ele soltou uma risada e eu escondia minha. A mão dele, que estava presa na chávena do café tremia descompassadamente, nervosa e ansiosamente.
_Eu sonhava contigo mesmo antes de te conhecer. Eu já sabia quem tu eras antes de te ter, como eras e tudo. Eu pensava que não havia mais nada que eu pudesse descobrir em ti e isso não me aborrecia nem me deixava de pé atrás, nem um bocadinho porque cada parte de ti maravilhava-me. Mas não sei, de cada vez que sorrias havia sempre algo novo. Ora o detalhe do teu dentinho meio torto ou a forma como o canto da tua boca se esconde ou até a covinha que ela forma quando te ris.
_De cada vez que te rias a tua risada era sempre diferente. Uma melodia para cada sentimento. E a tua cabeça, a forma como ela funciona, trabalha, enlouquece-me. E é tão bom descobrir as tuas preocupações e teorias, aprender contigo e ouvir-te. Ouvir-te é a melhor coisa. Os teus pés a pisar a madeira de levezinho durante a noite para ires buscar um copo de leite, as conversas que tens contigo mesma em segredo, as tuas cantorias no chuveiro, a tua respiração, os barulhos que fazes a comer, aquele sonzinho que fazes segundos antes de sorrires...eu podia ser cego e ainda saberia que és tu.
_E eu adoro, adoro ver-te ler, Ficas tão na tua, tão sozinha e feliz. Às vezes sinto ciúmes até dos teus livros, do quanto eles te fazem feliz, do quanto eles me põe a um canto contigo. Mas eu amo isto tudo. Isto e muito mais. Porra, eu gosto até da forma como o pão, chega a ser ridículo a imensidão de felicidade que sinto quanto de te vejo, penso em ti ou sinto o teu cheiro ou te ouço "Amor, anda cá. Beija-me. Mata-me só mais um bocado." Tu matas-me tanto, todos os dias e nem tens ideia do que fazes...
E entre a sua respiração, e pausas ele ia-se rindo, abanando a cabeça ainda que em negação daquela imensa paixão que nos enlouquecia aos dois.
Quando terminou olhou para mim e soltou um riso de desespero e olhou para mim, para o meu sorriso estampado em todo o lado, para a minha felicidade com ele, dele, para ele.
_Eu sei que não há nada pior que tarde de mais, e eu tenho passado os últimos anos a rezar para que connosco nunca seja tarde de mais para nada.
A respiração dele era acelerada e ele sorria, muito e ainda estava envergonhado.
_Nem mesmo para dizer o quanto eu te amo.
_Amo-te. – eu disse-lhe a rir-me, pela primeira vez.
_Amo-te tanto. – sussurrou baixinho, bem escondidinho para que eu pudesse ser a única a ouvir a mais pura e verdadeira das suas confissões, como sempre. Eu e só eu.
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Unconnected
Romancehistorias livres. sem conexão. do ponto de vista dela. e do ponto de vista dele. espero que gostem ;)