Capítulo 2

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Harry.

Naquele mesmo dia, eu subi os degraus da escada, ouvindo zumbidos altos a minha volta. Talvez eu tenha tomado mais do que duas cervejas.

"Nada com o que eu não esteja acostumado." pensei

Me sentei no chão da sala, observando as nuvens se formarem pela janela, conclui que não seria nenhuma surpresa se caísse mais um temporal naquela madrugada. Foi um longo inverno e todo mundo já comentava quais seriam os planos para o verão, mas eu não, eu só pensava que no verão teria que deixar as janelas abertas, e os vizinhos bisbilhotariam minha vida.

Eu preferia o Maine com toda a chuva e frio repentino. Portland, estava longe de ser a minha cidade favorita.

Ao meu lado, na mesa de centro, havia uma foto. Eu sorri ao perceber que era a fotografia de Maria. Ela era linda. Puxei a fotografia para mim e a apertei contra o meu peito. Me sentia culpado por não ter estado lá naquele dia, devia ter ficado com ela mesmo depois de termos brigado, nunca deveria ter deixado que ela dirigisse com toda aquela neve. Eu deveria ter morrido no lugar dela, uma pessoa como eu não merece estar aqui, não merece todo esse sofrimento.

Eu dormi ali mesmo, no chão da sala. Segurando a foto da Maria e me recusando a acreditar que ela havia me deixado.

[...]

No dia seguinte, eu caminhei a passos largos para o portão da universidade. A mochila sobre o meu ombro causava um dor dilacerante. A chuva, finalmente, resolveu dar uma trégua pela manhã, mas ainda assim fazia frio.

"Nada com o que eu, também, não esteja acostumado. " pensei.

Passei por todos os estudantes se cumprimentando, afinal era o primeiro dia de aula de muitos ali. Para mim não, era só mais um ano da faculdade. Não falei com ninguém, até porque mesmo se eu tentasse nenhum deles seria capaz de me entender. Somente quando eu estava subindo os primeiros degraus da escada é que me virei para encarar o chão. Aquilo era melancólico demais para mim. As paredes, a escada, os armários, todas aquelas pessoas, elas sabiam de tudo e isso era o que mais me deixava assustado.

-Harry.- Alguém gritou.

Eu me virei para o som da voz, e lá estava o meu melhor amigo.

Eu tentei sorrir para ele, mas acho que os meus lábios somente se curvaram.

-Espera aí, cara. -Avan disse.

Quando Avan se aproximou de mim, eu sorri pra ele.

-Estou feliz que esteja de volta. - Ele disse.

-Obrigado. Estou feliz por te ver aqui. - Eu disse.

Avan e eu ficamos olhando um pro outro sem saber o que dizer. Na verdade, eu sabia o que ele queria falar, porque quando ele começou a abrir sua boca, eu disse:

-Está tudo bem. Eu não quero palavras de consolo, Avan.

-Eu não...- Ele começou a dizer.- Tem que esquecer isso, Harry. Não ajuda no seu progresso.

Eu bufei.

- Eu não to a fim de saber de progresso algum.

Avan suspirou e olhou para o chão.

-Tudo bem, eu só...- Ele disse

-Eu sei. - Eu o interrompi. - Obrigado.

Avan assentiu e acendeu um cigarro. As vezes eu esquecia que a maioria dos meus amigos fumavam. Ele me ofereceu um, eu neguei. Ele sabia que eu ia negar, mas acho que ofereceu porque tinha o hábito de oferecer a Maria.


Nitro //h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora