Capítulo 5

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Harry.

Era sempre no final de tarde que eu decidia juntar o restante da minha sanidade mental para assistir o pôr do sol no Porto Garden. Aquele dia tinha sido extremamente exaustivo, e eu ainda não entendia bem o que estava sentindo. Eu estava confuso, com muita vontade de chorar, porque fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Eu pensava que já tinha superado aquela experiência, mas tudo indica que ainda faltava muito para superá-la.

Eu olhei para o mar a minha frente. O Porto Garden é, mais ou menos, um parque de Portland. Mais ou menos, porque ele parece um píer e tem uma vista maravilhosa do mar. Ao lado dele, é um parque. Tem aquelas coisas de lazer e bancos de piquenique. Eu fiz um piquenique uma vez ali, quando era mais novo e os meus pais se gostavam. Hoje em dia, não. Eles nem fazem mais questão da presença um do outro. E eu não faço mais questão de fazer piquenique.

O sol já estava se escondendo entre as montanhas, era um belo pôr do sol, e o melhor é que não tinha indícios de chuva naquele dia. O assoalho de madeira, sobre o qual eu estava sentado, parecia desgastado, mas eu não liguei.

O meu peito já estava tomado por aquela angústia que eu já conhecia, mas hoje era diferente. Porque parecia estar escondendo um novo sentimento.

Sem querer, eu me peguei lembrando do corredor de alunos. Me lembrei de como a menina me olhou com raiva e do quanto eu fiquei arrependido depois. Sua expressão me dizia que ela parecia mais irritada do que eu, e que também não fazia muita questão de estar ali. Que bom. Porque erámos dois.

Ela era diferente do que eu esperava de um pessoa natural de Portland. Ela tinha umas características fortes e não parecia nada com esses adoradores dessa cidade. Não que isso seja ruim, porque na verdade era muito bom. Ela tinha grandes olhos verdes e um cabelo ainda maior. Ela não havia nascido em Portland. Sei disso. Qualquer pessoa que preze a lógica nessa vida, poderá perceber isso. A forma como ela se vestia, a forma como ela me olhou com raiva. Aquilo não parecia nada com os imensos costumes que eu aprendi aqui. Mas também, pouco me importava de onde ela vinha, nunca importaria. Ela é só mais uma novata. E esse é só mais um ano. Não tem mais nada de diferente.

Eu olhei para o lado, as crianças começavam a recolher os seus brinquedos espalhados pelo gramado. Outras ainda corriam de seus pais. E algumas já preparavam aquela maldita crise de choro. Eu já fui uma delas. Na verdade, fui todas elas. Em tempos diferentes, em situações diferentes, mas fazendo a mesma coisa.

Isso foi o auge para uma lágrima começar a incomodar o meu olho. Eu a limpei bruscamente com medo de que alguém visse, mas já era tarde. Depois dessa lágrima, não deu pra conter o choro que estava preso na minha garganta. Eu não queria mais que fosse assim.

Eu me levantei do chão de madeira, e comecei a andar no meio das crianças. Eu podia ouvir o que os seus pais falavam. Pareciam sentir pena.

-Olhe só, ele é tão novo...E parece tão triste...

Era o que sempre eles falavam, mas tudo bem, era só mais um dia e só mais um monte de pessoas desocupadas. 


Nitro //h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora