Nitro //h.s

Capítulo 1

Nos dias de hoje...

Harry.

A neve caía cobrindo meus pés descalços, quando eu me sentei no chão coberto pelo gelo. Em outros tempos, eu teria reclamado pelas minhas roupas estarem encharcadas, mas agora eu não me importava mais, não tinha mais forças para isso.

Fazia mais ou menos um ano, desde do acidente ocorrido com a  Maria. Eu podia me lembrar claramente de como todas as pessoas ligaram para me avisar, mas já era tarde, eu acho. Me disseram que ela não conseguia pronunciar mais de uma palavra sem que sua boca enchesse de sangue.

 Eu passei noites acordado imaginando como teria sido se eu tivesse chegado antes, não sei se teria mudado alguma coisa, mas eu teria feito algo que ajudasse a minha namorada a sobreviver. Não que todas aquela pessoas em volta, na pista, não tivessem feito alguma coisa, elas fizeram, eu sei que sim, mas ainda me culpo por não ter estado lá.

Ela era uma jovem linda, tinha grandes olhos castanhos e um cabelo natural que eu gostava de arrumar em pequenas tranças. Eu tinha sorte de ter uma namorada como ela, e acho que ela sentia o mesmo em relação à mim. Nós tinhamos muitos amigos, por isso eu não via como alguém poderia fazer mal à ela. Foi cueldade. A minha mãe costuma dizer que as vezes ela só estava no lugar errado, na hora errada. Ás vezes eu gosto de acreditar que isso é verdade, mas no fundo eu sei que isso não passa de uma mentira para me acalmar. Se ela estivesse no lugar errado, na hora errada, deixariam ao menos o seu corpo para que pudessemos velar. Mas isso nunca aconteceu, porque sumiram com o corpo dela. Algumas pessoas, que estavam passando ali na estrada, me disseram que um cara encapuzado carregou ela, ainda inconsciente, até um carro e fugiu. Outras me dizem que o tal cara encapuzado, acabou, literalmente, com a sua vida ali mesmo na neve. Não sei em quem acreditar.

Depois daquele dia, eu nunca mais acreditei em ninguém como deveria. Todo mundo parecia ter uma versão diferente do que tinha acontecido e isso me deixava muito frustrado, porque eu a amava tanto que tinha medo de acreditar em uma coisa dessas.

A chuva começou a desatar, e eu me levantei com relutância e corri para o meu carro. Não fazia sentido mesmo continuar ali. Aquilo não a traria de volta, e mesmo com todas as minhas orações, eu sei que nada seria capaz de a trazer para mim novamente.