A Roda Sangrenta

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Nas travessas de uma avenida movimentada, havia uma pequena viela, cuja rua era coberta de estranhos aromas causados pela sujeira do esgoto. Era noite, por volta das nove horas, onde a única luz que se conseguia avistar era a que fugia da janela de uma pequena casa situada no final da via. A casa era humilde, pequena e velha, mas, dentro da moradia, havia uma família rica, se preparando para sair.

— Vamos rápido! Vamos! Vamos! Se apressem! Os lugares começam a fechar às onze! — disse a mulher que teria acabado de colocar seus brincos.

— Calma! Vai dar tempo amor. Se começar a se desesperar acabaremos esquecendo alguma coisa. — disse o Senhor Mafra, ainda colocando sua camiseta.

— Mamãe! Mamãe! Aonde nós vamos? — perguntou o filho mais novo do casal.

— Vamos sair para comer fofinho. Vá chamar seus irmãos para irmos logo. — falou a mãe em um tom doce.

Altair Mafra foi imediatamente para o quarto da irmã do meio, chamá-la, porém, foi expulso do local com palavras sujas e estúpidas. Então, se dirigiu para o quarto do irmão mais velho, o qual já estava acabando de se arrumar.

— Não ligue para sua irmã, ela só está zangada depois que terminou o namoro. — disse Nilton Mafra, consolando seu irmão mais novo.

Depois que todos já estavam prontos, se encontraram na sala de estar e foram em direção ao carro estacionado à frente da casa da família.

— Altair, vá pegar o guarda-chuva que esqueci na lavanderia, rápido! A previsão está falando que mais tarde irá chover. — pediu a Senhora Mafra ao seu filho mais novo, que foi correndo à lavanderia para pegar tal guarda-chuva.

Altair, com sua inocência infantil, voltou à sala de estar com o guarda-chuva aberto à sua frente, fingindo que o objeto era um escudo para desafiar seu pai a um duelo mortal.

— Cuidado filho... Dizem que abrir guarda-chuvas em lugares fechados atrai fantasmas. — brincou o pai com o menino, que logo fechou o guarda-chuva e o deu à sua mãe, mal sabendo que essa superstição não era apenas uma brincadeira.

— Vamos logo! — gritou a Senhora Mafra, já cansada de tanto esperar.

Logo, os membros da família Mafra saíram de sua casa e foram diretamente ao carro, mal se importando com o forte cheiro da ruela. O Senhor Mafra sentou-se no banco do motorista, acompanhado de sua esposa que estava no banco do passageiro e de seus três filhos no banco traseiro. A Senhora Mafra configurou o seu GPS para que ele levasse a família a um restaurante próximo. Em instantes, o carro já estaria na movimentada avenida, seguindo por um caminho desconhecido pelos componentes da parentela. O GPS os guiou até um beco comprido, deserto e totalmente escuro, onde apenas a fraca luz dos faróis permitia que o motorista tivesse uma pequena visão da travessa. Enquanto passavam pelo beco, viam algumas lojas totalmente destruídas, algumas placas de neon acesas caídas no chão da calçada e alguns ruídos que vinham de dentro das lojas e se propagavam pela viela inteira...

— Quem... Quem é ele, pai?— disse Mary Mafra, a filha do meio.

— Ele quem, filha? — perguntou o pai.

— Eu vi alguém! No GPS... — disse a menina, trêmula, fazendo com que todos dentro do carro olhassem para o aparelho. O GPS começou a falhar estranhamente, desligando e ligando a tela sucessivamente.

— Não é nada. Deve ser só o sinal que está ruim. — disse a mãe, pegando o dispositivo e realizando fortes tapas gradativamente, até que o problema se desfez.

— Não! Era um homem! Eu vi! Tenho certeza! — gritou desesperadamente a garota.

— Fica quieta! Pare de fazer escândalo! Era só um mau contato. — advertiu a mãe, que já teria perdido toda sua paciência com a ansiedade que tivera mais cedo.

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