Capítulo IV - Pelo Caminho do Riacho

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Caminhou pela margem do rio por mais algumas horas, não encontrou nada que servisse de abrigo. A noite chegou, e Roger não tinha mais o que fazer. Sentou a alguns metros da margem. Durante a caminhada, havia pegado uns gravetos e um pouco de mato seco, algo parecido com a serragem. Devia queimar bem, pensou Roger. Quando sentou e largou os gravetos, experimentou um enorme alívio. Aquilo o estava incomodando e ele nem se dava conta.

Sentar era bom. Os músculos de sua perna estavam doendo. Sua nuca havia melhorado, mas seu ombro direito ainda estava dolorido. Nada demais.

A noite havia chegado, e Roger enxergava com dificuldade. Não conseguia ver nenhuma espécie de lua, as árvores o atrapalhavam. Tinha que tentar fazer fogo.

Ele sabia – pelo menos na prática – como se fazia fogo com gravetos. Assistia a muita TV aos domingos. Pegou uma pequena ripa de madeira e a rachou no meio, mantendo uma parte da ripa ainda unida. Pôs uma pedra entre as duas partes que estavam separadas, para manter um espaço entre elas. Colocou o maço de serragem por baixo, em um pequeno espaço que havia sob a ripa. Encostou o graveto no vão formado pela ripa rachada, e começou a esfregar.

Era mais difícil do que ele imaginava. O fogo simplesmente não pegava. Ele sentia um cheiro de queimado, mas não via nenhuma fagulha. Estava muito cansado, e tentar fazer fogo estava sendo um esforço desumano. Desistiu. Seus braços estavam doendo muito, e o ombro direito só estava piorando com o esforço.

Não precisaria de fogo. Não havia encontrado nada para comer. O fogo seria apenas para seu próprio conforto. Não estava frio, e, portanto, não precisaria que o fogo lhe aquecesse. Esticou a mão e pegou uma planta que se parecia com uma samambaia deformada. Pegou os gravetos e a ripa que tinha usado para tentar fazer fogo e as amarrou com as plantas recém coletadas. No dia seguinte tentaria de novo, e não estava com paciência para procurar novos instrumentos para o trabalho. Aqueles estavam servindo bem, apesar de Roger ainda não ter conseguido nada; sabia que conseguiria, mais cedo ou mais tarde.

Levantou e foi até o riacho. Estava escuro, mas podia distinguir algumas formas no negrume. Urinou no riacho e ficou algum tempo ali, tomando água e lavando as mãos e o rosto. Voltou sem problemas para seu canto na imensa floresta.

Roger não pensava mais em como as coisas estavam difíceis, não ficava mais dilapidando isso em sua cabeça, era inútil. Também havia parado de pensar no que faria. Não sabia, e não ia saber até se deparar com algo realmente interessante. Ficaria andando pela floresta. O que mais poderia fazer? Ele, naquele momento, não tinha idéia. Sabia que no dia seguinte precisaria encontrar comida. Não daria para ficar muito mais tempo sem ela. Água não era mais o problema do momento. Mas comida realmente preocupava Roger. Não havia visto nada que parecesse comestível. Nenhum animal, nenhuma fruta, nada. Será que tinha vida além das árvores e dos alienígenas? Esperava que sim.

Pelo menos ali também não tinha nenhum mosquito para infernizá-lo. Conseguiria dormir em paz. O silêncio era quase perturbador. Se ouvia apenas o som do farfalhar das árvores, do vento, e do bendito riacho, que Roger não se afastaria, a não ser que encontrasse algo mais interessante.

Estava mais cansado do que podia esperar, e dormiu rapidamente.

Quando acordou, o sol já estava brilhando. Roger estava cansado e seu corpo doía mais que no dia anterior. Se levantou e foi até o riacho. Após estar preparado, ele pegou sua trouxa com os gravetos e continuou a acompanhar a água.

Estava sentindo falta do café da manhã, mas evitava pensar nisso. Pelo menos tinha água, e estava vivo. Por pouco tempo, se não encontrasse algo para comer.

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