Capítulo I - A Dor

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Era dia 6 de outubro, do ano 2007; uma sexta-feira. Na opinião de Roger Neville, o melhor dia da semana.

Trabalhar como técnico de computadores não era tão cansativo, contando-se ainda que Roger trabalhava dentro da loja, arrumando as máquinas dos clientes. Mesmo sendo assim, Roger se sentia cansado, um cansaço que vinha já de algumas semanas. Ele não sabia bem o motivo deste cansaço, mas achava que estava trabalhando demais, precisava de um descanso. Faltava menos de um mês para ele entrar de férias, e Roger contava nos dedos os dias restantes. Planejava passar no mínimo uma semana em Liverpool, onde seus pais moravam. O restante do tempo esperava conseguir ficar na sua casa, literalmente sem fazer nada. Gostaria de descansar, e para ele, só estaria completamente descansado se passasse no mínimo uma semana no sofá.

Há dois anos, seus pais haviam se mudado para Liverpool, mas Roger preferiu permanecer em Londres, na casa de seu tio. Seus pais não proibiram, afinal, Roger tinha vinte e seis anos quando eles partiram. Depois de poucos meses, Roger alugou um flat pequeno em Dollis Hill, onde conheceu Earl Sanders, seu vizinho.

Earl era uma pessoa agitada, nunca conseguia se manter parado em um lugar, e sempre que saía, levava Roger junto. Não que Roger não gostasse de sair, mas sair todos os dias era um pouco demais para ele. Por isso, temia que suas férias não fossem tão tranquilas como esperava.

Earl era vendedor de carros, mas havia sido despedido de seu último emprego, e há quase dois meses estava desempregado. Ele não se mostrava preocupado, pois seus pais lhe davam dinheiro e pagavam suas despesas. Earl era rico, e morava sozinho por opção. Era uma pessoa festeira, e costumava chegar bêbado em casa. Seus pais se cansaram, e começaram a regulá-lo. Earl não aguentou aquilo por muito tempo, e decidiu sair de casa. Não saiu brigado com seus pais, eles até acharam melhor, pois talvez, morando sozinho, o filho encontrasse juízo.

Os pais de Roger não tinham dinheiro, mas não deixariam o filho único passar necessidade. Em último caso, Roger iria para a casa do tio. Era um bom lugar, o tio era uma pessoa agradável, e sempre deixava Roger bem à vontade; entretanto, Roger faria o máximo para não ter que voltar para lá. Se voltasse, assinaria um atestado de incompetência. Vinte e oito anos e ainda depender dos familiares para sobreviver? Não. Definitivamente não.

Quando seus pais se mudaram, eles disseram que Roger não conseguiria sobreviver sozinho, e essas palavras renderam uma boa e longa discussão.

Agora, Roger se sentia exausto, e também incompetente. Não conseguira nada até aquele momento de sua vida, a não ser um Chevrolet Cavalier de quase dez anos de uso. Quase não o usava. Ia para o trabalho de metrô, que no caso era a melhor – e mais econômica – opção. O carro era apenas usado para sair à noite, ou ir a Liverpool.

Como de costume, toda sexta-feira Roger e Earl iam até um pub em Dollis Hill, tomar um pouco de cerveja. Roger adorava quando chegava esse momento da semana. Era extremamente relaxante. Sempre conseguiam a mesma mesa, que ficava junto à janela. Estava fazendo frio nas ruas, mas no pub era muito agradável.

- Conseguiu algum emprego? – perguntou Roger a Earl, que estava sentado à sua frente.

Earl era gordinho, e tinha cabelos loiros, que caiam teimosamente na sua testa, e ele sempre o retirava com um movimento displicente. Roger se perguntava o que levava uma pessoa a ter um corte daqueles. Roger preferia as coisas mais práticas. Sendo assim, optava manter os cabelos negros raspados. Nada muito curto, apenas o suficiente para não dar trabalho.

- Ainda não – respondeu Earl, tomando um gole de sua cerveja.

- Você por acaso procurou algum trabalho? Está cheio de emprego por aí. E só procurar.

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