Capítulo IX - O Sorriso

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Roger havia acordado na manhã seguinte, e não se lembrava se as luzes se apagaram a noite. Na verdade não sabia nem se era a manhã seguinte, mas seu relógio biológico dizia que devia ser.

Moveu-se vagarosamente olhando em volta. Todos estavam lá. As mulheres ainda dormiam, e os homens já estavam acordados. O Indiano olhava para o nada, e Claude o imitava. Aqueles dois pareciam estar com a cabeça em outro lugar.

O Indiano era o pior. Raramente desviava o olhar da parede a sua frente. Claude às vezes ainda dizia algo.

- Elas sempre dormem até mais tarde? – perguntou Roger, que achava muita coincidência apenas as mulheres continuarem dormindo.

- Todos os dias é assim. Talvez seja algum tipo de reação – respondeu prontamente Bruce.

Roger sentiu-se um pouco feliz por Bruce estar ali. Era a única pessoa que parecia se importar com algo. Sempre estava pronto para conversar, mesmo as outras pessoas não querendo. Para Roger, ele trazia um pouco de normalidade a situação.

- O que vocês fazem durante o dia? – questionou.

- Nada – Bruce disse simplesmente. – No princípio achei que não fosse suportar, mas então você passa a aceitar... é inevitável.

Roger sentiu-se um pouco inquieto ao pensar que ficaria por lá sem fazer absolutamente nada.

- Vocês não brigam?

- Não, pelo menos nunca presenciei nada parecido. Como pode perceber, ninguém fala muito. Acho que quanto mais você fica aqui, mais vai se esquecendo das coisas, mais vai ficando inativo, se entende o que quero dizer.

A inquietação de Roger aumentou.

Aquilo quase o fazia se coçar. Essa inatividade o assustava. Não podia se imaginar daquele modo... um tanto letárgico.

- Como você consegue viver aqui? – perguntou com a voz baixa.

Bruce deu um leve sorriso.

- Você se acostuma, caro Roger. Fique por aqui mais algum tempo e verá – fez uma pausa em que parecia estar organizando as coisas em sua cabeça, e para Roger Neville, ele pareceu estranhamente velho. Bruce era mais novo que seu pai, mas pareceu como se fosse no mínimo quinze anos mais velho. – No começo quer-se fazer qualquer coisa para ir embora, mas depois de algumas dores de cabeça, se percebe que nada pode ser feito. Maria acabou de sair dessa fase, percebeu como ela está abalada? Então, você fica muito abalado, mas sabe que não tem como voltar. Sua bela vida se foi, amigo. Não tem como tê-la de volta. Infelizmente. Acho que todos aqui dariam um dedo para sair daqui. Jesus! Daríamos à mão inteira, quem sabe até o braço. Mas não é assim que as coisas funcionam, meu caro. Estamos muito longe para Deus nos ajudar. Aqui quem manda é eles – Bruce apontou para o corredor vazio.

Roger ficou pensando um pouco no que acabara de ouvir.

Ainda não tinha chegado nesse estágio em que Bruce e os outros estavam, mas sabia que chegaria. Como ele disse, após algum tempo, você percebe que não tem mais volta. Onde havia se metido? Pensou achando um pouco de graça. Não podia ser possível, ele estava em outro planeta, e provavelmente apodreceria lá. A não ser que os alienígenas encontrassem alguma forma de prolongar suas vidas para fazerem mais e mais experiências.

Logo no começo das coisas, achou que estava sonhando ou algo do tipo, que tudo estava envolvido em um manto embaçado. Mas já fazia algum tempo que percebera que aquilo pelo que estava passando era real. E pensar que passaria o resto dos dias – excetuando-se a hipótese de que quando atingisse um ponto de ser semideus, voltasse a Terra – naquele lamentável estado, o deixava deprimido.

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