Capítulo VI - Do Lado de Dentro

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Quando chegaram à caverna, ainda estava de dia.

Amanda não disse nada, e entrou direto. Estava emburrada, fazia movimentos bruscos e quase deixou quebrar à "cumbuca" com a qual fazia chá. Colocou dois peixes no cavalete para assar. Ela, como de costume, não estava olhando para Roger (fazia isso sempre que uma pequena desavença surgia entre eles).

Ele não se importava muito. Estava mais preocupado com o que faria a seguir. Amanda tinha um humor estranho, e Roger estava começando a entendê-lo. Ela queria, e ao mesmo tempo não queria sair de lá, e esse impasse a estava dilacerando. Amanda queria ir embora, sabia que era o certo, mas alguma coisa dentro dela a impedia de se entregar. Alguma coisa em seu interior a segurava.

Roger não tinha certeza se suas suposições estavam certas, mas apostava que sim.

Mesmo sabendo que Amanda estava amuada e que uma luta estava acontecendo dentro dela, Roger tinha que tentar persuadi-la de que o melhor era uma tentativa de fuga. Ficar não adiantaria de nada, tinham que ao menos tentar. Gostaria que Amanda estivesse do seu lado, que estivesse com ele quando tentasse algo. Contudo, se ela estivesse irredutível, ele iria mesmo assim. Retirou esse pensamento. Não podia deixá-la. Viu agora que não seria capaz de deixá-la para trás.

- Amanda, gostaria de falar com você – disse de forma um tanto hesitante, mas segura.

- Pode falar. Estou ouvindo – não havia rancor em sua voz.

- Gostaria que você não ficasse chateada comigo. Só estou tentando nos tirar daqui.

Ela o fitou com uma grande profundidade, e se Roger não tivesse se concentrado, certamente teria desviado o olhar.

- Sei disso. E saiba que não estou chateada. Apesar de parecer. Esse é meu jeito – ela baixou a cabeça, e Roger sentiu-se um pouco aliviado. – Sei que temos que sair daqui, eu sei! Mas tenho medo. Não quero que nos peguem. Se seguirmos seu plano, que nem sei qual é ou se existe, seremos pegos. Posso sentir isso. Não tem como sair. Estamos em outro planeta, Roger! Pense um pouco nisso antes de fazer algo estúpido.

Apesar das palavras de Amanda serem duras e até chegarem a ofendê-lo, Roger não conseguiu sentir raiva; por um simples motivo: o que ela dizia era a mais pura verdade.

- Mas saiba – ela continuou -, que vou te seguir. Não importa aonde vá, se terá um plano ou não, vou te seguir. Provavelmente estarei entregando meu pescoço ao carrasco – ela riu daquele modo que Roger tanto gostava, e ele sentiu vontade de chorar. Uma vontade tola e infundada. Segurou-se. – Mesmo com tudo contra, e sabendo que você não vai ter nenhum plano seguro... Não é nada contra você, é que não tem como ter um plano seguro. Me corrija se eu estiver errada, mas você está pensando em entrar lá a força e fazer qualquer coisa sem pé nem cabeça.

Roger fez menção de responder, mas Amanda o impediu com um gesto.

- Mesmo sendo assim – ela sorriu docemente -, com tudo contra nós, eu te acompanho – seu sorriso se alargou, e Roger sentiu uma alegria imensa.

Um problema a menos. Amanda iria acompanhá-lo. Roger agora podia pensar em jeito de sair daquele lugar maldito.

Amanda estava falando a verdade quando disse que provavelmente Roger entraria na base alienígena a força, e que uma vez lá dentro, tentaria de tudo para sair daquele planeta. Não tinha como traçar um plano do que fazer quando entrasse. Não tinha idéia do que havia dentro da base.

Roger Neville estava frustrado. Não tinha como planejar algo, era inconcebível.

Entraria na base, e então que Deus o ajudasse. Não ia mais ficar perdendo tempo nem ficando nervoso tentando pensar em como agir. Iria invadir a base e tentar voltar para casa.

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