Capítulo VIII - Do Outro Lado do Vidro

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Não estava na caverna. Não estava no corredor.

Logo que despertou, Roger pensou que estava revivendo os momentos na nave.

O cheiro de éter e cloro era forte, e ele via apenas aquela claridade. Porém, após os primeiros instantes, tudo voltou a ele. Tudo o que havia acontecido.

Enxergava normalmente, a visão turva tinha sido apenas momentânea.

Estava na cela.

Ela era clara como os corredores do andar de cima. Olhou ao redor. Não passava de um cômodo fechado por uma parede de vidro.

As pessoas estavam lá, e ao seu lado, de cabeça baixa, estava Amanda, abraçada aos próprios joelhos. Roger não sabia se estava dormindo ou acordada. Mas ao vê-la, Roger sentiu-se aliviado.

Roger e Amanda tinham sido capturados.

Satisfeito agora?Veja o que conseguiu.

A culpa era sua. Ele insistiu para entrarem. Se fosse por Amanda, estariam agora na segurança da caverna. Não adiantou tentar libertar aquelas pessoas. Tinha sido por pouco. Se o alienígena não tivesse aparecido naquele momento, as coisas poderiam ter sido diferentes.

Roger não fazia o tipo que se arrepende de seus atos; ele tinha que tentar salvar aquelas pessoas. Ser capturado era um risco que ele se dispôs a correr. Fez o certo, mas nada saiu como o planejado. Agora estavam aprisionados... junto com aqueles que tentaram salvar.

O grande problema era Amanda. Ele a colocara ali, e agora, teve a impressão de que no fundo sabia que algo parecido acabaria acontecendo.

Ele tinha pena dela, e por um lado, estava arrependido de não ter dado a atenção devida às suas palavras.

Entraram na base e foram pegos. Era o risco que estavam correndo. Deu errado, o que mais ele podia fazer?

Não era simples assim.

Mesmo Amanda entrando por vontade própria, Roger se sentia culpado pelo resultado final das coisas.

Droga! Eles eram livres. Não tinham a mínima chance de voltar para Terra, mas eram livres... E estavam vivos... E viveriam.

Agora eram apenas mais dois condenados.

Roger notou que mesmo após todos aqueles dias, ainda estava confuso. Os pensamentos se contradiziam às vezes, e ele dificilmente chegava a alguma conclusão. Céus! Como queria voltar para casa.

O cansaço o atingiu.

Não o cansaço físico, mas sim o mental.

Aquela situação o estava levando aos seus próprios limites, e ele nem se dera conta disso.

Estalou o pescoço e coçou a barba.

Finalmente olhou com mais atenção o lugar onde estava.

Era uma cela. Três paredes de concreto e uma de vidro. A porta estava ali, no lado esquerdo. Além, tinha um corredor, com uma porta a direita, que devia ser uma espécie de sala que os alienígenas ficavam; outra a esquerda, que era a porta de acesso à sala de exames. No fim do corredor, onde as luzes eram baixas, havia outra porta, que Roger nem imaginava o destino.

Além dele próprio e Amanda, havia mais seis pessoas na cela.

Todos estavam encostados na outra parede, sentados no chão, desviando os olhos do olhar de Roger. Todos vestiam as roupas extraterrestres, entretanto, azuis.

O primeiro era o gordinho que chegou com eles até o fim da linha. Ele era calvo, mas alguns fios povoavam o alto da cabeça. Devia ter passado dos quarenta anos, e tinha mais rugas do que devia.

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