Capítulo 16

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Entrei no banheiro e liguei a ducha, deixando a água morna cair em minhas costas. Fechei os olhos apoiando as duas mãos na parede , o sangue das vítimas em meu corpo descia com a água pelo azulejo branco até o ralo. Virei-me olhando o Box embaçado pela umidade e fiquei pensando em tudo que já tinha vivido em apenas 17 anos de vida.

De repente uma mão pálida bateu contra o Box deslizado e marcando o vidro com sangue. Afastei-me e desliguei a ducha olhando para frente com os olhos arregalados. A música da caixinha que tinha jogado no lago começou a tocar alta e clara , meu coração disparou e eu sacudi a cabeça na esperança que o som parasse, sem sucesso.

Abri o Box e peguei minha toalha olhando a volta procurando de onde vinha o toque.

"Dorme filhinho... Gabriel, Gabriel ... Tem que aprender a dançar, não é mesmo porquinho?"

Vozes soavam pelo local em várias entonações e formas. Saí do banheiro caminhando até o quarto e paralisei, meus músculos pareciam ter congelado. A minha frente , um garoto encurvado , cabelos ruivos e roupas ensanguentadas cantava uma canção de ninar acoplada com as falas "principais" de todos que eu matei.

O menino ergueu os olhos para mim, eles eram negros e vazios , e ergueu a blusa mostrando um corte vertical na barriga. Minha respiração se acelerou, meus olhos piscavam com maior frequencia , não queria ver aquilo. Aquela imagem na minha frente não podia ser real, não era real!

Algo se mexia na barriga do garoto como se quisesse sair, e em poucos segundos vários corvos voaram para fora em minha direção. Abaixei-me protegendo minha cabeça com as mãos.

___ Não é real... Não é real... – fiquei sussurrando para mim mesmo com os olhos fechados.

Senti alguém tocar em meu rosto, um toque suave e delicado. Abri os olhos vendo Eloísie e respirei fundo.

___ Eu... Eu estou bem , Eloísie. Eu .... Não ... Não estou bem. – lagrimas escorreram de meus olhos e ela as secou com a ponta dos dedos.

___ Vai ficar tudo bem , Gabriel. – falou ela olhando em meus olhos e beijou suavemente minha testa voltando a me olhar.

Tudo pareceu desaparecer naquele momento, as vozes, as conturbações ... Ela tocou os lábios nos meus, fechei os olhos olhos sentindo o beijo dela e o retribui. Naquele momento eu percebi , que minha vida toda tinha sido movida a base do ódio , rejeição , humilhações. Eu era solitário e triste, guardava tudo dentro de mim como um "baú humano" e isso me consumia. E tudo que eu precisava... Tudo o que eu precisava nesse tempo todo, era de uma demonstração de amor.


Diário de um psicoloucoOnde histórias criam vida. Descubra agora