Capítulo 5

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Abri os olhos subitamente cuspindo no chão ao lado a água que havia engolido da piscina. Estava deitado em um colchão que fora colocado sobre o piso bruto ,em uma sala pequena e fechada , e uma escada de madeira levava a algum lugar na superfície.

Sentada ao meu lado , estava Eloísie. Olhando-me sorrindo levemente, seus cachos rebeldes caíam no rosto e ao me ver acordar, ela sentou-se no colchão ao meu lado.

___ Onde estou? - perguntei olhando para ela. Aquele largo sorriso no rosto dela , de alguma forma me irritava.

___ No porão da minha casa. Eu te tirei da água, e como era a última aula , te trouxe para casa. E você é magrinho! Não é tão pesado.

___ Na sua casa? Quem é você , garota? Viu minhas mãos sujas de sangue na escola e não se espantou, e fica "cuidando" de mim...

___ Eu sou igual a você, em parte. Moro no caminho da antiga estrada principal da cidade, meus pais compraram essa casa antiga que estava por um preço baixo. Minha mãe é cirurgiã e meu pai médico legista , eles são "ricos" demais para notar que eu existo. - de repente vi a expressão do rosto dela mudar, dando lugar a um ar visivelmente triste. - Eu te vi sentado na terra , em um dia chuvoso há 7 anos atrás. Vi que morava naquele trailer... e ... - ela parou a fala no meio respirando fundo.

___ E... ? - puxei para que ela continuasse . Ela morava perto do trailer , isso explicava como ela me esperava na estrada toda manhã. Mas, o que ela quis dizer em "Ser em parte igual a mim"? Ela não sabia o que estava falando...

___ E uma noite eu fui até lá e te espiei pela janela... Vi um homem te bater...

___ Esse homem era meu pai. - falei levantando-me. - E você se diz igual a mim, mas já te vi muitas vezes com um grande sorriso no rosto sendo que eu não sou capaz desta dádiva.

___ Não é necessário guardar tudo pra si, sabia? Por isso é tão pesado por dentro.

Apenas segui caminhando em direção às escadas ignorando a fala dela. Como se eu quisesse guardar , como se aquilo tudo não me machucasse.

___ E quanto as suas mãos, só você pode resolver os seus problemas! - a ouvir gritar enquanto saia do recinto.

***

Cheguei em casa tarde, eram quase dez da noite. Entrei e caminhei em direção ao meu quarto , mas meu pai me barrou na porta segurando um cigarro entre os dedos.

___ Onde estava garoto? - perguntou ele coçando os olhos vermelhos com a parte de trás na mão.

___ Não te interessa! - respondi tentando passas por ele mas ele me barrava me empurrando com a barriga.

___ Olha como fala com o seu pai! - ele segurou-me pela orelha e me jogou contra a parede. Naquele momento eu me senti como se tivesse novamente 6 anos de idade.

Ele deu uma tragada no cigarro e caminhou até mim, segurando o meu rosto.

___ Você deve respeitar o seu adorado pai, está me ouvindo?! - ele virou a parte que queimava do fumo para o meu rosto a  pressionou em minha testa.

Gritei de dor e o empurrei o encarando.

___ Eu não posso respeitar alguém que não considero mais como o meu pai. - falei e entrei no meu quarto trancando a porta.

Por mais ou menos cinco minutos ouvi ele gritar e bater na porta. Sentei-me na cama respirando fundo até tudo se acalmar.

Era muita coisa acumulada em minha mente, mesmo no silêncio do meu quarto , eu parecia ouvir vozes , ver imagens. Passei as mãos em meu rosto tentando me acalmar , mas tudo que eu sofri parecia estar subindo para minha cabeça me atormentando , me modificando.

Caminhei até a janela vendo um rachado duplo na mesma , puxei o vidro quebrado o olhando. Olhando a ponta afiada que formava na unção das duas rachaduras. A imagem de meu pai segurando a garrafa quebrada e minha mãe morta ao chão veio à minha mente como um flash e ainda olhando o pedaço de vidro , decidi que iria por um ponto final em meu sofrimento.

Diário de um psicoloucoOnde histórias criam vida. Descubra agora